Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 16 de junho de 2015

A lenta agonia e o drama do PT

Terça, 16 de junho de 2015
Da Tribuna da Bahia
Paulo Roberto Sampaio
O congresso do PT realizado na semana passada em Salvador apenas evidenciou o óbvio: o partido está partido. Partido, aliás, ele sempre esteve. Nenhuma outra agremiação política no país possui tantos grupos a disputar internamente o poder quanto o PT. Mas agora está em frangalhos.
Quando um governador é eleito e quer fazer uma gracinha com o partido, esbarra num intrincado quebra-cabeças: quem deve ser o aquinhoado com o mimo, a secretaria ou a posição relevante no governo?
Qualquer que seja o escolhido, duas, três ou até mais facções haverão de torcer o nariz e não se sentirem representadas no cargo. E assim vive o PT.
Mas a situação está se agravando mais e mais. Os escândalos envolvendo integrantes do partido revelam o quanto de apodrecida está sua estrutura e as facilidades criadas por alguns de suas cabeças coroadas para que a corrupção se tornasse uma praga no seu entorno, contaminando a máquina pública.
E como nesse ajuntamento há os sérios e idealistas, que apesar dos pesares ainda creem na estrela do PT e nos seus dogmas, fincados desde a sua criação, um congresso como esse acabou mostrando as entranhas do partido e os conflitos para se reerguer.
A coisa ficou tão grave que no melhor estilo do marido traído que encontra a mulher nos braços de outro no sofá e resolve vender o sofá para se livrar da traição, prevaleceu no congresso baiano a tese de que, com tantos tesoureiros presos ou metidos em confusões, melhor seria extinguir o cargo. Isso enquanto Vaccari era aplaudido entusiasticamente. Entenda esse enredo!
Sem tesoureiro, presume-se, não haverá ninguém acusado de roubalheira nem escândalos envolvendo o partido. Uma solução simplória demais, quando o problema é bem mais complexo. Para financiar seu projeto de poder, dito na primeira eleição de Lula, de 20 anos, o PT (governo federal) foi, pouco a pouco, fazendo todo tipo de aliança.
Aliança política, aliança e acordos inconfessos, com empresários inescrupulosos e daí pra pior. A desculpa era arranjar dinheiro para as campanhas e para financiar o projeto que tinha como ideal um Brasil mais igual para que as classes C e D pudessem sentir o gostinho do consumo saboreado pela classe média.
Era como se os meios justificassem os fins. Perdeu-se o partido ou uma banda dele pelo caminho. Seus tutores maiores tornaram-se tão inocentes diante da corrupção e das falcatruas cometidas por companheiros – dela nada sabendo, sempre – que a estrela vermelha começou a sangrar e a perder seu apelo popular.
Petistas sérios e que trabalham fiéis aos ideais de sua fundação, como o governador Rui Costa, pagam um preço caro. Têm de carregar nas costas uma estrela que pesa mais que uma cruz. Acabam maculados pelos respingos das trapalhadas de um grupelho da pesada. Outros preferem se distanciar, como o faz o senador Walter Pinheiro, na esperança de se livrar da pecha e procurar luz própria.
O documento, intitulado "Mudar o PT para continuar mudando o Brasil" sintetiza o que os verdadeiros petistas esperam poder construir daqui para frente. Agarram-se ao histórico de aliados de vida ilibada, mas a luta será muito difícil.
Ao todo, 33 deputados federais, mais da metade da bancada, assinaram o manifesto. É um sinal claro de que o partido quer mudança. Problema agora é reunir forças, encontrar uma forma de levar a militância às ruas e fazê-la acreditar num sonho que embalou grandes conquistas. Não é impossível, mas será uma dura batalha.