Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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domingo, 19 de junho de 2016

Espanha: Sondagem coloca Podemos e PSOE perto da maioria absoluta

Domingo, 19 de junho de 2016
As eleições de dia 26 podem afinal desbloquear a crise política espanhola, a julgar pela distribuição dos mandatos a partir da sondagem publicada este fim de semana pelo diário El País.

sábado, 17 de outubro de 2015

Espanhóis protestam contra políticas que geram desigualdade


Sábado, 17 de outubro de 2015
Da Agência Lusa /// Agência Brasil
Mais de 1,3 mil organizações da sociedade civil espanhola convocaram para hoje (17) mobilizações em meia centena de cidades, incluindo Madrid, para protestar contra as políticas que geram pobreza e desigualdade. O lema das manifestações é “As pessoas acima das multinacionais”.
Coincidindo com o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, o protesto na capital espanhola vai figurar como a “última grande ação” da semana global de iniciativas contra a pobreza e o Acordo Transatlântico de Livre Comércio e Investimento entre a União Europeia e os Estados Unidos, segundo os organizadores (TTIP).

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

IMPRENSA SILENCIOSA: Jornais pouco veiculam manifestação em Madri

Terça, 3 de fevereiro de 2015
Por Cristiano de Sales em 03/02/2015 na edição 836 do Observatório da Imprensa
Impressiona a pouca ênfase que os jornais de maior circulação no Brasil, em suas versões online, deram à manifestação ocorrida no sábado (31/1) num dos principais endereços da capital espanhola. Na busca de maiores informações sobre o ocorrido, pode-se digitar no Google, em português, a expressão “manifestação em Madrid” e ver uma série de respostas nos direcionando a sítios lusitanos. O número de participantes foi calculado em 100 mil
Se quisermos ler em nossos “principais” jornais o que houve na Espanha, temos que vasculhar os frames, as diferentes seções, e rolar um bocado a barra lateral de navegação para encontrarmos notícias compiladas da mesma fonte dos tais periódicos lusitanos.
A manifestação, que teve como força propulsora as eleições na Grécia, com a vitória do Syriza, parece não interessar muito aos periódicos que tantos favores prestam às forças econômicas estrangeiras. Mesmas forças que sufocaram a Grécia nisso que eles chamam de salvamento da economia da zona do euro. O problema não são as verdades ou mentiras sobre essa questão de salvamento da economia europeia. O problema é sempre aceitar que questões humanistas (até onde sei, a liberdade é uma questão de humanidade) possam ser sacrificadas em prol de um salvamento econômico. E é contra isso que os europeus começam a sinalizar ao eleger um governo de oposição na Grécia e ao tomarem as ruas de Madrid. E é exatamente isso que os jornais do Brasil preferem não fazer virar debate.
Noticiar, como fizeram o Estado de S.Paulo e O Globo, reproduzindo agências de notícias, está bem longe de transformar um assunto em debate. Aliás, essa manifestação não ganha destaque nem mesmo entre as notícias internacionais desses jornais. Ela aparece como mais uma dentre as tantas tristes notícias dos conflitos pelo mundo. Mas espera aí! Essa é uma notícia diferente. Ela talvez seja o contraponto às notícias deprimentes de conflitos que estamos acostumados a ver com tanta frequência (mesmo que essa manifestação gere conflitos).
A falta de interesse
Claro, para que haja debate sobre um fenômeno como esse é necessário tempo de digestão das informações e amadurecimento das ideias, mas o primeiro passo não foi dado, as informações não apareceram com o destaque que mereciam para resultarem em interesse público.
Um ponto, entre tantos outros de desdobramento sócio histórico, que poderia começar a ser trabalhado na veiculação desses acontecimentos, é a demonstração, por exemplo, das diferentes motivações com que se vai às ruas na Europa, se comparado ao Brasil. Sem querer estabelecer uma comparação reducionista e infrutífera entre os dois continentes, vale destacar o tipo de pautas que têm levado os europeus às ruas. Elas são mais subjetivas, abstratas, conceituais. A de Madrid foi convocada contra a austeridade do governo. É contra uma prática bastante objetiva do governo? Sim, mas é também contra um conceito, uma postura, uma ideia, uma solução.
As manifestações no Brasil têm um perfil um pouco mais pontual: reivindica-se, aparentemente, contra aumento de tarifas de transporte, contra falta d’água, contra falta de moradia (todas elas absolutamente legítimas). Não significa que por serem assim sejam menos dignas, significa que o país tem outro perfil, o de exigir (a própria população faz isso) que as pautas sejam claras e objetivas, e não subjetivas, ou pouco definidas. E a população exige isso muito em função da forma como os noticiários veiculam as manifestações; muito em função de como a mídia “fomenta” esse debate protegendo os interesses de grupos muito parecidos com aqueles que estão agora na mira das manifestações europeias. Daí a falta de interesse em fomentar publicamente essa discussão que em muito ajudaria a nós, brasileiros, entendermos que nossas manifestações também não são apenas pontuais, por 50 centavos, elas são também conceituais. Tomamos as ruas porque cada vez menos interferimos nas decisões da res publica. Isso não aparece no jornal.
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Cristiano de Sales é professor de Comunicação Social 
Fonte: Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Marcha do Podemos clama: “É a hora da Mudança”

