Publicado em resistir.info
Neste estudo, decidimos identificar em pormenor as pessoas nos conselhos de
administração (CA)
(boards of directors)
das dez principais firmas de administração de activo e as dez
principais corporações mais centralizadas no mundo. Devido a
sobreposições, há um total de treze firmas, as quais
colectivamente têm 161 administradores nos seus CA. Pensamos que este
grupo de 161 indivíduos representa o núcleo financeiro da classe
capitalista transnacional do mundo. Eles administram colectivamente U$23,91
milhões de milhões
(trillion)
em fundos e operam em praticamente todos os países do mundo. Eles
constituem o centro do capital financeiro que movimenta o sistema
económico global. Os governos ocidentais e os corpos políticos
internacionais trabalham de acordo com os interesses deste núcleo
financeiro a fim de proteger o fluxo irrestrito de capital de investimento em
qualquer lugar do mundo.
Uma breve história da investigação sobre a elite do poder
americana
Uma longa tradição de investigação
sociológica documenta a existência de uma classe dominante nos
Estados Unidos, cujos membros traçam directivas e determinam prioridades
políticas nacionais. A classe dominante americana é complexa e
competitiva, perpetuando-se através da interacção de
famílias de alto padrão social com estilos de vida,
ligações corporativas e pertença a clubes sociais e
escolas privadas semelhantes.
Já foi determinado há muito que a classe dominante americana
é sobretudo auto-perpetuante, mantendo sua influência através de instituições
elaboradoras de políticas tais como a National Association of
Manufacturers, a US Chamber of Commerce, o Business Council, Business
Roundtable, o Conference Board, American Enterprise Institute for Public Policy
Research, Council on Foreign Relations, e outros grupos de política
centrados nos negócios. Estas associações desde há muito dominaram as
decisões políticas dentro do governo estado-unidense.
No seu livro de 1956,
The Power Elite
, C. Wright Mills documentou como a II Guerra Mundial solidificou a trindade de
poder nos EUA que compreendia corporações, militares e elites
governantes numa estrutura de pode centralizada pelos interesses de classe e a
trabalhar em uníssono por todos os "alto círculos" de
contacto e acordo. Mills descreveu como a elite do poder eram aqueles "que
decidiam tudo o que fosse para ser decidido" com consequências
importantes. Estes decisores do círculo mais alto tendiam a estar preocupados com
relacionamentos inter-organizacionais e o funcionamento da economia como um
todo, ao invés da promoção dos seus interesses
corporativos particulares.
As elites políticas do círculo mais alto
(higher-circle policy elites, HCPE)
constituem um segmento da classe superior americana e são os principais
decisores na sociedade. Embora estas elites mostrem alguma noção
do "senso de nós"
(we-ness"),
eles também tendem a ter desacordos contínuos sobre
políticas específicas e acções necessárias
em várias circunstâncias sócio-políticas. Estes desacordos podem bloquear respostas reaccionárias agressivas a
movimentos sociais e distúrbios civis, como no caso do movimento
trabalhista na década de 1930 e o movimento de direitos civis na
década de 1960. Durante estes dois períodos, os elementos mais
liberais das HCPE tendiam a dominar o processo de tomada de decisão e
apoiou a aprovação das leis de Relações
Trabalhistas Nacionais e de Segurança Social em 1935, bem como as leis
de Direitos Civis e Oportunidades Económicas em 1964. Estas peças
de legislação eram vistas como concessões aos movimentos
sociais em curso e a inquietações civis, e foram implementadas ao
invés de instituir políticas mais repressivas.
