Quarta, 24 de abril de 2013
Por Ivan de Carvalho

Mas forças
políticas interessadas em participar das eleições de 2014, principalmente as
presidenciais, intensificam articulações para tentar impedir que o projeto se
torne lei. A atuação dessas forças deverá ocorrer no âmbito político e de
convencimento da opinião pública, bem como no Judiciário, ao qual ontem já foi
levado com o mandado de segurança impetrado no Supremo Tribunal Federal por
iniciativa do PSB, logo que a votação do projeto foi ultimada na Câmara.
Ontem mesmo,
dois dos aspirantes à Presidência da República, o senador tucano Aécio Neves e
a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva se uniram para tentar evitar a
aprovação do projeto pelo Senado. Ex-candidata a presidente em 2010 e que
obteve 20 por cento dos votos no primeiro turno, Marina Silva, que se esforça
para criar a legenda Rede Sustentabilidade foi extremamente ácida com o partido
que controla o poder federal e lidera o rolo compressor no Congresso com o
objetivo de transformar o projeto em lei.
Marina Silva
disse que o PT quer usar o mesmo “punhal” do qual foi vítima no período do
regime autoritário. “Não imaginei que o PT ia usar o mesmo punhal enferrujado
que eles (os governos militares) usaram para ferir o Lula na época da criação
do PT”. Marina, que já foi filiada ao PT e senadora pelo partido, bem como
ministra do Meio Ambiente do governo Lula, atribui à presidente Dilma Rousseff
e ao Palácio do Planalto as articulações para a aprovação do projeto que
combate. Ela disse que a presidente Dilma “não precisa disso”, pois tem a
máquina do governo. Ficou claro que Marina considera que a presidente, até por
motivos éticos, por controlar a máquina governamental, não deveria encabeçar as
articulações para aprovar esse evidente golpe legislativo em benefício da
própria candidatura à reeleição.
E Marina
Silva atacou mais: “A
presidente não precisa disso. Ela tem um partido forte, tem ao seu lado quase
todos os outros partidos, 39 ministérios, o PAC, o Bolsa Família, o José Sarney
e o Renan Calheiros. Não sei porque ser contra 30 segundos na TV de uma força
política que está começando agora. Talvez eles saibam de coisas que não sabemos”,
disse.
Com o estímulo de Marina
Silva, senadores contrários ao projeto lançaram um movimento suprapartidário
para evitar que a proposta seja analisada com urgência no Senado (como ocorreu
na Câmara) e tentar conseguir que só entre em vigor após as eleições de 2014,
para que não se faça o casuísmo de mudar as regras durante o jogo.
O movimento de resistência é integrado por Aécio
Neves, considerado virtual candidato do PSDB a presidente da República, além de
outros senadores do PSDB, do PSB (o governador de Pernambuco e presidente
nacional desta legenda, Eduardo Campos, é outro aspirante a presidente da
República), PMDB e PDT. A análise política que está se fazendo é de que o
projeto prejudica as candidaturas de Marina, Eduardo Campos e Aécio,
favorecendo exclusivamente a tentativa de reeleição de Dilma Rousseff e
reduzindo o risco de saída de políticos com mandato do PSD para novas legendas.
A luta dos possíveis candidatos de oposição (Aécio,
Marina e Eduardo Campos) e do novo partido Mobilização Democrática, criado pela
fusão do PPS com o PMN, além de alguns aliados eventuais em outras legendas, é
difícil no âmbito do Senado. No Judiciário, por enquanto, tenta-se impedir a
tramitação do projeto no Senado, sob o argumento de que é inconstitucional. Há
um risco grande de o STF dizer que se trata de assunto interno do Congresso, ou
do Senado, eximindo-se assim de entrar no mérito. Aí, ficaria para apreciar a
inconstitucionalidade depois da transformação do projeto em lei, se for
novamente acionado. Isso deixaria os políticos na dúvida sobre as condições em
que poderão atuar os novos partidos, o que seria prejudicial a estes.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.