Domingo, 1º de fevereiro de 2015
A Marcha da Mudança terá juntado mais de cem mil pessoas em Madrid
 
A Marcha da Mudança terá juntado neste sábado em Madrid mais de cem mil pessoas, segundo os cálculos de publico.es.

Durante a manifestação as palavras de ordem mais gritadas foram “Sim podemos”, “É a hora da mudança” e “O povo unido jamais será vencido”.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

É preciso romper com o euro

Terça, 12 de fevereiro de 2013
-No sentido de que nos é dito: "O Estado pode fazer com os orçamentos o que lhe der na gana, mas primeiro está o pagamento dos juros da dívida". É uma política destinada a desmantelar a área do Estado de bem-estar social e manter, ao mesmo tempo, os pagamentos de juros e da dívida. No Orçamento Geral do Estado deste ano destina-se mais orçamento para pagar os juros sobre a dívida do que para o pagamento de funcionários públicos. Não se impõem políticas de austeridade para dizer: "Vamos estabelecer um limite para a dívida, porque entendemos que isso supõe uma transferência de dinheiro dos cidadãos para o sector financeiro". A austeridade é sempre imposta sobre determinados itens e não sobre outros.
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A derrocada da Espanha também se pode dar dentro da zona euro, afirma investigador espanhol


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
por Alberto Montero Soler [*]
entrevistado por Natalia Aruguete
 
- Por que chama a Espanha de país "falido"?
Porque o volume dos seus passivos, das suas dívidas, é maior do que o dos seus activos. Se fosse uma empresa, a Espanha estaria falida. O volume da dívida que contraíram os particulares, as empresas, as famílias e o sistema financeiro, somada à que agora está contraindo o sector público, num contexto marcado por problemas de défice fiscal, torna absolutamente impossível pagar a dívida.

- Que decisões o governo deveria tomar?
-Reestruturar a dívida, não só alargando os prazos, mudando as taxas de juro e estabelecendo um período de carencia, mas também fazendo uma quitação . Grande parte dessa dívida deve ser assumida pelos credores, que emprestaram dinheiro e não avaliaram correctamente a parte do risco em que estavam a incorrer ao emprestar globalmente tal valor. Embora cada credor, individualmente, tenha tido uma postura cuidadosa, o resultado geral é uma dívida impossível de cumprir.

- Acha que há vontade política para implementar essa iniciativa?
-Não, nenhuma. Isto é a América Latina dos anos 80 e início dos 90. Trata-se de os credores espremerem os devedores até mais não poder. E depois será o que já se sabe.

