Quinta, 19 de julho de 2012
Por
Ivan de Carvalho
Há uma forte expectativa e indisfarçável tensão
política enquanto se aguarda uma decisão na ação de reintegração de posse
ajuizada pela Procuradoria Jurídica da Assembléia Legislativa [da Bahia], cujo chefe,
procurador Graciliano Bonfim, recebeu para isto recomendação do presidente da
Casa, Marcelo Nilo. A ação, com pedido de medida liminar, tem como alvo os
professores estaduais que, sob o comando da APLB-Sindicato, ocupam uma área do
principal prédio do complexo de edifícios do Poder Legislativo.
Já abordei o assunto aqui,
mas cabem novas observações. O juiz da Fazenda Pública estadual responsável
pelo processo parece bem consciente não só dos aspectos jurídicos, mas também
da densidade política do caso, bem como da possibilidade de consequências
políticas e até materiais de sua decisão. Assim, parece agir com redobrada
cautela, o que explica o fato de ainda não haver concedido nem negado a liminar
e de haver, até surpreendendo as partes, determinado uma inspeção no local, a
ser realizada hoje.
O juiz estuda o terreno. O grau de radicalização
a que chegou o movimento conduzido pela APLB cria a hipótese de trabalho de
ocorrência, no momento da retirada forçada sob força policial (quando lhes foi
dado pela Assembléia, prazo de 15 horas, já vencido, os grevistas avisaram que
não vão sair) de incidentes e cenas que podem fazer a delícia de fotógrafos e
cinegrafistas.
Marcelo Nilo pode dizer à exaustão que é o dono
solitário da iniciativa de forçar a retirada mediante ordem judicial – mas ninguém
acredita. Seria colocar um problema alheia no próprio colo. A convicção
generalizada é de que toda a ação atende a um pedido do Executivo, que seria
irrecusável, tendo em vista a sintonia fina que o presidente da Assembléia faz
questão de ter com o governador.
A análise política geral que se faz é de que a
greve do magistério estadual está causando um enorme estrago para o conceito do
governo junto à opinião pública, no interior e na capital. A greve da Polícia
Militar e a insuficiência de estrutura para enfrentar a seca foram também
causas específicas de tal desgaste, junto com as dificuldades orçamentárias que
o Estado da Bahia atravessa. Mas em Salvador o desgaste é sabidamente mais
difícil de reverter e, segundo divulgou ontem o Blog do Noblat, a
“desaprovação” do governo estadual em Salvador é de 58 por cento, segundo
pesquisa encomendada pelo prefeito João Henrique, do PP.
Há um outro problema nessa
história. Ao decidir agir para eliminar o foco grevista representado pela
“ocupação da Assembléia”, o presidente Marcelo Nilo está tentando, com grande
desgaste para si mesmo, resolver um problema para Executivo. Isto só faz
aumentar seu crédito junto ao governo, que já era grande por causa de fatos
anteriores.
Além disso, segundo tem
declarado, Marcelo Nilo é candidato a governador “se tiver o apoio do
governador Jaques Wagner” e há uma chance real de que participe, em alguma
posição, da chapa majoritária (governador, vice e um senador) situacionista em
2014. Mas isto depende de obter seu quarto mandato consecutivo de presidente. E
um de seus trunfos para isso é o apoio da oposição, que se arrisca agora até a
perder, visto que a oposicão têm apoiado os professores em greve e se
manifestou rigidamente contrária à desocupação forçada da Assembléia. Enquanto
isso, os deputados governistas evaporaram. Os únicos apoios recebidos vieram em
e-mail do deputado estadual Mário Negromonte Jr. e em telefonema do deputado
federal Lúcio Vieira Lima, que não é governista.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
