Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Gentalha, gentalha, gentalha!

Sexta, 23 de janeiro de 2015
Da Tribuna da Bahia
Por Alex Ferraz
Vou prestar ao longo de citações neste artigo uma anacrônica homenagem ao Chaves, meu ídolo de criança, entre outros.
Bem, antes de chegar ao Chaves, quero lembrar aqui um episódio ocorrido com minha saudosíssima mãe. Ela era uma pessoa que acreditava em tudo...E em nada! Isso, isso, isso.
Como se dizia na época, tinha parte com umbanda, um nicho com diversos santos da Igreja Católica em casa, jogava e consultava cartas com cartomantes profissionais, incluindo o tarô, e era assídua leitora e praticante (se pode se chamar assim) do espiritismo, citando Allan Kardec a cada momento. Mas não se confundia. Tinha uma visão de mundo ácida, muitíssimo inteligente, e sempre tinha respostas arrasadoras na ponta da língua, inclusive para a política. Costumava dizer que sofria por ver as coisas que outros não viam (não falo de aparições, por favor). Certa feita, em consulta a uma famosa cartomante da época, esta lhe aconselhou: "Pedrina, você precisa enxergar mais fundo nas coisas". E minha mãe, de pronto, com um sorriso irônico: "Você quer que eu morra de um ataque do coração? Se eu enxergar mais do que vejo, não resistirei".

Ultimamente tenho me sentido mais ou menos assim. Uma vontade enorme de alienar-me, deixar de ver telejornais, ir cada vez menos à internet e ler menos jornais e revistas. Mas, claro, por força da profissão, não posso radicalizar.
É tamanha a sucessão de falcatruas, nepotismo, mentiras eleitorais, arrocho em prol da vida nababesca dos donos do poder, insegurança absoluta a ponto de a própria Polícia recomendar você a ficar em casa, massacre a aposentados, pobres que precisam de médicos e são tratados como bichos, crianças que precisam estudar para ver se este país se torna alguma coisa viável nos próximos 500 anos e que estão fora da escola ou dentro de uma escola fajuta onde todo mundo é obrigado a ser aprovado, que eu, ufa, estou cansado.
Cansado, por exemplo, de fatos como ver o governador recém-eleito do Rio de Janeiro, que, mandando um Pezão na bunda dos funcionários públicos, diz não tem nada a falar sobre a contratação de seu enteado (gente, é só um exemplo em centenas de casos atuais que chegaram ao noticiário, inclusive na Bahia). Penso (péssimo hábito para a saúde), então: COMO não tem nada a falar? Como um mandatário público, eleito pelo povo, pago com o dinheiro do povo, não tem nada a falar para esse povo?
Perderam a noção – se é que algum dia ela existiu – de que são EMPREGADOS nossos, posto que pagos por nós para fazer coisas que melhorem nossas vidas (sic). Perderam mesmo. Governantes, parlamentares e mesmo certos membros do poder Judiciário.

Na verdade, estão ali para, claro, agir em benefício próprio (aumentando seus salários, passando a mão nos cofres públicos para proveito próprio e usando a máquina pública para todo tipo de malandragem). Conchavos, briga feroz por cargos, pelo poder, pelo dinheiro, enfim. E desdém absoluto pelo povo, em nome de quem enchem a boca nos palanques.
Aliás, por falar em briga por cargos, vejam o vexame que a presidente Dilma está passando com o recém-empossado ministro das Minas e Energia, Eduardo Brega, ops, Braga. Dizem até que ele vai "dançar" brevemente, mesmo estando no cargo há apenas 20 e poucos dias. O homem, que ignora absolutamente tudo sobre energia, debochou na entrevista sobre o extremamente sério problema dos apagões.
Aí, pergunto: por que tanta ferocidade na disputa por ministérios, secretarias etc.? Será que tudo isso é a vontade de cada partido de fazer um bem à sociedade? Bobagem! É que tais cargos são a porta para o acesso às fortunas que vêm do erário. Ponto final. Só isso. E como se nomeia por cota partidária, sem qualquer critério técnico, dá no que deu com o Brega.
Mas todo mundo aí tem sido eleito democraticamente através das urnas eletrônicas (tenho uma desconfiança danada delas!). Então, para encerrar com mais uma homenagem a Chaves, pergunto: E Kiko? “Foi sem querer, querendo”.