- O que é que já se sabe?
- Que não vamos poder pagar a dívida. Então, para quê tanto ajuste, tanto sacrifício, se vai chegar um momento em que esta solução terá de se colocar? Por quê tanta dor nas pessoas, na sociedade, quando a solução final é uma só? Não se pode pagar a dívida.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Turismo en Espanha

Segunda, 11 de fevereiro de 2013 

por Luis Sepùlveda [*]

Como meio mundo já sabe, a Espanha é um dos destinos turísticos preferidos. Apesar de estarmos no Inverno a paisagem de esplanadas com sangria, chouriço, procissões, chouriço, sol, chouriço, uma cloaca mediterrânea, chouriço, gente simpática, chouriço e alegria contagiante ao ritmo de palminhas mantém-se inalterável.
E ainda que segundo os termómetros as temperaturas sejam baixas nesta época do ano, o ambiente está bastante aquecido, talvez para que os chouriços se conservem da maneira ideal. O turista notará de imediato que a Espanha é o primeiro produtor mundial de chouriço e que nesta rubrica produtiva se omite a participação do porco, nobre animal que não merece nenhuma comparação com a matéria-prima de que estão feitos os chouriços espanhóis.

Notória é a variedade "Chorizo Royal" com denominação de origem na Casa Real e cujo grande expoente é o genro do rei, Iñaqui Undargarín, um sujeito sem profissão conhecida, salvo a de chouriço, que ao amparo da monarquia criou, junto com a sua abnegada esposa e Infanta de Espanha, uma organização filantrópica sem fins lucrativos, recebeu vários milhões de euros do erário público e, por essas coisas da vida totalmente alheias à sua vontade, estes apareceram desviados para contas em bancos suíços e empresas inexistentes que, por pura casualidade, apareciam em seu nome e da Infanta.

Estas casualidades ofuscaram bastante os habitantes do simpático e acolhedor país que ostenta os títulos de campeões mundiais de futebol, campeões da Europa do mesmo desporto e campeões olímpicos em cortes sociais, cortes na educação, saúde, investigação científica e paraíso do despedimento livre e gratuito. Quase seis milhões de espanhóis sem trabalho podem hoje dedicar o seu tempo à contemplação das belezas naturais e 52 em cada cem jovens menores de 30 anos dispõem de todo o tempo livre imaginável graças à política laboral de um governo que, dotado de uma maioria absoluta, aumenta a cada dia o monstruoso número de pessoas que descem morro abaixo, da classe média à pobreza e daí à miséria.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Espanha: Povos X Dívida

Sexta, 13 de julho de 2012
Da "Auditoria Cidadã da Dívida" 
Ontem, massivos protestos ocorreram na Espanha, contra os cortes de gastos sociais de 65 bilhões de euros. Haverá aumento de tributos, cortes de salários de servidores públicos, redução do auxílio-desemprego e alteração nas regras de aposentadorias, dentre outras nefastas medidas neoliberais, como as privatizações. Tudo para permitir o pagamento de uma dívida ilegítima, em grande parte feita para salvar bancos privados. Foram registrados 76 feridos e 17 presos.

Como sempre, o governo tenta justificar as medidas com o argumento do “déficit público”, dizendo que “Nosso gasto público excede nossa receita em dezenas de bilhões de euros”. Porém, há poucas semanas o mesmo governo espanhol estatizou quase 50% do Bankia, transferindo para o Estado a parte podre daquele banco, além de diversas outras obrigações assumidas para sanear o setor financeiro, que vêm onerando fortemente os gastos públicos, gerando novas dívidas. A “ajuda” prestada pelo FMI e Banco Central Europeu vem condicionada  às medidas neoliberais do que exigem o corte de gastos sociais e aumento de tributos, ou seja, tremendo sacrifício social, aprofundando a recessão. A situação econômica piora com a recessão e novos planos de ajuste ainda mais rigorosos vão sendo impostos sob a justificativa da necessidade de mais cortes. É evidente que esse ciclo vicioso leva a situação extremamente negativa e, ao invés de solucionar a crise está aprofundando.

No Brasil, o governo segue a mesma linha de “combate” à crise, provocando a queda do salário real dos servidores públicos, e tentando obstruir no Congresso qualquer projeto que recupere perdas dos trabalhadores e aposentados, tais como o Piso dos Policiais e Bombeiros Estaduais (PEC 300), a redução da jornada dos Enfermeiros, o fim do Fator Previdenciário, ou os 10% do PIB para a Educação (que tal como foi aprovado pode vir a se concretizar somente em 2023).

