Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 2 de setembro de 2012

A Sombra do Samurai e o comando da economia

Domingo, 2 de agosto de 2012
Por J. Carlos de Assis, em "Rumos do Brasil"
O ministro Guido Mantega sempre está a um passo à frente na história.  Para ele a economia nunca vai mal. Se os números se revelam piores do que o previsto – como os 0,4% de crescimento no último semestre, perfeitamente antecipados por analistas independentes, mas antes descartados como pessimismo por Mantega -, ele logo saca da cartola algum indicador de que as coisas estão melhorando ou vão melhorar no futuro próximo. Assim, nunca há crise. Ou ela não acontecerá, ou já passou. E assim la nave va!

Isso parece ser parte da retórica oficial em qualquer país. A contribuição original do ministro é uma certa dose de academicismo que se traduz num distanciamento da situação real. Ocupando o principal posto executivo do Governo em três fases bem definidas – os anos Lula até 2008, os anos de crise e aparente recuperação entre 2008 e 2010, e os anos de relativa estagnação, que pode tornar-se contração, de 2011 para cá -, ele se comportou como a Sombra do Samurai, o shogun de Kurosawa que não precisava de se mover enquanto a batalha seguia.

Na fase do Governo Lula até aproximadamente 2005, Mantega assistiu com incrível frieza a valorização do câmbio que iniciou o processo de desarticulação de nossa indústria de manufaturados, tolerou Meirelles por fazer o que bem quis com a taxa de juros na lua, aceitou extravagâncias do Banco Central como o famoso swap cambial reverso dando-lhe cobertura com uma medida provisória que transferia ao Tesouro os custos dessa especulação com derivativos. (Mais à frente, com a crise, Sadia, Aracruz e Votorantin quase faliram quando a especulação se virou contra eles.)