Quinta, 12 de fevereiro de 2015
André Richter - Enviado Especial
da Agência Brasil/EBC
Em
depoimento perante a Polícia Federal, o doleiro Alberto Youssef disse que o PP,
o PT e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque receberam dinheiro de
um dos investigados na Operação Lava Jato. As declarações, prestadas em outubro
do ano passado, foram divulgadas após decisão do juiz federal Sergio Moro de
retirar o sigilo dos depoimentos dados em acordo de delação premiada.
Permanecem
sob sigilo as partes dos depoimentos que envolvem autoridades protegidas por
foro privilegiado. Pela Constituição Federal, deputados federais, senadores e
ministros de Estado devem ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF);
governadores, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ); e prefeitos, pelos
tribunais de Justiça.
Youssef
disse que entregou dinheiro em dois escritórios do consultor Júlio Camargo, em
São Paulo e no Rio de Janeiro, após trazer para o Brasil valores enviados por
Camargo ao exterior. O doleiro relatou que, antes de repassar o dinheiro ao
consultor, "retinha o percentual devido ao PP", a Paulo Roberto Costa
e a João Claudio Genu (ex-assessor do PP).
Segundo
Youssef, o dinheiro entregue no escritório de Camargo em São Paulo "servia
para pagamentos da Camargo Corrêa e Mitsui Toyo ao PT, sendo que as pessoas
indicadas para efetivar os pagamentos à época eram [o tesoureiro do PT] João
Vaccari e [o ex-ministro] José Dirceu." Para justificar as acusações, o
doleiro disse ter "convicção de que os valores eram destinados ao PT e à
Diretoria de Serviços da Petrobras, na pessoa de Renato Duque."
Em alguns
depoimentos, o doleiro detalha a relação de Dirceu com Julio Camargo, nos quais
afirma que são amigos. Yousseff relatou que Dirceu utilizou o avião de Camargo
diversas vezes, após a saída do petista da Casa Civil, em 2005. Ele não soube
informar, contudo, o período exato e os motivos das viagens.
Sobre as
negociações envolvendo os dois, ele disse que Dirceu era um dos elos de ligação
de Camargo com o Partido dos Trabalhadores. Yousseff também apontou Antonio
Palocci como um outro elo de Camargo com o partido. O doleiro detalhou ainda
que teve acesso a um pen drive em que constava a contabilidade ilícita das
movimentações de Julio Camargo. No arquivo eram usados nomes falsos para os
participantes do esquema. O nome dado a Dirceu era Bob.
Ele disse
que a entrega de dinheiro nos escritórios de Camargo ocorreu entre meados de
2005 e meados de 2012. O valor operado foi R$ 27 milhões.
Sobre as
entregas no escritório de Júlio Camargo no Rio, Youssef afirmou que eram
"pagamentos devidos a Renato Duque e, provavelmente, a outros empregados
da Diretoria de Engenharia e Serviços, referente a comissionamentos das obras
feitas pela Camargo Corrêa e a Mitsui Yoyo". Segundo o doleiro, um dos
funcionários era Pedro Barusco, que também fez acordo de delação premiada.
Perguntado
pelos investigadores sobre as remessas ao exterior, Alberto Youssef explicou
que Júlio Camargo não sacava o dinheiro no Brasil, para ludibriar as
autoridades públicas sobre a origem dos recursos, que, posteriormente,
"seriam usados para o pagamento de propina e formação de caixa 2 dos
partidos".
No
depoimento, Youssef afirmou que Camargo tinha o mesmo papel dele, como operador
na Diretoria de Serviços da Petrobras, então comandada por Duque. No entanto,
Camargo precisava de reais em espécie e procurou o doleiro para que o dinheiro
pudesse ser movimentado no Brasil.
Segundo o
delator, o esquema de pagamentos de propina aos partidos consistia na
assinatura de contratos fraudados de consultoria das empresas de Camargo e as
empresas Camargo Corrêa, Mitsui Toyo e Pirelli. Os valores eram enviados para
contas no exterior. Depois disso, ficava disponível no Brasil e era repassado
aos destinatários.
A defesa de
Renato Duque nega que ele tenha recebido valores indevidos durante o período em
que esteve na Diretoria de Serviços da Petrobras. Citados na delação premiada
de Pedro Barusco, João Vaccari e o PT rechaçam as declarações sobre recebimento
de valores indevidos. No entendimento do partido, as declarações sobre
irregularidades são para envolver a legenda em acusações sem provas ou
indícios, e não merecem crédito.
Em nota
divulgada quando foi noticiado que uma de suas empresas teve o sigilo fiscal
quebrado, José Dirceu disse que não é investigado na Lava Jato e encaminhou ao
juiz Sergio Moro contratos e dados financeiros da JD Consultoria.
*Colaborou
Helena Martins