Esta política atinge até mesmo os recursos destinados para a prevenção e combate a desastres naturais (como as recorrentes enchentes). Apesar das constantes propagandas oficiais sobre a criação de diversos programas – tais como o “Protocolo Nacional para a Proteção Integral de Crianças e Adolescentes”, criado ontem durante a “Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente”, e que  visa “proteger de forma imediata e prioritária crianças e adolescentes em situação de calamidades e eventos ambientais graves” – a prática é bastante diferente. Dos R$ 403 milhões previstos neste ano para “Apoio a Obras Preventivas de Desastres”, nenhum centavo havia sido liberado até 2 de julho.

De acordo com o artigo 13 da Lei nº 11.943/2009 (conversão da Medida Provisória nº 450), tudo que não for gasto, referente a qualquer rubrica orçamentária, ao final do ano poderá ser direcionado ao pagamento do serviço da dívida pública. Mesmo que tais recursos estejam, por lei ordinária, destinados a determinado gasto social.

sábado, 9 de junho de 2012

O quarto caído: Espanha

Sábado, 9 de junho de 2012
De "resistir.info"
Depois da Grécia, de Portugal e da Irlanda, chegou a vez da Espanha. Hoje, 9 de Junho, o governo espanhol pediu a "ajuda" da UE para salvar bancos em ruína. Ou seja, o Estado espanhol aumenta brutalmente a dívida pública do país aceitando empréstimos do EFSF a fim de salvar os seus banqueiros privados. Segue-se que, para sustentar o agravamento do serviço da dívida pública, o Orçamento de Estado terá de cortar benefícios sociais do povo espanhol. Será o povo a pagar as aventuras dos banksters.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Sim, há a Grécia... Mas e a Espanha?

Terça, 22 de maio de 2012
De "Resistir.info"

por Yanis Varoufakis [*]
Cartoon de Ferran. Vamos, para argumentar, admitir que nós gregos somos perdulários, preguiçosos, corruptos, propensos ao défice, aproveitadores do árduo trabalho dos europeus. Mas o que dizer dos espanhóis?
  • Será que o governo espanhol não tinha um excedente orçamental antes de irromper a crise?
  • Era a dívida pública espanhola não inferior à da Alemanha antes de irromper a crise?
  • Não era a Espanha o único país que, bastante notavelmente, conseguiu encenar uns Jogos Olímpicos que (a) foram lucrativos e (b) deixaram atrás de si esplêndidas instalações e renovação urbana (ao contrário de dívidas e elefantes brancos)?
  • Será que a Espanha não desenvolveu firmas (como a Zara) que mostraram à Europa que é possível competir com o Extremo Oriente em sectores que o resto da Europa havia exportado (pelo menos em termos de emprego e trabalho intensivo)?
  • Não era a Espanha local de produção da indústria pesada alemã (ex.: o Seat da Volkswagen) que produzia saudáveis lucros alemães?
E ainda assim este mesmo país encontra-se no mesmo buraco negro em que a Grécia caiu dois anos atrás. Como pode isto ser possível se, como insiste a visão convencional, a crise deveu-se ao estilo de vida perdulário dos gregos?

Mesmo o olhar mais superficial ao que está a acontecer na Espanha de hoje convencerá o leitor de espírito aberto que há algo profundamente errado com a visão convencional de um núcleo "racional" – a visão que insiste em receitas económicas racionais, e na falha da periferia, a qual está a tentar esquivar-se às suas responsabilidades.

Desde o último Verão, as perdas dos bancos espanhóis (provocadas por ridículas apostas no imobiliário financiadas principalmente por bancos alemães) têm sido descarregadas sobre os ombros do Estado espanhol, o que resultou em que este último foi efectivamente excluído dos mercados monetários (graças a taxas de juro ultrapassando os 5%). Assim, para evitar declarar que a Espanha se juntou formalmente às fileiras da Grécia, da Irlanda e de Portugal como o quarto "soberano caído", os detentores do poder da Europa saíram-se com a seguinte ideia brilhante:
'. 1. O BCE passará a aceitar qualquer pedaço de papel que lhe seja apresentado por bancos da Espanha como "colateral" de empréstimos maciços concedidos à taxa de juro de 1%.

