Sexta, 6 de julho de 2012
Por Ivan de Carvalho

Em tempos antigos, os militantes do PC do B eram
obrigados a estudar a Bíblia para aprender a contestá-la. Era um treinamento
político. Isto me foi contado por um ex-militante do partido, que hoje não tem
mais nenhuma relação com a sigla nem com a ideologia que ela supostamente
representa. É livre pensador e os conhecimentos bíblicos que detém vieram
desses estudos compulsórios.
Aliás, vale abrir parêntesis para dizer que, no
PC do B, as coisas continuam sendo compulsórias e o comando continua sendo
centralizado. É o que os mais sofisticados, fora do PC do B – dentro é difícil
ser sofisticado – chamariam de “centralismo democrático”, que não tem nada de
democrático e tudo tem de centralismo.
Por conta dessa compulsoriedade e desse
centralismo, foi eliminada a candidatura da deputada federal Alice Portugal a
prefeita de Salvador sem que ela sequer houvesse sido consultada. Uma
candidatura que vinha sendo afirmada e reafirmada sem parar durante muitos
meses pelo partido, enfaticamente confirmada poucos dias antes da eliminação
pelo presidente estadual da legenda, deputado federal Daniel Almeida. E quem
tomou a decisão final, que fez a agulha magnética do partido virar biruta e dar
uma rabeada de 180 graus? O deputado-presidente Daniel Almeida. O comando é
dele.
Fechando os parêntesis e voltando aos
relacionamentos religiosos do PC do B. Se o partido, ao estudar a Bíblia,
houvesse lido com atenção o profeta Isaías, não teria levado seus filiados a
tanto esforço e sacrifício, pois saberia de antemão ser tudo isso inútil. Teria
encontrado lá, escrita há bem mais que dois milênios, uma frase simples,
definitiva: “E quebrou-se o martelo de toda a Terra”. Para bom entendedor, meia
palavra basta. Não precisava o profeta falar na foice. Mas o PC do B não era
bom entendedor.
Bem, quanto à romaria ao Bonfim, algumas coisas
valem um registro, ressalvando-se que, segundo a Constituição, a liberdade
religiosa é intocável, assim como a de opinião. Dito isto, fica-se à vontade
para comentar. A candidata a vice-prefeita na chapa do petista Pelegrino,
vereadora Olívia Santana, do PC do B, foi à missa e comungou, segundo o site
Política Livre. Mas ela é do PC do B e o partido tem o ateísmo como um de seus
princípios filosóficos mais elementares e fundamentais. Além disso, havia
notícias de que ela professava a religião do candomblé. A mim não importa, mas
o eleitor, ou uma parte do eleitorado, talvez queira saber: é ateia, do
candomblé ou católica?
E quanto a Pelegrino, ficou discretamente na nave
da igreja. Mas se queria pedir ou dar graças ao Senhor do Bonfim, não tinha
motivos para que sua subida à colina fosse marcada, na descrição de Raul
Monteiro, “pelo espocar de fogos e dezenas de rojões”, como se fosse ele o Próprio,
desfilando no Domingo de Ramos. Deve ter feito falta o jumentinho. Quanto a ACM
Neto, infiltrou-se tão bem que, se o Senhor descesse e pegasse a cruz, ele
estaria no lugar e hora certa para assumir o papel de Simão, o Cireneu.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.