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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 29 de março de 2021

VOCÊ AINDA CONSEGUE SUPORTAR? Semana triste. Tão triste quanto revoltante.

Segunda, 29 de março de 2021


Por Fernando Tolentino, jornalista e administrador


VOCÊ AINDA CONSEGUE SUPORTAR?

Semana triste. Tão triste quanto revoltante.

Acompanhei os últimos lances da batalha contra a Covid de Haroldo Lima. Grande perda para a Bahia e para o Brasil. Mas especialmente para amigos e admiradores, em que me incluo, desde que assessorei a bancada federal do PCdoB na década de 80.

Amigas e amigos acompanham o sofrimento de pessoas próximas e não poucas não conseguem recuperá-las.

É cada vez maior o número de pessoas que passam por esse padecimento.

Afinal,  307.112 brasileiros não conseguiram sobreviver até a última sexta-feira. Em 24 horas, haviam sido 3.650. A macabra liderança em perdas diárias no mundo.

Como se, em um só acidente do metrô de Brasília, morressem todos os passageiros de 5 vagões inteiramente lotados

Pense no sofrimento de cada vítima antes do último momento. Imagine a dor de cada pessoa que as ama. As mortes realmente não são meros números. 

Pois não temos a menor esperança de que não seja maior a quantidade de vítimas fatais nos próximos dias.

Até porque enfermeiros, médicos, técnicos, pessoal de apoio trabalham em plantões sucessivos em hospitais superlotados, em que têm de substituir colegas que acabaram se contaminando ou até morrendo. Hospitais em que já não há equipamentos suficientes, tendem a escassear oxigênio e a medicação indispensável para fazer a intubação sem dor.

Não bastante, já dá para prever o colapso em necrotérios e cemitérios, sendo possível admitir que algumas cidades tenham problema para sepultar os seus mortos.

O mais estarrecedor é que era claramente possível evitar tamanho Apocalipse, desde que a questão fosse encarada com seriedade no devido tempo. 

Mas o País vê o presidente portar-se há praticamente um ano como se houvesse motivo para divertir-se com a situação. A ponto de recusar várias oportunidades para aquisição de vacinas. Mais, tenta boicotar o esforço de estados e municípios para controlar a tragédia. 

Além disso, estimula a população a não adotar os mínimos cuidados para se proteger e insiste em propagandear medicações não amparadas em fundamentos científicos. Como se não bastasse, começamos o ano com aumento da tributação sobre o oxigênio. 

Se sua família já foi vítima de uma ou mais perdas, se ainda conseguiu se manter sem tal dor, até quando vamos suportar milhares de mortos a cada dia? Ou fingir que é possível escapar dessa catástrofe com um presidente que, para uns, não se importa com o que se passa, para outros, aposta justamente nesse número crescente de vítimas?

Não lhe parece que chegou a hora de dizer basta?

(Na foto, entre Haroldo e eu, os amigos Paulo Guimarães e Raimundo Miranda, que comemora aniversário, antes da pandemia)