2. Mas não importa quanto de empréstimos se dê ao insolvente, a insolvência não acaba – os bancos espanhóis estavam simplesmente a comprar tempo com isto. Por esta razão, a Europa considerou apropriado que o Estado espanhol devesse tomar emprestado mais dinheiro a taxas de juro entre os 4 e os 5 por cento (possivelmente junto ao EFSF, o fundo de salvamento da Europa) a fim de entregá-los aos bancos na forma de "recapitalização".

3. Como o Estado espanhol, em consequência da nova contracção de empréstimo, é empurrado para a insolvência profunda, algo tinha de ser feito a fim de que pudesse refinanciar-se. Assim, foi isto que eles decidiram: Os mesmos bancos (insolventes) que recebem capital do Estado deveriam emprestar ao Estado (a juro de 6 por cento) parte dos empréstimos que estão a receber do BCE (a juro de 1 por cento).
Percebe, caro leitor, o que se está a passar ali? Os bancos que entraram em bancarrota devido à sua própria idiotice transferiram suas perdas para um Estado que estava, até então, a conseguir apresentar um excedente orçamental. Este Estado e os contribuintes são encerrados numa insolvência a longo prazo. Então estes mesmos bancos protegidos por empréstimos baratíssimos do BCE os quais emprestaram, parcialmente, ao Estado que levaram à bancarrota a enormes taxas de juro enquanto, ao mesmo tempo, dele arrecadam... capital. E a fim de permitir esta "solução" às dificuldades da Espanha, a Europa impôs a este país uma austeridade desbragada que mina o rendimento nacional a partir do qual o Estado deve arrecadar os impostos que reembolsarão todos estes empréstimos que foi forçado a suportar.

Assim, quando jornalistas do mundo todo, colegas economistas de climas nórdicos, políticos alemães e holandeses, etc, apontam o dedo ao eleitorado grego por ter feito a opção "errada" nas eleições, isto é, por se ter esquivado ao Grande Plano da Europa para ultrapassar a crise, respondo violentamente: admitirei tudo o que quiserem acerca dos meus compatriotas gregos na condição de que me dêem uma resposta plausível a uma pergunta simples: O que está a Europa a fazer à Espanha como parte deste Grande Plano?
17/Maio/2012
[*] Autor de The Global Minotaur: America, The True Origins of the Financial Crisis and the Future of the World Economy e de Modern Political Economics: Making Sense of the Post-2008 World

Acerca da nacionalização parcial do Bankia pelo governo espanhol (transformou em acções uma dívida de 4.465 milhões de euros do banco para com o Estado) e da posterior corrida bancária ver:
  • Ceci n'est pas un bank run
  • El gran despilfarro: La crisis bancaria en España


  • Banco Central Europeo: un pirómano al servicio de la banca privada

    O original encontra-se em www.huffingtonpost.com/yanis-varoufakis/greece-spain-eurocrisis_b_1524898.html


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • domingo, 29 de maio de 2011

    Maio Espanhol: às portas de um novo tempo?

    Domingo, 29 de maio de 2011
    “Eles não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”
    Israel Dutra*

    A velocidade das notícias, no atual período turbulento que vive o planeta, se multiplica.

    A morte de Bin Laden e a prisão de Strauss-Kahn trouxeram à tona mais incertezas no complexo cenário mundial. Contudo, um elemento novo, surpreendeu a todos. A irrupção do movimento de “indignados” em Madrid acelerou ainda mais a história. Seguido por quase 200 manifestações em todo o território espanhol, mobilizou centenas de milhares de pessoas no país. O “15-M”[alusivo a data da primeira manifestação] rompeu a apatia do calendário eleitoral espanhol. Em pleno 2011, temos um novo Maio na Europa. A juventude e o movimento dos “indignados” estão construindo uma ponte com as revoluções do mundo árabe e a luta do povo da Islândia contra os bancos e a crise. Foram manifestações que tomaram as praças centrais de Barcelona, Valencia, Granada, Sevilha, organizando acampamentos permanentes, com decisões assembleístas, atividades diárias, intervenções artísticas. Mesmo proibidos, centenas de milhares de pessoas, no dia da eleições[22 de março] desafiaram o Supremo Tribunal e tomaram as ruas de todo o país. Uma semana em que a Espanha respirou sua nova primavera política.

