Domingo, 21 de abril de 2013
Da Revista Veja
Ex-presidente fez 27 pronunciamentos em 148 dias - mas nada sobre Rose
Gabriel Castro e Marcela Mattos, de Brasília
Rosemary Nóvoa de Noronha e Lula
(AE e Reuters)
Nos oito anos que passou no Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sempre teve como característica o hábito de falar
constantemente e sobre tudo. Em tempos de crise, chegou a ser
aconselhado por assessores diretos e marqueteiros a manter relativa
distância dos microfones. Mas, quase nunca, a recomendação foi seguida. É
quase unânime a avaliação de aliados que convivem com Lula há décadas
que o silêncio nunca lhe agradou, ainda que o tema seja dos mais
espinhosos, como o mensalão, que quase lhe custou o mandato. Porém, há cinco meses, um assunto é proibido ao redor do ex-presidente: Rosemary Noronha.
A edição de VEJA desta semana detalha a atuação de Rosemary,
ou Rose, como era conhecida, nas entranhas do poder. A mulher que
chefiava o escritório da Presidência da República em São Paulo e
acompanhava Lula em viagens internacionais usava a proximidade com o
petista para negociar favores.
Na época do estouro da Operação Porto Seguro,
a Polícia Federal desmontou uma quadrilha que traficava influência nos
altos escalões do governo federal. Paulo Vieira, ex-diretor da Agência
Nacional de Águas (ANA), comandava o grupo.
Rosemary Noronha deve a Lula sua ascensão no poder público. Intimamente
ligada ao petista, ela tinha privilégios e integrou, diversas vezes,
comitivas presidenciais no exterior. Apesar da grande expectativa a
respeito do que o petista teria a dizer sobre o episódio, Lula silenciou
desde a operação Porto Seguro, deflagrada em 23 de novembro. Foram 27
pronunciamentos, entre discursos e entrevistas. Mas, em 148 dias, nada
explicou sobre as graves acusações envolvendo a mulher que era sua amiga
íntima e que foi indicada por ele para chefiar o escritório da
Presidência em São Paulo.
Nesse período, Lula deu ordens a secretários do prefeito paulistano
Fernando Haddad (PT), despachou com ministros do governo Dilma Rousseff,
recebeu prêmios, deu palestras, se reuniu com líderes mundiais, prestou
consultoria a empresas brasileiras. Sobre Rose, uma frase discreta, a
contragosto, quando questionado se tinha sido surpreendido pelas
revelações da Polícia Federal: "Não fiquei surpreso, não".
Lula avalia que não tem nada a ganhar comentando o episódio. Ele
afirma, reservadamente, que o silêncio evita que o caso seja associado a
ele e contribui para que o escândalo perca força no noticiário.
A postura revela o quanto o ex-presidente se sente desconfortável com a
revelação de que a antessala do poder era usada para negociações
escusas. Mesmo titubeante, Lula não evitou tecer comentários sobre
outros escândalos, como o mensalão, o dossiê dos aloprados ou a morte do
prefeito Celso Daniel, um fantasma que assombra o PT. Mas, a cada nova
revelação sobre as andanças de Rose, pode se supor o que Lula tanto
teme.