Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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domingo, 25 de março de 2018

Mudança tecnológica e empobrecimento

Domingo, 25 de março de 2018
Do Resistir.Info

por Prabhat Patnaik [*]
O facto de os efeitos sócio-económicos da mudança tecnológica dependerem das relações de propriedade em que se verifica a mudança é óbvio, mas muitas vezes é ignorado.

Considere-se um exemplo simples. Suponha-se que numa certa área 100 trabalhadores fossem contratados para efectuar a colheita a custo total de 5000 rúpias, mas o capitalista dono da terra decide ao invés utilizar uma ceifeira debulhadora. Assim, o rendimento dos trabalhadores cai em Rs 5000. O custo salarial do capitalista dono da terra cai em Rs 5000, os quais são acrescidos aos seus lucros. Mas suponha que a ceifeira debulhadora fosse possuída por um colectivo de trabalhadores. Então eles podem ganhar as mesmas Rs 5000, agora não mais como trabalhadores como os possuidores colectivos da ceifeira debulhadora; de modo que o que eles perderiam como rendimento salarial obteriam de volta como rendimento do lucro pela utilização da ceifeira. O seu rendimento permaneceria inalterado ao passo que o seu tempo de lazer teria crescido e a labuta do trabalho para eles teria diminuído.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

A (des)união europeia

Quinta, 16 de junho de 2016
Do resistir.info

A câmara alta do Parlamento suíço acaba de cancelar o pedido de adesão do país à União Europeia , que fora apresentado em 1992. Vinte e sete senadores votaram pelo cancelamento, 13 foram contra e dois se abstiveram.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A indiscutível ditadura dos banqueiros

Quinta, 7 de janeiro de 2016
por João Carlos Lopes Pereira [*]
Diz-se que o direito de propriedade é o direito real que dá a uma pessoa ou entidade (dito «proprietário») a posse de uma coisa, em todas as suas relações e consequências. É, por isso, o direito, ou a faculdade de usar, gozar e dispor dessa coisa, além do direito de reavê-la de quem injustamente a possua ou detenha. É um direito absoluto, perpétuo e exclusivo.

Por outro lado, segundo a filosofia política e económica, as regras, as disposições e as directivas da União Europeia, que são do mais neoliberal que podia haver, o Estado deve ser a entidade que menos património pode ter. Aliás, nenhum património na posse do Estado seria, para ela, UE, o ideal. Pelo contrário, os privados – pessoas e entidades – podem possuir tudo aquilo a que conseguirem deitar a mão, não havendo outro limite para a possessão a não ser o céu. Tudo deve ser privado, a começar na banca e a terminar no ar (logo que haja tecnologia que torne o desiderato possível), passando pela água.

Mas serão as coisas exactamente assim? Será assim que elas se passam, na prática, para todos nós e para toda a propriedade? Logo veremos que não.

Comecemos pelo caso de um banco e de uma companhia aérea. Nacionalizar um banco que esteja de boa saúde não é possível. Diz a UE que é roubar o banqueiro. Mas nacionalizar um banco falido é coisa perfeitamente aceitável. Os lucros para os banqueiros; os prejuízos para os contribuintes do costume. Porém, assim que nós, os contribuintes, resgatarmos o banco, nele investindo milhares de milhões de euros, ele deverá ser entregue, a qualquer preço, a um novo banqueiro. Aqui, os proprietários de facto – os tributados que salvaram o banco com o dinheiro dos seus impostos – não têm o direito de ser os seus legítimos donos, pois esse direito é consignado a um outro banqueiro privado, ainda que não tenha coberto, sequer, o valor que os contribuintes pagaram (vide BPN
[Banco Português de Negócios], por exemplo). Significa que todos os cidadãos foram obrigados a oferecer a outra pessoa o banco que compraram. A isto chama-se um acto de pura espoliação, e por isso, totalmente desconforme com as mais elementares bases e pressupostos não só do direito, mas de um regime democrático. É saque desenfreado. Puro e duro.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

"Dark Mail Alliance" planeja manter a NSA fora da sua caixa de correio

Segunda, 4 de novembro de 2013
por Ryan Gallagher [*]
Do resistir.info

O email pode estar em vésperas de uma remodelação radical – e a NSA não vai gostar disso.

