Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O vazio preenchido


Segunda, 3 de setembro de 2012 
Por Ivan de Carvalho
Jaques Wagner é uma pessoa inteligente. Nada acrescenta a ele estar o repórter a escrever isto, pois se trata de uma constatação generalizada, não somente em toda a Bahia como, no país, entre as pessoas que de alguma forma acompanham a vida pública do governador.

            Wagner e a avaliação de seu governo enfrentam uma fase de desgaste popular, certamente mais grave do que enfrentaram nos dois anos iniciais do primeiro mandato. À greve da Polícia Militar, à greve dos professores estaduais e ao despreparo do aparelho estatal para enfrentar a seca radical que tem atingido a Bahia (e outros estados), acrescentam-se dificuldades orçamentárias decorrentes do freio na economia imposto pela crise internacional e por um exagerado afrouxamento dos controles financeiros pelo governo federal, como forma de passar ao largo dos reflexos da crise americana, em 2009 e no ano eleitoral de 2010. A isto somam-se os problemas permanentes e em permanente agravamento da segurança pública e do sistema público de saúde, este de responsabilidade repartida entre União, Estados e Municípios.

            Mas, como superou o desgaste sofrido em 2007 e 2008, favorecido pelo boom econômico brasileiro de 2009 e 2010 e por esforços estaduais – dentre os quais não se pode deixar de citar a propaganda institucional e a máquina representada pelo PT e aliados partidários e “sociais”. Esses fatores foram potencializados pelo inegável carisma do governador no trato com pessoas e com o conjunto do público.

            A nova recuperação também é possível, ressalvando-se que parece muito difícil que aconteça a tempo de influir fortemente nas eleições de 7 de outubro. Falta só um mês. Já para 2014 é outra história, ainda cheia de incógnitas. Mas o governador, certamente ciente de que a economia do país tende a continuar resfriada, está providenciando autorizações legislativas para empréstimos de alto valor destinados a “investimentos” – o governo tem sido avaro quanto a informações cobradas pela oposição sobre em que pretende investir. E, conseguindo o dinheiro, vai um tempo entre isso e sua aplicação.

             Mas qual a razão de havermos feito referência à inteligência do governador, no começo deste escrito? Bem, um fato interessante. A insegurança pública é um importantíssimo fator de desgaste do governo. Mas uma ampla atuação no setor da segurança exige muitos recursos e tempo, cumprindo registrar que bastante tempo não foi aproveitado, talvez no início por questão de eleição de prioridades e, em seguida, por limitação grave de recursos, além da falta de participação federal. O fato é que agora há um vazio de iniciativas de ampla envergadura no setor, na Bahia. E a natureza, sabem o governador e qualquer aluno do curso fundamental, mesmo da rede pública, detesta o vazio.

            Aí é que entra o fator inteligência, já mencionado. Segundo noticiou ontem o portal Ig, o governador mandou para a presidente Dilma Rousseff um estudo em que pede a criação de uma Universidade Mundial de Segurança Pública e Desenvolvimento Social e sugere que a proposta seja apresentada na Assembléia Geral da ONU, que começa em 25 de setembro. O documento apresentado pelo governador, diz o Ig, “defende a necessidade da criação de uma doutrina para o combate à criminalidade nas diferentes regiões do país”.

            Pronto. O vazio está preenchido.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.