Domingo, 2 de agosto de 2012
Por J. Carlos de Assis, em "Rumos do Brasil"
O ministro Guido Mantega sempre está a um passo à frente na
história. Para ele a economia nunca vai mal. Se os números se revelam
piores do que o previsto – como os 0,4% de crescimento no último
semestre, perfeitamente antecipados por analistas independentes, mas
antes descartados como pessimismo por Mantega -, ele logo saca da
cartola algum indicador de que as coisas estão melhorando ou vão
melhorar no futuro próximo. Assim, nunca há crise. Ou ela não
acontecerá, ou já passou. E assim la nave va!
Isso parece ser parte da retórica oficial em qualquer país. A
contribuição original do ministro é uma certa dose de academicismo que
se traduz num distanciamento da situação real. Ocupando o principal
posto executivo do Governo em três fases bem definidas – os anos Lula
até 2008, os anos de crise e aparente recuperação entre 2008 e 2010, e
os anos de relativa estagnação, que pode tornar-se contração, de 2011
para cá -, ele se comportou como a Sombra do Samurai, o shogun de
Kurosawa que não precisava de se mover enquanto a batalha seguia.
Na fase do Governo Lula até aproximadamente 2005, Mantega assistiu
com incrível frieza a valorização do câmbio que iniciou o processo de
desarticulação de nossa indústria de manufaturados, tolerou Meirelles
por fazer o que bem quis com a taxa de juros na lua, aceitou
extravagâncias do Banco Central como o famoso swap cambial reverso
dando-lhe cobertura com uma medida provisória que transferia ao Tesouro
os custos dessa especulação com derivativos. (Mais à frente, com a
crise, Sadia, Aracruz e Votorantin quase faliram quando a especulação se
virou contra eles.)