Em 30 de Outubro, duas companhias americanas com um historial de oferta de comunicações privadas encriptadas, juntaram forças num lance sem precedentes para reagir à espionagem na Internet. Alguns dos principais criptógrafos do mundo estão por trás do fornecedor de comunicações seguras Silent Circle. E eles juntaram-se ao fundador da Lavabit, o fornecedor de email utilizado por Edward Snowden que recentemente resolveu encerrar a empresa a fim de resistir à vigilância. Eles denominaram "Dark Mail Alliance" a esta união de esforços. Durante meses, a equipe tem estado a trabalhar silenciosamente na reconstrução do email tal como o conhecemos – e afirmam que conseguiram um feito extraordinário.


A tecnologia recém desenvolvida foi concebida de modo a parecer como um email comum, com um interface que inclui todas as pastas habituais – inbox, mail enviado e rascunhos, de modo que os utilizadores da tecnologia Dark Mail serão capazes de comunicarem-se com segurança. A encriptação, baseada num protocolo de mensagem instantânea da Silent Circle denominado SCIMP, aplicar-se-á tanto ao conteúdo como aos metadados da mensagem e também aos seus anexos. E as chaves secretas geradas para encriptar as comunicações serão efémeras, o que significa que serão eliminadas após cada troca de mensagens.

sábado, 2 de novembro de 2013

O Brasil está maduro para o socialismo

Sábado, 2 de novembro de 2013
por Edmilson Costa
Introdução
 
Ao contrário da Rússia no período da revolução bolchevique ou da revolução chinesa de 1949, cujas transformações foram realizadas em nações atrasadas do ponto de vista econômico, o Brasil possui uma economia moderna, com elevado nível de desenvolvimento das forças produtivas, destacando-se uma industrialização integrada e dinâmica, avançado processo capitalista no campo, portanto maduro para o socialismo, muito mais maduro do que aquelas sociedades que fizeram suas revoluções na primeira metade do século XX. Quando os bolcheviques tomaram o poder em 1917 encontraram um país com uma economia basicamente agrária e uma classe operária restrita apenas a algumas franjas industriais nas grandes cidades. Os revolucionários chineses, quando conquistaram o poder em 1949, encontraram também um país agrário, com a absoluta maioria dos trabalhadores no campo.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

"A luta contra o reformismo e o oportunismo é a principal batalha dos revolucionários na atualidade"

Terça, 29 de outubro de 2013
Manifestação de professores no Rio de Janeiro, Outubro/2013.

















por Ivan Pinheiro [*]

Unidad y Lucha: Camarada Ivan, há uns meses o Brasil viveu fortes mobilizações populares iniciadas por causa do preço das passagens de ônibus. Você pode comentar que análise faz o PCB desses movimentos?

Ivan Pinheiro: A manifestações no Brasil não terminaram, apenas se encontram em fogo baixo. O reajuste das tarifas de ônibus só destampou uma panela de pressão social que misturava inúmeras insatisfações, derramando todas as angústias e demandas do povo brasileiro, sobretudo da grande maioria da juventude das camadas populares, sem perspectiva de futuro digno. Esta explosão desmontou uma mentira oficial dos governos reformistas do PT, a de que todos os brasileiros viviam felizes e em harmonia, em um capitalismo "de rosto humano" que favorecia a todas as classes sociais, e no qual todos ganhavam. Inventaram dois conceitos estranhos: "capitalismo de massas" e "sociedade de classe média".

sábado, 21 de setembro de 2013

Desvendar o núcleo financeiro da classe capitalista transnacional – Os 161 indivíduos do topo

Sábado, 21 de setembro de 2013


por Peter Phillips e Brady Osborne
Publicado em resistir.info 

Neste estudo, decidimos identificar em pormenor as pessoas nos conselhos de administração (CA) (boards of directors) das dez principais firmas de administração de activo e as dez principais corporações mais centralizadas no mundo. Devido a sobreposições, há um total de treze firmas, as quais colectivamente têm 161 administradores nos seus CA. Pensamos que este grupo de 161 indivíduos representa o núcleo financeiro da classe capitalista transnacional do mundo. Eles administram colectivamente U$23,91 milhões de milhões (trillion) em fundos e operam em praticamente todos os países do mundo. Eles constituem o centro do capital financeiro que movimenta o sistema económico global. Os governos ocidentais e os corpos políticos internacionais trabalham de acordo com os interesses deste núcleo financeiro a fim de proteger o fluxo irrestrito de capital de investimento em qualquer lugar do mundo. 
 
