Quinta, 5 de maio de 2016
Da Tribuna da Internet
Por Jorge Béja
No final da tarde desta quarta-feira, dia 4, funcionários da antiga
TV Educativa e hoje Rede Brasil, que pertence à EBC, me ligaram e
pediram um parecer sobre a contratação do jornalista Sidney Rezende, que
foi despedido da GloboNews, como âncora da TV Brasil, e está sendo
contratado com salário de R$ 480 mil por ano, ou R$40 mil por mês.
Contratação sem concurso e com salário muitas vezes acima da média que é
pago à categoria. Um salário colossal, enquanto o pessoal da casa
recebe uma ninharia por mês. A pretensão dos funcionários, que pediram
para não serem identificados, é ingressar com uma ação popular, contra a
EBC e o próprio Sidney Rezende e arrolando também como ré a própria
Dilma Rousseff, para que a Justiça Federal do Rio anule a contratação.
Eles foram logo me dizendo que somente poderiam pagar no máximo R$
4.500 pelo parecer. Respondi que eles nada precisavam me pagar. Um
advogado quando é procurado para dar um parecer para instruir ou para
atuar numa ação de cunho cívico e que visa o interesse coletivo e
público e a proteção do erário nacional, nada deve cobrar para a sua
elaboração. Somos todos cidadãos. Eles e eu. Somos todos lesados. Eles e
eu. Somos todos brasileiros. Eles e eu.
Como poderia eu cobrar por um parecer sobre um assunto a respeito do
qual ninguém ganhará um tostão, a não ser o alívio e a satisfação de ver
o Judiciário agir para defender os cofres públicos contra governos
perdulários? Que horror!! Cobrar por trabalho jurídico com tão nobre
destinação é querer ganhar dinheiro de qualquer jeito.
VAMOS AO PARECER
Então respondi a eles que nada cobraria. E que nem deveria cobrar. E
vou elaborar o parecer. E se eles desistirem da ação, pelo motivo que
seja, eu mesmo cuidarei de propô-la, ou a eles me associarei, porque
essa contratação é imoralíssima. A ação popular tem tudo a ver com um
processo de impeachment. Visa a defesa da moralidade e do erário
público.
Nos dois últimos anos do governo FHC e nos dois primeiros do governo
Lula, o tarimbado José Carlos Cataldi, jornalista, advogado,
ex-presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, de muitas
viagens internacionais representando a OAB do Brasil e que foi recebido
por Bill Clinton, quando era presidente dos Estados Unidos. Cataldi, um
talento na comunicação social e que já foi o principal âncora da CBN,
Cataldi foi contratado por este mesmo empregador (TVE/EBC) para
apresentar um programa diário, das 18 às 19 horas, ao vivo, de segunda à
sexta. Eu também fazia parte do programa. Cataldi era o apresentador. E
eu, diretor jurídico e debatedor fixo.
FORAM QUATRO ANOS
Cataldi tocou o programa por 4 anos e o programa resolveu mais de 2
mil casos de consumidores lesados sem que fosse preciso recorrer à
Justiça. O programa chamava-se “Pensando em Você”. Cuidava da difusão
dos Direitos dos Consumidores. Atendia a todos. Até erro médico foi
denunciado e debatido lá. Ninguém se maquiava. Ninguém dava em cima de
ninguém, como acontece nos bastidores de emissoras de televisão. Ninguém
fumava. Nem “baseado” tinha lá.
Tudo era simples e sem pompa, sem vaidades, sem mentiras e traições. E
havia uma banca de notáveis juristas para analisar cada caso que era
exposto na hora pelo consumidor que comparecia ao programa, sem que os
debatedores soubessem do que se tratava, e a Associação de Magistrados
do Rio colaborava muito.
SALOMÃO PARTICIPAVA
O hoje ministro do Superior Tribunal de Justiça e que preside uma
parte do inquérito da Lava Jato, o ministro Luis Felipe Salomão, e mais
seu pai, que era advogado militante, eram dois que compareciam uma vez
por semana cada um. Tinha a doutora Célia Destri, presidente da
Associação das Vítimas dos Erros Médicos (Avermes). Tinha o advogado
João Tancredo. A juíza Letícia Faria Sardas, que também sentava-se à
mesa.
Muitos juízes federais compareciam para participar do programa, que
era de altíssimo nível e a todas as classes sociais interessava. Até
Portugal copiou o programa e a Tv portuguêsa (RTP) fez um igual. Era um
programa de máxima utilidade pública. Mas acabou. O que é bom acaba
logo.
Explico tudo isso para dizer que José Carlos Cataldi recebia por mês
R$ 1.500 e eu nada recebia. Como é que agora vão pagar 480 mil por ano
para Sidney Rezende? Não vão, não. A Justiça Federal do Rio não vai
deixar. Já comecei a estudar o caso.