Segunda, 10 de março de 2014
Fonte: Blog Bahia em Pauta
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DEU NO JORNAL A TARDE (EDIÇÃO ESPECIAL)
PATRÍCIA FRANÇA
A tarde ensolarada daquele domingo em Salvador camuflava o estado de conspiração e tensão política que tomou conta do País. Era cinco de abril de 1964, quatro dias após o presidente João Goulart (PTB) ter seu governo encerrado por força do golpe militar. O então prefeito Virgildásio Senna (PTB) voltava de um almoço com amigos, mas logo seria preso no Quartel da Mouraria e deposto do cargo.
“Cheguei em casa, no Campo Grande, e encontrei a rua cercada por militares do Exército com dois canhões e holofotes enormes. Indaguei a uma pessoa o que estava acontecendo. ´Estão prendendo o prefeito´, respondeu. Me dirigi, então, ao Quartel da Mouraria e o general que me deu ordem de prisão disse: ‘Você está preso porque somos cristãos’”.
A onda de cassações e perda dos diretos políticos iniciada em 1964 – Waldir Pires (PSD) e o deputado federal comunista Fernando Sant´Anna foram cassados e exilados – atingiu lideranças e prefeitos, como Francisco Pinto (Feira de Santana), Pedral Sampaio (Vitória da Conquista), e Herval Soledade (Ilhéus). Os dois primeiros foram eleitos pelo PSD e o último pelo PTB, partidos que enfrentavam a oposição da UDN.
Na Bahia, depois do AI-5, em 1968, a ditadura também cassou os mandatos de 13 parlamentares, entre os quais o médico Luiz Leal (PSD), o jornalista Sebastião Nery (MTR), o jurista Marcelo Duarte (MDB) e o petroleiro Wilton Valença (PSB) – os únicos ainda vivos.
Na madrugada do golpe, o Estado era governada por Lomanto Jr., do mesmo partido de Jango, o PTB, mas que se recusou a assinar o Manifesto dos Governadores do Nordeste, redigido pelo governador de Pernambuco Miguel Arraes (PST), contra o golpe de 1964.
Marcava, assim, a adesão de Lomanto à ditadura que se instalou no Brasil e que durou até 1985 – quando Tancredo Neves (PMDB) disputa eleição indireta, via Colégio Eleitoral, e é eleito o primeiro presidente civil depois do golpe militar.
Conspiração e levante
PATRÍCIA FRANÇA
A tarde ensolarada daquele domingo em Salvador camuflava o estado de conspiração e tensão política que tomou conta do País. Era cinco de abril de 1964, quatro dias após o presidente João Goulart (PTB) ter seu governo encerrado por força do golpe militar. O então prefeito Virgildásio Senna (PTB) voltava de um almoço com amigos, mas logo seria preso no Quartel da Mouraria e deposto do cargo.
“Cheguei em casa, no Campo Grande, e encontrei a rua cercada por militares do Exército com dois canhões e holofotes enormes. Indaguei a uma pessoa o que estava acontecendo. ´Estão prendendo o prefeito´, respondeu. Me dirigi, então, ao Quartel da Mouraria e o general que me deu ordem de prisão disse: ‘Você está preso porque somos cristãos’”.
A onda de cassações e perda dos diretos políticos iniciada em 1964 – Waldir Pires (PSD) e o deputado federal comunista Fernando Sant´Anna foram cassados e exilados – atingiu lideranças e prefeitos, como Francisco Pinto (Feira de Santana), Pedral Sampaio (Vitória da Conquista), e Herval Soledade (Ilhéus). Os dois primeiros foram eleitos pelo PSD e o último pelo PTB, partidos que enfrentavam a oposição da UDN.
Na Bahia, depois do AI-5, em 1968, a ditadura também cassou os mandatos de 13 parlamentares, entre os quais o médico Luiz Leal (PSD), o jornalista Sebastião Nery (MTR), o jurista Marcelo Duarte (MDB) e o petroleiro Wilton Valença (PSB) – os únicos ainda vivos.
Na madrugada do golpe, o Estado era governada por Lomanto Jr., do mesmo partido de Jango, o PTB, mas que se recusou a assinar o Manifesto dos Governadores do Nordeste, redigido pelo governador de Pernambuco Miguel Arraes (PST), contra o golpe de 1964.
Marcava, assim, a adesão de Lomanto à ditadura que se instalou no Brasil e que durou até 1985 – quando Tancredo Neves (PMDB) disputa eleição indireta, via Colégio Eleitoral, e é eleito o primeiro presidente civil depois do golpe militar.
Conspiração e levante
Em depoimento ao A TARDE, Virgildásio Sena lembrou
que, dez dias antes do golpe, Lomanto se reuniu, na Capital baiana, com
vários governadores, todos preocupados com o reflexo da crise econômica
do governo Jango, sobretudo nos estados mais pobres.
Participaram do encontro alguns dos principais apoiadores e articuladores do golpe, como os governadores de Minas, Magalhães Pinto, e do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, ambos da UDN, e Mauro Borges (PSD) de Goiás.
Magalhães Pinto era candidato à Presidência da República, lembra Virgildásio, e um dos fundadores do Banco Nacional de Minas Gerais.
“Ele soube que a prefeitura de Salvador operava as suas contas no banco e pediu a Pamponet, na época gerente da filial baiana, para marcar um encontro comigo”, relata o ex-prefeito.
O petebista recebeu o governador de Minas no apartamento que ocupava no antigo Hotel da Bahia, no Campo Grande. “Magalhães me convidou para ser o coordenador da sua campanha na Bahia. Disse a ele que fiquei honrado com o convite, mas que precisava refletir. Foi então que o indaguei: ´Como está sua relação com Jango?´. E o governador me respondeu:
- Amanhã irei ao Rio de Janeiro conversar com ele. Direi que eu sou a única hipótese de entendimento entre as forças políticas (que se opunham às Reformas de Base) e ele.
No dia 28 de março de 1964, numa reunião em Juiz de Fora (MG) entre Magalhães Pinto e os generais Olímpio Mourão Filho e Odílio Denys o levante militar foi desencadeado e o golpe efetivado na madrugada de 1º de abril.
Para evitar uma guerra civil, João Goulart preferiu se refugiar no Uruguai, onde pediu exílio político.
Leia integra da reportagem de Patrícia França e do Especial 50 anos do Golpe na edição impressa ( e Online) do jornal A Tarde.