Uma breve história da investigação sobre a elite do poder americana

Uma longa tradição de investigação sociológica documenta a existência de uma classe dominante nos Estados Unidos, cujos membros traçam directivas e determinam prioridades políticas nacionais. A classe dominante americana é complexa e competitiva, perpetuando-se através da interacção de famílias de alto padrão social com estilos de vida, ligações corporativas e pertença a clubes sociais e escolas privadas semelhantes.

Já foi determinado há muito que a classe dominante americana é sobretudo auto-perpetuante, mantendo sua influência através de instituições elaboradoras de políticas tais como a National Association of Manufacturers, a US Chamber of Commerce, o Business Council, Business Roundtable, o Conference Board, American Enterprise Institute for Public Policy Research, Council on Foreign Relations, e outros grupos de política centrados nos negócios. Estas associações desde há muito dominaram as decisões políticas dentro do governo estado-unidense.

No seu livro de 1956, The Power Elite , C. Wright Mills documentou como a II Guerra Mundial solidificou a trindade de poder nos EUA que compreendia corporações, militares e elites governantes numa estrutura de pode centralizada pelos interesses de classe e a trabalhar em uníssono por todos os "alto círculos" de contacto e acordo. Mills descreveu como a elite do poder eram aqueles "que decidiam tudo o que fosse para ser decidido" com consequências importantes. Estes decisores do círculo mais alto tendiam a estar preocupados com relacionamentos inter-organizacionais e o funcionamento da economia como um todo, ao invés da promoção dos seus interesses corporativos particulares.

As elites políticas do círculo mais alto (higher-circle policy elites, HCPE) constituem um segmento da classe superior americana e são os principais decisores na sociedade. Embora estas elites mostrem alguma noção do "senso de nós" (we-ness"), eles também tendem a ter desacordos contínuos sobre políticas específicas e acções necessárias em várias circunstâncias sócio-políticas. Estes desacordos podem bloquear respostas reaccionárias agressivas a movimentos sociais e distúrbios civis, como no caso do movimento trabalhista na década de 1930 e o movimento de direitos civis na década de 1960. Durante estes dois períodos, os elementos mais liberais das HCPE tendiam a dominar o processo de tomada de decisão e apoiou a aprovação das leis de Relações Trabalhistas Nacionais e de Segurança Social em 1935, bem como as leis de Direitos Civis e Oportunidades Económicas em 1964. Estas peças de legislação eram vistas como concessões aos movimentos sociais em curso e a inquietações civis, e foram implementadas ao invés de instituir políticas mais repressivas.

Entretanto, durante período de ameaças vindas de inimigos externos, como nas I e II Guerras Mundiais, elementos mais conservadores/reaccionários da HCPE avançaram com êxito nas suas agendas. Durante e após a I Guerra Mundial, os Estados Unidos instituíram respostas repressivas a movimentos sociais, como por exemplo através dos Palmer Raids e da aprovação do Espionage Act de 1917 e do Sediction Act de 1918. Após a II Guerra Mundial, a HCPE permitiu e encorajou os ataques da era McCarthy contra liberais e radicais e, em 1947, a aprovação do National Security Act e da lei trabalhista Taft-Hartley. Nos últimos vinte e cinco anos, e especialmente desde os eventos do 11/Set, a HCPE nos EUA tem estado unida no apoio a um império americano de poder militar que mantenha uma guerra repressiva contra grupos de resistência – tipicamente alcunhados como "terroristas" – em todo o mundo. Esta guerra ao terror é muito mais acerca de proteger a globalização transnacionais, a livre movimentação do capital financeiro, a hegemonia do dólar e o acesso ao petróleo do que acerca da repressão ao terrorismo. Cada vez mais, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) é uma associada dos interesses de dominação global dos EUA.
A classe capitalista transnacional (CCT)

