Segunda, 16 de julho de 2012
Por Ivan de Carvalho

Agora, alguns pequenos
desajustes produzidos no governo Lula – como uma certa gastança em pessoal
desnecessário e em obras, algumas desnecessárias, outras não, que atrasam e não
são concluídas no tempo e pelo preço previsto (costumes nacionais) – começaram
a pesar excessivamente no orçamento da União e na economia nacional. Uma
política de crédito fácil, farto e caro está cobrando seu preço agora, com
inadimplência, que produz retração do consumo, antes estimulado em excesso.
Mas o peso maior, faça-se
justiça, é representado pela crise financeira e econômica internacional, que,
aliás, mostra não estar o país tão preparado como diziam para esse tipo de
coisa. Podemos destacar três elementos que se juntam para dar a dimensão que a
crise adquiriu, impedindo que no Brasil ela seja mais uma vez declarada pelo
governo uma simples “marolinha”, como o presidente Lula apelidou – com
demasiado e estudado otimismo – os reflexos, nos seus dois últimos anos de
governo (2009 e 2010), da crise que explodiu nos Estados Unidos em 2008.
Dilma enfrenta agora
problema muito mais grave. Registre-se, no entanto, que por causa das eleições
de 2010, principalmente a sua, para a presidência da República, o último ano de
governo de Lula foi marcado por uma frouxidão dos controles orçamentários que
veio causar problemas no governo atual, inclusive no que diz respeito à
inflação, cujos índices oficiais alguns analistas consideram “maquiados”.
Bem, voltando ao problema
enfrentado por Dilma. A economia americana se recupera da crise com uma
lentidão bem maior que a esperada. E, por assim dizer, detonou a crise
financeira e econômica na chamada Zona do Euro, na Europa, onde Irlanda,
Grécia, Portugal, Espanha e já agora também a Itália foram ou são os focos de
crise mais aguda. No entanto, é uma crise que ameaça toda a Zona do Euro e
irradia seus reflexos para áreas da Europa que não adotaram o euro.
Prossegue o circuito com a
inclusão da China, economia exportadora por excelência, que está em crise, com
queda acentuada do PIB (embora continuando, para os padrões ocidentais atuais,
bastante alto, acima dos 7 por cento). Mas era de mais de 10 por cento quando
começou a cair. Ora, se a China exporta menos, importa menos – inclusive do
Brasil. Tendem também a reduzir seu crescimento a Índia e a Rússia.
O PIB brasileiro para 2012
já está sendo previsto para 2,1 por cento pelo mercado (o governo põe alguns
décimos a mais, 2,7 a 2,5 por cento). Como todo mundo sabe, PIB é a soma das
riquezas que um país produz. E como ele está assim tão mixuruca, vem a
presidente e diz, aproveitando-se do Dia da Criança e do Adolescente: “Uma
grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e seus
adolescentes. Não é o Produto Interno Bruto. É a capacidade do país, do governo
e da sociedade de proteger o seu presente, o seu futuro, que são suas crianças
e seus adolescentes”.
Bem, com um PIB fraco em
relação ao número de pessoas, essa capacidade do país de proteger suas crianças
e adolescentes também é reduzida. No sistema de saúde, nas cracolândias, nas
casas estatais de reeducação para menores infratores, na falta de creches
públicas, na merenda escolar não efetiva, no ensino público de má qualidade, na
desastrosa assistência à saúde.
Menos, presidente. Não
enrola.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.