    A mobilização da “Puerta del Sol”[1] trouxe, como bem afirmou Pedro Fuentes, a praça Tahrir para o coração da Europa.

    A geração # : à rasca, sem futuro e indignada
    As bases fundamentais para a mobilização da Puerta del Sol que se alastrou por toda Espanha combinam dois elementos: os efeitos cada vez mais duros da crise econômica e a marginalização política, efeito do regime controlados por uma partidocracia. A juventude que se expressa nas praças tem constantemente recebido o “não” como resposta. Não há vagas, não há lugar para intervir politicamente,não há moradia digna, não há educação de qualidade, não há possibilidades, não há futuro. A elite social e política espanhola, controlada pelo bipartidarismo a serviço dos bancos fez “ouvidos moucos” durante muito tempo. Agora o barulho é ensurdecedor.

    A relação que existe com os processos de mobilização recente do mundo árabe é direta. Não apenas pela eficácia das convocações que, burlando os mecanismos “oficiais”, ocorreram via as redes sociais e formas de comunicação alternativa. A identidade é bem maior. Nas praças da Espanha se podia ouvir referencias tanto a Praça Tahrir quanto a Islândia[país que aprovou o não pagamento de dívida com bancos em dois referendos populares]. Solidários na precarização, solidário na luta. Como referência aos islandeses, que protestaram por um ano durante todos os sábados, os manifestantes cantavam: “Espanha em pé, uma Islândia é”.

    Segundo dados oficiais, a Espanha atravessa uma condição histórica de desemprego: ultrapassa os 20%, chegando a quase metade da população quando considerados apenas os estratos mais jovens. Os cortes no orçamento atingem em cheio os serviços públicos essenciais. As execuções hipotecárias deixaram quase meio milhão de pessoas sem teto nos últimos anos. Apenas em 2009/2010 foram 270 mil espanhóis que perderam suas casas.

    A juventude da Europa está no seu limite enquanto projeto de futuro. Há uma terrível curva descendente na escala da mobilidade social. Os filhos e netos não terão condições de competir no mercado e manter o nível de vida das gerações anteriores. A face portuguesa deste movimento se manifestou da mesma forma, espontânea e radicalizada, na manifestação do último 12 de março. Convocada por meios alternativos como o Facebook, a manifestação reuniu a juventude que se autodenomina “Geração à rasca” [alusão a condição precária da juventude portuguesa]. O 12-M foi a maior manifestação deste país desde a Revolução dos Cravos. Os protestos renderam ampla repercussão, precipitando a queda de Sócrates. A juventude tomou a cena em Portugal. O escritor Mia Couto analisou da seguinte forma:

    “Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que coleciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.”

    A nova geração, diplomada e sem perspectiva, conhece violenta e dramaticamente a política. À sua exclusão, social, cultural e econômica responde com uma saída coletiva e indignada. A juventude “Indignada” como seus pares da “Geração à Rasca” e mesmo os “diplomados” da Tunísia são produto direto da crise estrutural do capitalismo.

    Nem socialdemocratas, nem conservadores
    O movimento “Democracia Real”[ nome da articulação que organizou a convocatória do 15-M] inverte a lógica fria do regime democrático liberal.

    Na Espanha, como em Portugal e na Grécia, quem aplica as medidas de austeridade é o Partido Socialista. Foi na gestão de Zapatero, ícone do social-liberalismo que se deram os cortes mais brutais. Para se ter ideia, o governo reduziu 15 bilhões dos gastos do orçamento público.