Elites do poder capitalista existem em todo o mundo. A globalização do comércio e do capital leva as elites do mundo a relacionamentos cada vez mais interconectados – até o ponto em que sociólogos começaram a teorizar o desenvolvimento de uma classe capitalista transnacional (CCT) (transnational capitalist class). Num dos trabalhos pioneiros neste campo, The Transnational Capitalist Class  (2000), Leslie Sklair argumentou que a globalização elevou as corporações transnacionais (TNC) a papéis mais influentes, com o resultado de que nações-estado tornaram-se menos significantes do que acordos internacionais desenvolvidos através da Organização Mundial de Comércio (OMC) e outras instituições internacionais. A emergir destas corporações multinacionais estavam uma classe capitalista transnacional, cujas lealdades e interesses, se bem que ainda enraizadas nas suas corporações, eram cada vez mais de âmbito internacional. Sklair escreveu:
A classe capitalista transnacional pode ser analiticamente dividida em quatro fracções principais: (i) proprietários e controladores das TNC e suas filiais locais; (ii) burocratas e políticos da globalização; (iii) profissionais da globalização; (iv) elites promotoras do consumo (comerciantes e media). Também é importante notar, naturalmente, que a CCT e cada uma das suas fracções nem sempre está inteiramente sobre todas as questões. No entanto, em conjunto, as pessoas principais nestes grupos constituem uma elite do poder global, a classe dominante ou círculo interno no sentido de que estas expressões têm sido utilizadas para caracterizar as estruturas da classe dominante de países específicos. 
Seguiu-se William Robinson em 2004 com o seu livro A Theory of Global Capitalism: Production, Class, and State in a Transnational World. Robinson afirmou que 500 anos de capitalismo haviam levado a uma mudança de época na qual toda actividade humana é transformada em capital. Deste ponto de vista, o mundo tornou-se um mercado único (single market), o qual privatizou relacionamentos sociais. Ele viu a CCT como a partilhar cada vez mais estilos de vida, padrões de educação superior e consumo semelhantes. A circulação global de capital está no cerne de uma burguesia internacional, a qual opera em grupos (clusters) oligopólicos por todo o mundo. Estes grupos de elites formam alianças transnacionais estratégicas através de fusões e aquisições com o objectivo de concentração acrescida da riqueza e do capital. O processo cria uma poliarquia de elites hegemónicas. A concentração de riqueza e poder a este nível tende à super-acumulação, levando a investimentos especulativos e guerras. A CCT faz esforços para corrigir e proteger seus interesses por meio de organizações globais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, o G20, o Fórum Social Mundial, a Comissão Trilateral, o Grupo Bilderberg, o Banco Internacional de Pagamentos e outras associações transnacionais. Robinson afirmou que, dentro deste sistema, nações-estado tornam-se pouco mais do que zonas de contenção de população e que o poder real jaz nos decisores que controlam o capital global.

sábado, 3 de agosto de 2013

Brasil: extraordinária jornada de lutas

Sábado, 3 de agosto de 2013






Primeiras reflexões sobre as grandes manifestações de massas no País


por Edmilson Costa
Do resistir.info 
Introdução
 O conjunto das lutas sociais que estão ocorrendo no mundo e, portanto, também as manifestações de junho no Brasil, guardadas os devidos ritmos, proporções e intensidades, possuem uma relação direta com a crise sistêmica global que vem castigando o capitalismo há mais de seis anos. A crise roubou do sistema imperialista grande parte da capacidade de hegemonizar plenamente a ordem mundial como ocorria no passado, ao mesmo tempo em que abriu fissuras na estrutura de dominação, possibilitando a emergência de um conjunto de fenômenos novos nas esferas econômica, social e política da conjuntura internacional.

Mesmo que todos ainda não percebam plenamente, a crise abalou a velha ordem e o sistema capitalista não consegue reagir como outrora à crise econômica, até porque esta crise traz um conjunto problemas novos que as velhas fórmulas keynesianas não conseguem resolver. Após a Segunda Guerra, os capitalistas aprenderam administrar as crises cíclicas, mas não possuem condições nem instrumentos para resolver as crises sistêmicas porque estas reproduzem em bases ampliadas todas as contradições do capitalismo, posto que representam o esgotamento de um longo ciclo de acumulação. Por isso são mais profundas e devastadoras e questionam todos os fundamentos da ordem anterior e só terminam com mudanças de fundo na velha ordem.

