Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 5 de março de 2022

A GENIALIDADE DE ROCK LANE

Sábado, 5 de março de 2022
Artista plástico gamense já foi premiado internacionalmente por suas obras





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A GENIALIDADE DE ROCK LANE

Artista plástico gamense já foi premiado internacionalmente por suas obras

No município mineiro de Caratinga em 1958 nasceu Rock Lane Alves, o nome incomum veio da paixão do pai por filmes de faroeste, que resolveu fazer uma homenagem ao ator estadunidense Allan “Rocky” Lane, que protagonizou a figura do cowboy ao longo de sua carreira.

Chegou em Brasília em 1963, aos cinco anos de idade, tendo se estabelecido inicialmente na Vila Planalto, chegando ao Gama no ano trágico de 1964, o primeiro ano de uma ditadura que duraria duas décadas, deixando um saldo horroroso de mortes, violações, desaparecimentos e uma inflação que somente a democracia conseguiu resolver.

Viu de perto o papel do Nordeste na construção de Brasília, como a região do Brasil que mais contribuiu, com os seus filhos chegando aos montes para trabalhar no nascimento da nova capital da república, em três anos levantaram uma cidade, que hoje é patrimônio cultural da humanidade, realizando um feito histórico sem precedentes.

Seu pai tinha um salão na Quadra 21 do Setor Leste, o polo pioneiro do Gama, o Roque Salão que junto com o Salão São Jorge foi um dos primeiros da cidade, tendo um cliente ilustre e historicamente controverso pelo seu papel no Golpe de 64, o General Golbery do Couto e Silva, considerado por alguns, o autor intelectual da ditadura militar.

Rock Lane começou a desenhar aos 13 e nunca mais parou, aos 14 já trabalhava no Plano Piloto e raramente saia de casa quando estava pelo Gama, por meio de sua habilidade com o desenho, trabalhou como chargista no Jornal de Brasília por 23 anos, no Sindicato dos Bancários, no Jornal Última Hora e no Correio do Planalto. Viajou por vários países e chegou a ter o seu trabalho reconhecido e premiado na Itália, no Japão, na China e no Irã, por mais de uma vez até. Se formou em arquitetura pela Universidade de Brasília em 2008, chegando a trabalhar como Diretor de Obras da Administração Regional do Gama em algumas gestões.




Na conversa que tivemos na sacada da Panificadora Roma no Setor Norte, demonstrou ser um homem de reflexões profundas sobre a vida, a história, a política, o Gama e a sociedade em si, falamos sobre a importância do fator humano no processo de criação, de modo que, por mais que a tecnologia avance e sejamos cada vez mais dependentes dela, as máquinas, programas, algoritmos e configurações, também dependem de nós, tendo em vista que a mente humana em toda sua complexidade deu origem a isso tudo, e precisa atuar para que isso se mantenha em funcionamento.

Tivemos a oportunidade de discutir sobre o embraquecimento do maior escritor da literatura brasileira, Machado de Assis, que era negro, e embora tenha a sua genialidade reconhecida e consagrada, somente de uns tempos para cá começamos a refletir sobre esse “detalhe” que esteve oculto por tanto tempo.

O amor pelo Gama é visível em suas palavras, traços, telas e rabiscos, sendo um conhecedor respeitável da história da cidade e suas mudanças, chegou aqui menino, e vive aqui desde então, tendo crescido junto e presenciado suas transformações, é inegavelmente uma testemunha ocular da história do Gama, que se mistura como tinta em tela com a sua própria história.

“A América Latina é a janela da minha casa! Quando eu abro a Janela, vejo a rua, as crianças brincando, pessoas e carros passando, isso é a América Latina vista da minha janela.” Rock Lane

Sua linha do tempo no Facebook é uma verdadeira galeria de arte virtual, onde publica com certa constância seus trabalhos, que demonstram um artista sensível ao retratar a realidade e as pessoas, versátil ao aplicar técnicas e estilos diferentes para se expressar de forma genial, bem-humorado e bastante politizado, ao não fugir da crítica política e social que é explícita e sem pudor.

Correndo o risco de estar equivocado, por não ser um especialista em análise de obras artísticas, mas sem renunciar à minha condição de apreciador, divido inicialmente sua obra três categorias que se diversificam em razão da quantidade de temas abordados:

QUADROS

Os quadros chamam a atenção pela variedade de técnicas utilizadas, apresentando um artista que transita pela história da cidade, retratando paisagens e monumentos locais, pela potência da sensualidade feminina presente em caras, bocas, olhares e curvas, havendo também provocações nitidamente filosóficas em algumas pinturas.





















DESENHOS COM ESFEROGRÁFICA

Os desenhos com caneta esferográfica conseguem refletir uma riqueza de detalhes em cada traço, que dialoga muito bem com a simplicidade dos materiais utilizados, caneta Bic e papel. Os protagonistas dessas obras costumam ser rostos imaginários repletos de beleza e harmonia e personalidades gamenses, como os músicos Manoel Pretto e Negodai Miranda, o arquiteto Ariomar Nogueira, o líder comunitário Antônio Formiga dentre outros.
































CHARGES


As charges são feitas em computação gráfica e possuem um apelo irreverente que se conecta com o humor, o deboche e a ironia, com destaque para a crítica política e retratos caricatos de momentos da história do Gama.


























Rock Lane é um artista genial, com um trabalho rico, profundo e sensível, que reflete com beleza e sofisticação esse sentimento tão único e inexplicável que compartilhamos pelo Gama, seus quadros, desenhos e charges são um registro importante da história e da cultura de nossa cidade, que é importante reconhecermos desde já, com a perspectiva de promover nossos artistas e seus trabalhos para mundo e a posteridade, como parte do nosso patrimônio histórico e cultural.