Sábado, 11 de junho de 2016
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil
Militantes de coletivos negros fizeram neste
sábado (11) um protesto em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do
governo paulista, lembrando a morte de um menino de 10 anos em uma ação
policial na região do Morumbi, na zona oeste de São Paulo. No último dia
2, o menino estava com um amigo, de 11 anos, em um carro roubado de um
condomínio do bairro.
Os policiais militares que atenderam a ocorrência alegam que o menino, que estava ao volante, disparou contra eles e que o balearam para se defender.
Os policiais militares que atenderam a ocorrência alegam que o menino, que estava ao volante, disparou contra eles e que o balearam para se defender.
Vídeos de câmeras de
segurança mostram o carro desgovernado, depois parado e um policial se
aproximando e fazendo o disparo que atingiu a criança na cabeça. Não
foram encontradas marcas dos tiros que teriam sido efetuados pelo
garoto. Segundo os policiais, isso porque o menino fez os disparos com o
vidro abaixado e fechou a janela pouco antes de ser baleado.
O
grupo levou cartazes que classificam o elevado número de mortes de
jovens nas periferias como um genocídio da população negra. O ato se
opôs a outra manifestação, da qual participaram moradores da região do
Morumbi, bairro onde está localizado o Palácio dos Bandeirantes, em
apoio à ação dos policiais.
Durante a maior parte do tempo, os
protestos ficaram em calçadas opostas, com os manifestantes trocando
provocações. Porém, os participantes do ato favorável aos policiais
chegaram a se aproximar dos militantes dos movimentos negros para
discutir e até trocaram ofensas. Não houve, no entanto, nenhuma
agressão.
Saiba Mais
Versão inconsistente
A
versão dos agentes tem, na opinião do ativista Gilson Nascimento,
diversas inconsistências. “De dentro de um carro, dirigindo em
perseguição, essa criança não está em condição de dar tiros e expor a
vida desse policial”, disse Gilson. Ele lembra que, em outros casos, foi
comprovado que policiais fraudaram provas para acobertar execuções
classificando-as de reação de legítima defesa.
“Estamos aqui para dar voz ao Ítalo, uma criança de 10 anos foi assassinada pela polícia. Nós, que moramos em periferia sabemos, qual é o modus operandi [modo de agir] da polícia. Plantar arma e forjar crimes são as coisas mais comuns que existem”, acrescentou.
“Estamos aqui para dar voz ao Ítalo, uma criança de 10 anos foi assassinada pela polícia. Nós, que moramos em periferia sabemos, qual é o modus operandi [modo de agir] da polícia. Plantar arma e forjar crimes são as coisas mais comuns que existem”, acrescentou.
“Aceitar
que uma criança de 10 anos tome um tiro na cabeça e chamá-la de
criminoso é muito mais cômodo do que raciocinar por que essa criança
chegou a uma situação em que ela expusesse a sua vida”, destacou
Nascimento, ao falar da importância de discutir o contexto social em que
vivia o garoto e vivem inúmeros jovens nas periferias das grandes
cidades.
A recepcionista Keyla Luenda , de 27 anos, disse que foi
ao protesto para pedir o fim da impunidade em caso de execução
cometidas por agentes do Estado. “A gente luta para que isso aconteça e
que cada vez mais policiais como esses possam ir para a cadeira”,
ressaltou a jovem, que também perdeu o irmão, vítima de uma ação
policial.
“As pessoas têm que saber que isso acontece diariamente, não é só pelo Ítalo [nome do menor morto pela polícia] ou por meu irmão, é por toda a população”, afirmou a recepcionista.
“As pessoas têm que saber que isso acontece diariamente, não é só pelo Ítalo [nome do menor morto pela polícia] ou por meu irmão, é por toda a população”, afirmou a recepcionista.
Em defesa dos policiais
Do
outro lado da rua, o deputado federal Major Olímpio (SD-SP), defendeu a
atitude dos policiais. “O resultado morte não é desejável nunca. Mas eu
prefiro saber da morte de um criminoso-mirim de dez anos, do que de um
policial, pai de família que estava ali em função pública”, ressaltou o
parlamentar que tem atuação ligada a temas relacionados a segurança
pública e a aos interesses corporativos dos policiais militares.
O
presidente do Conselho de Segurança do Portal do Morumbi, Celso Neves
Cavallini, também se manifestou favoravelmente a ação dos agentes.
“[Merece] logio, porque ele tirou da rua um criminoso. Não importa a
idade dele”, enfatizou Cavallini que preside um dos conselhor
comunitários que analisa as questões relativas à segurança em cada
bairro. Para ele, o fato de um dos garotos estar vivo mostra que os
policiais apenas reagiram contra uma agressão. “Se o policial tivesse a
ideia de matar, teria matado os dois, não um”.
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