Quando ocorrem fissuras profundas na ordem dominante, as massas abrem espaço para sua intervenção e fenômenos pouco imagináveis em um determinado momento se tornam realidade logo depois. Poucos vislumbrariam que velhas ditaduras como as da Tunísia, do Egito e do Yemen cairiam como um castelo de cartas. Esses levantes só ocorreram sem um banho de sangue porque a ordem imperialista estava trincada pela crise. Da mesma forma, poucos observadores brasileiros, inclusive os de esquerda, poderiam imaginar que iriam ocorrer as grandes manifestações de massas em mais de 600 cidades do País, reunindo milhões de pessoas, especialmente jovens.

Além disso, está agora mais claro para os trabalhadores, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, o papel do Estado e sua aliança explícita com as finanças internacionais e o grande capital, como demonstraram as injeções trilionárias de dólares e euros para salvar o sistema financeiro, enquanto os trabalhadores perdiam suas casas nos Estados Unidos e se tornavam alvos de políticas socialmente predatórias na Europa, como o corte nos gastos públicos, nas pensões, nos salários e nas verbas sociais em geral, ações inimagináveis em tempos de calmaria. O objetivo das classes dominantes, com essas medidas, é tentar salvar o capital e colocar na conta dos trabalhadores todo o ônus da crise. 

terça-feira, 30 de julho de 2013

Brasil: O capitalismo extractivo e o grande salto para trás

Terça, 30 de julho de 2013 
por James Petra 
 Artigo publicado originariamente no resistir.info
O Brasil testemunhou um dos mais gritantes retrocessos sócio-económicos da moderna história mundial:  de uma dinâmica nacionalista de industrialização para uma economia exportadora primária. Entre meados da década de 1930 e meados da década de 1980, o Brasil cresceu a uma taxa média de cerca de 10% no seu sector manufactureiro, em grande medida com base em políticas intervencionistas do estado, subsídios, protecção e regulação do crescimento de empresas públicas nacionais e privadas. Mudanças no "equilíbrio" entre o capital nacional e estrangeiro (imperial) começaram a verificar-se a seguir ao golpe de 1964 e aceleraram-se após o retorno da política eleitoral nos meados da década de 1980. A eleição de políticos neoliberais, especialmente com a eleição do regime Cardoso em meados da década de 1990, teve um impacto devastador sobre sectores estratégicos da economia nacional: a privatização generalizada foi acompanhada pela desnacionalização dos altos comandos da economia e a desregulamentação maciça de mercados de capitais. O regime Cardoso preparou o cenário para o fluxo maciço de capital estrangeiro nos sectores agro-mineral, financeiro, seguros e imobiliário. A ascensão das taxas de juro, como exigido pelo FMI, o Banco Mundial e o mercado especulativo imobiliário elevaram os custos da produção industrial. A redução de tarifas de Cardoso acabou com subsídios à indústria e abriu a porta a importações industriais. Estas políticas neoliberais levaram ao declínio relativo e absoluto da produção industrial.


A vitória presidencial do auto-intitulado "Partido dos Trabalhadores", em 2002, aprofundou e expandiu o "grande retrocesso" promovido pelos seus antecessores neoliberais. O Brasil reverteu para tornar-se um exportador primário de commodities, como soja, gado, ferro e minérios que se multiplicaram, as exportações de material de transporte e manufacturas declinaram. O Brasil tornou-se uma dos principais exportadores de commodities extractivas do mundo. A dependência do Brasil das exportações de commodities foi ajudada e compensada pela entrada maciça e a penetração de corporações imperiais multinacionais e de fluxos de financeiros por bancos além-mar. Os mercados além-mar e os bancos estrangeiros tornaram-se a força condutora do crescimento extractivo e da morte industrial.

Para ter um melhor entendimento da "grande reversão" do Brasil de uma dinâmica nacionalista-industrializante para uma vulnerável dependência imperial conduzida pela extracção agro-mineral, precisamos resumidamente rever a economia política do Brasil ao longo dos últimos cinquenta anos a fim de identificar os "pontos de viragem" decisivos e a centralidade da política e da luta de classe.  

sábado, 6 de julho de 2013

A ilegalidade é a nova normalidade

Sábado, 6 de julho de 2013
De resistir.info
por Paul Craig Roberts [*]



Em vários artigos e no meu último livro, The Failure of Laissez Faire Capitalism And Economic Dissolution Of The West , tenho destacado que a crise de dívida soberana europeia está a ser utilizada para acabar com a soberania dos países que são membros da UE.