    Além do controle exercido pelo Bipartidarismo na esfera dos postos executivos e legislativos, as organizações sociais e sindicais também são parte da crítica. As duas maiores centrais sindicais são espaços burocráticos e sem representatividade[UGT, CCOO]. No ano passado, o governo impôs o aumento da idade para a aposentadoria- a partir da nova lei, o mínimo será de 67 anos. Também foram privatizados setores como aeroportos e loterias. Tudo em nome da “austeridade fiscal”. As entidades sindicais não estabeleceram nenhum plano coerente de lutas. Pressionados pela base, por uma série de greves radicalizadas- como do metrô de Madrid- as direções convocaram uma greve geral em 29 de setembro de 2010. Apesar da condução morna e das atividades dispersas, a greve não foi “protocolar”. Grandes jornadas mostraram a disposição de luta dos trabalhadores, dos serviços, das funções públicas e da indústria. Uma vez mais, as centrais apresentaram seu caráter nefasto, não encaminharam nenhuma nova luta ou paralisação, acabando por aceitar a proposta do governo como um “mal menor”. Todos passos foram dados sem consultar as bases sindicais. O legítimo “pacto de cúpula”.

    A irrupção da juventude, seguida por muitos trabalhadores, aposentados e setores da socidade civil não seguiu nenhum “script”. O Movimento Democracia Real desconheceu as “cúpulas” e direções sindicais. Os “políticos tradicionais” também foram atropelados pela ânsia de mudanças.

    A proibição por parte do Supremo Tribunal das manifestações nos dias 21 e 22[véspera e data das eleições municipais] só demonstra a insensibilidade do Estabilshment. Os protestos se reproduziram de forma ainda mais massiva.

    O resultado da eleição foi custoso para Zapatero. Uma derrota histórica. Os socialistas perderam em toda a Espanha. Após 32 anos, o Partido Socialista perdeu o governo de Barcelona. Os resultados de Bildu- coalizão da esquerda independentista no País Basco- afirmam que não é uma derrota de toda a “esquerda”. Quem sai derrotada é a fração majoritária da esquerda, que há muito aderiu ao social-liberalismo. O elevado número de votos nulos e brancos também é um sinal nesta direção. A lição das urnas, em que pese a vitória dos conservadores como produto do desgaste do PSOE, só confirma o que dizem as praças: o que se vive na Espanha é um simulacro de democracia.

    O recurso à insurreição
    O difícil quadro político poderia levar ao ceticismo? As praças da Espanha afirmam o contrário. Além de resistir contra as medidas de austeridade e rejeitar esta democracia, o movimento 15-M recorre a um velho método: o da mobilização. Um velho método, aliás, sempre reinventado, de forma criativa e crítica. O dia 15-M restituiu o próprio sentido da política na vida espanhola. Contra aqueles que acusam o movimento de ser “apolítico” vale ressaltar que ali, na praça, em sete dias, se fez uma política concentrada. Uma política que acelerou os tempos históricos. Nada da monotonia dos acordos parlamentares, dos bastidores sindicais, da corrupção legal ou ilegal do Estado. A política na sua forma plena, com conteúdo democrático, a decisão oriunda da coletividade, da Assembleia, da barricada. O “SOL” da praça de Madrid é mais do que uma metáfora. O conteúdo da ideia de “democracia real” é uma demanda atual. Necessária. Como ilustrou bem Atílio Boron, comparando o 15-M com a Comuna de Paris:

    “Basta ver os documentos dos “indignados” de hoje para comprovar a assombrosas atualidade com as demandas dos comunardos e o pouco, muito pouco que mudou da política do capitalismo. Os jovens e os nem tão jovens que lotam umas 150 praças na Espanha não são “apolíticos” ou “antipolíticos” como certos setores da imprensa querem fazer crer, são gente profundamente politizada que se levam a sério na promessa da democracia e que, por isso mesmo, se rebelam contra a falsa democracia surgida das entranhas do franquismo e consagrada no tão aplaudido Pacto de Moncloa, exibido como um ato exemplar de engenharia política democrática”.

    E não apenas a distante Comuna que ressurge nas praças e nos criativos cartazes do 15-M. Também as manifestações do movimento antiglobalização que tiveram lugar na virada do século e as grandes rebeliões da América Latina do mesmo período. A nova geração se une aos antigos lutadores, dando lugar a uma linda confraternização.

    Tudo na praça é discutido. O clima de democracia direta e participação ativa é diretamente oposto ao que criticam no modelo oficial. Todas as tardes uma nova assembleia discute os próximos passos, conectando-se com os outros acampados do país. As equipes artísticas garantem apresentação de peças de teatros, exposição de cartazes, debates culturais, exibição de vídeos.