Entretanto, durante período de ameaças vindas de inimigos
externos, como nas I e II Guerras Mundiais, elementos mais
conservadores/reaccionários da HCPE avançaram com êxito nas
suas agendas. Durante e após a I Guerra Mundial, os Estados Unidos
instituíram respostas repressivas a movimentos sociais, como por exemplo
através dos Palmer Raids e da aprovação do Espionage Act
de 1917 e do Sediction Act de 1918. Após a II Guerra Mundial, a HCPE
permitiu e encorajou os ataques da era McCarthy contra liberais e radicais e,
em 1947, a aprovação do National Security Act e da lei
trabalhista Taft-Hartley. Nos últimos vinte e cinco anos, e
especialmente desde os eventos do 11/Set, a HCPE nos EUA tem estado unida no
apoio a um império americano de poder militar que mantenha uma guerra
repressiva contra grupos de resistência – tipicamente alcunhados
como "terroristas" – em todo o mundo. Esta guerra ao terror
é muito mais acerca de proteger a globalização
transnacionais, a livre movimentação do capital financeiro, a
hegemonia do dólar e o acesso ao petróleo do que acerca da
repressão ao terrorismo. Cada vez mais, a Organização do
Tratado do Atlântico Norte (NATO) é uma associada dos interesses
de dominação global dos EUA.
A classe capitalista transnacional (CCT)
Elites do poder capitalista existem em todo o mundo. A
globalização do comércio e do capital leva as elites do
mundo a relacionamentos cada vez mais interconectados – até o ponto
em que sociólogos começaram a teorizar o desenvolvimento de uma
classe capitalista transnacional (CCT)
(transnational capitalist class).
Num dos trabalhos pioneiros neste campo,
The Transnational Capitalist Class
(2000), Leslie Sklair argumentou que a globalização elevou
as corporações transnacionais (TNC) a papéis mais
influentes, com o resultado de que nações-estado tornaram-se
menos significantes do que acordos internacionais desenvolvidos através
da Organização Mundial de Comércio (OMC) e outras
instituições internacionais. A emergir destas corporações multinacionais estavam uma classe
capitalista transnacional, cujas lealdades e interesses, se bem que ainda
enraizadas nas suas corporações, eram cada vez mais de
âmbito internacional. Sklair escreveu:
A classe capitalista transnacional pode ser analiticamente dividida em quatro
fracções principais: (i) proprietários e controladores das
TNC e suas filiais locais; (ii) burocratas e políticos da
globalização; (iii) profissionais da globalização;
(iv) elites promotoras do consumo (comerciantes e media). Também
é importante notar, naturalmente, que a CCT e cada uma das suas
fracções nem sempre está inteiramente sobre todas as
questões. No entanto, em conjunto, as pessoas principais nestes grupos
constituem uma elite do poder global, a classe dominante ou círculo
interno no sentido de que estas expressões têm sido utilizadas
para caracterizar as estruturas da classe dominante de países
específicos.
Seguiu-se William Robinson em 2004 com o seu livro
A Theory of Global Capitalism: Production, Class, and State in a Transnational
World. Robinson afirmou que 500 anos de capitalismo haviam levado a uma
mudança de época na qual toda actividade humana é
transformada em capital. Deste ponto de vista, o mundo tornou-se um mercado
único
(single market),
o qual privatizou relacionamentos sociais. Ele viu a CCT como a partilhar cada
vez mais estilos de vida, padrões de educação superior e
consumo semelhantes. A circulação global de capital está
no cerne de uma burguesia internacional, a qual opera em grupos
(clusters)
oligopólicos por todo o mundo. Estes grupos de elites formam
alianças transnacionais estratégicas através de
fusões e aquisições com o objectivo de
concentração acrescida da riqueza e do capital. O processo cria
uma poliarquia de elites hegemónicas. A concentração de
riqueza e poder a este nível tende à
super-acumulação, levando a investimentos especulativos e
guerras. A CCT faz esforços para corrigir e proteger seus interesses por
meio de organizações globais como o Banco Mundial, o Fundo
Monetário Internacional, o G20, o Fórum Social Mundial, a
Comissão Trilateral, o Grupo Bilderberg, o Banco Internacional de
Pagamentos e outras associações transnacionais. Robinson afirmou
que, dentro deste sistema, nações-estado tornam-se pouco mais do
que zonas de contenção de população e que o poder
real jaz nos decisores que controlam o capital global.