Não há dúvida de que isto é verdadeiro, mas a soberania dos estados membros da UE é apenas nominal. Embora os países individuais ainda retenham alguma soberania em relação ao governo da UE, eles estão todos sob o polegar de Washington, como se demonstrou com a recente ação ilegal e hostil imposta pelas ordens de Washington à França, Itália, Espanha, Portugal e Áustria contra o avião que transportava o Presidente da Bolívia, Evo Morales.


Retornando à Bolívia desde Moscovo, ao avião de Morales foi negada autorização de sobrevoo e reabastecimento pelos fantoches franceses, italianos, espanhóis e portugueses de Washington. Foi obrigado a aterrar na Áustria, onde o avião foi vasculhado em busca de Edward Snowden. Era um jogo de poder por parte de Washington sequestrar Snowden do avião presidencial da Bolívia em desafio ao direito internacional e ensinar a reformadores surgidos do nada, como Morales, que não é permitida independência às ordens de Washington.


Os estados fantoches europeus cooperaram com esta extraordinária violação da diplomacia e do direito internacional apesar do facto de cada um dos países estar raivoso por Washington espionar seus governos, diplomatas e cidadãos. Os seus agradecimentos a Snowden, cujas revelações os fizeram conscientes de que Washington estava a registar todas as suas comunicações, foi ajudar Washington a capturar Snowden.

sábado, 29 de junho de 2013

Raízes históricas da crise social no Brasil – O papel do FMI

Sábado, 29 de junho de 2013
De resistir.info

por Michel Chossudovsky
Milhões de pessoas por todo o Brasil aderiram a um dos maiores movimentos de protesto da história do país. Ironicamente, o levantamento social dirige-se contra as políticas económicas de uma auto-proclamada alternativa "socialista" ao neoliberalismo conduzido pelo governo do Partido dos Trabalhadores (PT) da presidente Dilma Rousseff.

O "remédio económico forte" do FMI, incluindo medidas de austeridade e a privatização de programas sociais, foi implementado sob a bandeira "progressista" e "populista" do PT, em acordo com elites económicas poderosas do Brasil e em estreita ligação com o Banco Mundial, o FMI e a Wall Street.

Apesar de o governo PT apresentar-se como "uma alternativa" ao neoliberalismo, comprometido com o alívio da pobreza e a redistribuição de riqueza, sua política monetária e fiscal está nas mãos dos seus credores da Wall Street.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Esmagar debaixo dos pés – Recuperação para os 7 por cento

Terça, 7 de maio de 2013
De resistir.info

por Paul Craig Roberts [*]

 
"Desde o fim da recessão em 2009 até 2011 (o último ano para o qual os dados de riqueza do Gabinete do Censo estão disponíveis), os 8 milhões de famílias nos EUA com um valor líquidos acima dos US$836.033 viram a sua riqueza agregada ascender em US$5,6 milhões de milhões (trillion), ao passo que 111 milhões de famílias com um valor líquido igual ou abaixo daquele nível viram a sua riqueza agregada declinar em US$600 mil milhões".
–"An Uneven Recovery," de Richard Fry e Paul Taylor, Pew Research Center. 
 

Desde que a recessão foi oficialmente declarada como ultrapassada em Junho de 2009, tenho afirmado aos leitores que não houve qualquer recuperação. Gerald Celente, John Williams ( shadowstats.com ) e também muitos outros têm deixado claro que a alegada recuperação é o resultado artificial de uma taxa de inflação camuflada (understated) que produz uma imagem de crescimento econômico real.