    O programa de reivindicações também é discutido: vai desde a taxação das grandes empresas até a incorporação de demandas como habitação, educação, emprego. Um ponto importante é a defesa que o movimento assume dos jovens e trabalhadores imigrantes. Fica claro que “Democracia Real” é bem mais do que um slogan. É um conceito, em construção, que define o “novo”, o que está nascendo nas esquinas da Espanha. A força inventiva da coletividade oferece um projeto para salvar a Espanha do caos dos banqueiros e da UE.

    Às portas de um novo 1968?
    Os desdobramentos do "Maio Espanhol" ainda são imprevísiveis. O fato é que a Espanha entrou de vez numa dinâmica de protestos e mobilização social, a partir do 15-M. Porém, quais passos, quais limites?

    O que assistimos nos últimos anos nos países onde aconteceram importantes processo de luta contra planos de ajuste e retirada de direitos foi o desgaste dos governos de turno e sua substituição pela via mais "crível" da oposição. O pêndulo oscila na hegemonia da sociedade e a insatisfação acaba canalizada pela "alternância" eleitoral. Sai o PSOE entra o partido conservador, a alternativa na França de Sarkozy são os Socialistas. Ou seja, uma dinâmica que não consegue superar os limites da luta defensiva e acaba se dispersando no terreno da luta política.

    A referência a outro "Maio", o de 68, é fundamental. O "ano das revoluções" foi um marco por conta da singularidade do processo: massivo, combinado e profundo. Massivo porque milhões em todos os continentes, de forma mais ou menos espontanea, mais ou menos sincronizada saíram às ruas para contestar o poder vigente. Combinado porque convergiram inúmeras lutas, desde a luta por um "socialismo com rosto humano" na Primavera de Praga, a luta dentro dos Estados Unidos contra a guerra, nos países latino-americanos, chegando ao questionamento do regime francês, uma democracia européia desenvolvida. E profundo, pois chegou a colocar em xeque o governo, inaguarando a inédita hipótese de crise revolucionária na França.

    O movimento atual está longe deste patamar. Contudo, o "fantasma" de 1968 ronda a Puerta del Sol. Uma definição mais cautelosa poderia afirmar que estamos num movimento cuja força potencial está no meio do caminho entre o movimento antiglobalização [iniciado em Seattle em 99] e as lutas de 1968. Mais perto de Seattle do que do maio francês.

    O que esperar do futuro imediato destes novos processos?  Três fatores nos ajudam a pensar o que pode vir pela frente: a linha do BCE (Banco Central Europeu) tem sido errática para enfrentar a crise da dívida; o fato de que não existe nenhum sinal de recuperação da economia na Europa- a OCDE prevê que a Espanha vai demorar 15 anos para voltar a ter taxas de desemprego idênticas ao período anterior a crise; e por fim, o fator determinante: a capacidade de resistência social aos planos de austeridade.

    Não sabemos o que pode passar. Novas manifestações estão convocadas. A tarefa é ampliar e estender os protestos. Ampliar para os trabalhadores e desempregados. Para os Imigrantes. Das praças da Espanha para as praças de toda a Europa. E conectar. Conectar-se com as revoluções árabes, com o exemplo islandês, com a resistência nos outros cantos do mundo. O futuro imediato do 15-M depende da força das mobilizações nos países onde a crise social se encontra em estágios avançados.

    A Grécia é o grande vulcão que pode entrar em erupção e dar o esperado "salto de qualidade". No dia 25 de Maio, dezenas de milhares de pessoas cercaram o parlamento grego. Uma bandeira gigante da Espanha abriu a manifestação: “Estamos despiertos, ya es hora que se vayan”

    Nas manifestações gregas de 08/09 uma faixa se destacou. Seus dizeres "Povos da Europa, Levantem-se".
    Nas manifestações em Madrid e Barcelona outra faixa chamou a atenção. "Neste verão... te convidamos a virar do Avesso o mundo".

    Da resposta a este chamado depende o futuro.
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    [1] A “Puerta del Sol”  fica no centro de Madrid e é o quilometro zero de todas as estradas espanholas.
    Israel Dutra, sociólogo e membro da direção nacional do PSOL