Agora surge o Pew Research Center com a sua conclusão de que a recessão acabou só ara o 7 por cento das famílias do topo que têm haveres substanciais de acções e títulos. Os outros 93% da população americana ainda estão em recessão.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Funeral digno de um ditador – O golpe de Thatcher

Segunda, 29 de abril de 2013
 


por John Pilger
Após o desaparecimento de Thatcher, recordo suas vítimas. A filha de Patrick Warby, Marie, foi uma delas. Marie, com cinco anos, sofria de uma deformidade do intestino e precisava de uma dieta especial. Sem ela, o sofrimento era aflitivo. Seu pai era um mineiro de Durham e gastara todas as suas poupanças. Era o Inverno de 1985, a Grande Greve tinha quase um ano e a família estava empobrecida. Embora a necessidade de operação não fosse contestada, o Departamento de Segurança Social recusou ajuda a Marie. Posteriormente, obtive registos do caso mostrando que Marie fora recusada porque o seu pai era "influenciado por uma disputa sindical".

A corrupção e desumanidade sob Thatcher não conheciam fronteiras. Quando chegou ao poder em 1979, Thatcher pediu uma proibição total de exportações de leite para o Vietname. A invasão americana havia deixado um terço das crianças vietnamitas desnutridas.

Testemunhei muitas visões penosas, incluindo crianças a ficarem cegas devido à falta de vitaminas. "Não posso tolerar isto", disse um médico angustiado num hospital pediátrico de Saigão, quando olhávamos para um rapaz a morrer. A Oxfam e a Save the Children havido deixado claro para o governo britânico a gravidade da emergência. Um embargo conduzido pelos EUA havia forçado o preço local do quilo de leite a subir para dez vezes o do quilo de carne. Muitas crianças podiam ter sido recuperadas com leite. A proibição de Thatcher impediu.

No vizinho Camboja, Thatcher deixou um rastro de sangue, secretamente. Em 1980, ela exigiu que o defunto regime Pol Pot – o assassino de 1,7 milhão de pessoas – retivesse o seu "direito" a representar suas vítimas na ONU. A sua política era de vingança do libertador do Camboja, o Vietname. O representante britânico foi instruído a votar com Pol Pot na Organização Mundial de Saúde, impedindo-a dessa forma de proporcionar ajuda para o lugar onde era mais necessária do que qualquer outro na terra.

Para esconder esta infâmia, os EUA, a Grã-Bretanha e a China, os principais apoiantes de Pol Pot, inventaram uma "coligação de resistência" dominada pelas forças do Khmer Rouge de Pol Pot e abastecida pela CIA em bases ao longo da fronteira tailandesa. Havia uma dificuldade. Na sequência da derrocada do Irangate, armas-por-réfens, o Congresso dos EUA proibira aventuras clandestinas no estrangeiro. "Num daqueles acordos ambos gostavam de fazer", contou um alto responsável do Whitehall [1] ao Sunday Telegraph, "o presidente Reagan sugeriu a Thatcher que o SAS [2] deveria assumir o comando do show do Camboja. Ela prontamente concordou".

Em 1983, Thatcher enviou o SAS para treinar a "coligação" na sua própria e diferente marca de terrorismo. Sete equipes de homens do SAS chegaram de Hong Kong e soldados britânicos começaram a treinar "combatentes da resistência" em estender campos de minas num país devastado pelo genocídio e a mais alta taxa de mortes e mutilações do mundo devido a campos de minas.

Noticiei isto na altura e mais de 16 mil pessoas escreveram a Thatcher para protestar. "Confirmo", respondeu ela ao líder da oposição Neil Kinnock, "que não há envolvimento do governo britânico de qualquer espécie no treino, equipamento ou cooperação com o Khmer Rouge ou aliados dele". A mentira era de cortar o fôlego. Em 1991, o governo de John Major admitiu no parlamento que o SAS havia na verdade treinado a "coligação". "Nós gostamos dos britânicos", disse-me mais tarde um combatente do Khmer Rouge. "Eles foram muito bons a ensinar-nos a montar armadilhas explosivas (booby traps). Pessoas confiantes, como crianças em campos de arroz, foram as vítimas principais".

Quando os jornalistas e produtores do memorável documentário "Death on the Rock" , da ITV, revelaram como o SAS havia dirigido outros esquadrões da morte de Thatcher na Irlanda e em Gibraltar, foram perseguidos pelos "jornalistas" de Rupert Murdoch, então acovardados em Wapping [3] atrás do arame farpado. Embora absolvida, a Thames TV perdeu sua concessão da ITV.

Em 1982, o cruzador argentino General Belgrano navegava fora da zona de exclusão das Falklands [4] . O navio não constituía ameaça, mas Thatcher deu ordens para que fosse afundado. Suas vítimas foram 323 marinheiros, incluindo adolescentes alistados. O crime tinha uma certa lógica. Dentre os mais próximos aliados de Thatcher estavam assassinos em massa – Pinochet no Chile, Suharto na Indonésia, responsáveis por "muito mais do que um milhão de mortes" (Amnistia Internacional). Embora desde há muito o estado britânico armasse as principais tiranias do mundo, foi Thatcher que com um zelo de cruzado procurou tais acordos, conversando empolgada acerca das mais refinadas características de motores de aviões de combate, negociando arduamente com príncipes sauditas que pediam subornos. Filmei-os numa feira de armas, a acariciarem um míssil reluzente. "Terei um daqueles!", disse ela.

No seu inquérito das armas-para-o-Iraque, Lorde Richard Scott ouviu evidências de que toda uma camada do governo Thatcher, desde altos funcionários civis até ministros, mentira e infringira a lei na venda de armas a Saddam Hussein. Eram os seus "rapazes". Se folhear números antigos do Baghdad Observer encontrará na primeira página fotos dos seus rapazes, principalmente ministros do gabinete, sentados com Saddam na sua famosa poltrona branca. Ali está Douglas Hurd e um sorridente David Mellor, também do Foreign Office, na época em que o seu hospedeiro ordenava o gaseamento de 5000 curdos. A seguir a esta atrocidade, o governo Thatcher duplicou créditos comerciais para Saddam.

Talvez seja demasiado fácil dançar sobre a sua sepultura. O seu funeral foi uma proeza de propaganda, adequada a um ditador: uma mostra absurda de militarismo, como se se houvesse verificado um golpe. E foi. "O seu triunfo real", disse outro dos seus rapazes, Geoffrey Howe, ministro da Thatcher, "foi ter transformado não apenas um partido mas dois, de modo que quando o Labour finalmente retornou, a maior parte do thatcherismo era aceite como irreversível".

Em 1997, Thatcher foi o primeiro antigo primeiro-ministro a visitar Tony Blair depois de ele ter entrado na Downing Street [5] . Há uma foto deles, juntos num ricto: o criminoso de guerra em embrião com a sua mentora. Quando Ed Milliband, na sua untuosa "homenagem", travestiu Thatcher como "corajosa" heroína feminista cujas façanhas pessoalmente "admira", fica-se a saber que a velha assassina não morreu de todo.

NT
(1) Whitehall: rua onde está o Parlamento britânico.
(2) SAS: tropas especiais britânicas.
(3) Wapping: bairro de Londres para onde Murdoch mudou a sua empresa, por trás de uma fortaleza a fim de fugir a pressões sindicais da Fleet Street.
(4) Falklands: Malvinas
(5) Downing Street: residência oficial do primeiro-ministro britânico.


O original encontra-se em www.counterpunch.org/2013/04/25/thatchers-coup/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 28 de abril de 2013

Mais trampas [trapaças, tramoias, ardis] do Banco Central Europeu para encobrir Merkel

Sábado, 27 de abril de 2013


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Juan Torres López [*]

Há alguns dias publiquei um artigo mostrando como o presidente do Banco Central Europeu havia apresentado aos líderes europeus dados sobre a evolução da produtividade e dos salários em diferentes países que estavam manipulados ou manifestavam uma tremenda falta de conhecimentos de questões económicas básicas ( Las trampas de Draghi para bajar salarios ). Qualifiquei esse facto como uma aldrabice, porque dessa forma se confundiam as pessoas para poder levar por diante propostas que não têm nenhum outro fundamento a não ser a ideologia neoliberal de quem as propõe.

Agora temos novamente que denunciar outra publicação do Banco Central Europeu cujos resultados confundem a população e são difundidos para ajudar a política reaccionária da Sra. Merkel e seu governo, determinados a justificar a sua guerra económica contra a Europa dizendo aos seus compatriotas que a negligência dos países do Sul da Europa obriga as famílias alemãs, que são as mais pobres, a pagar os seus excessos.

domingo, 14 de abril de 2013

A ganância do deus mercado

Domingo, 14 de abril de 2013
por Beatriz Paganini [*]

O que aconteceu neste mundo? 


A ganância do deus mercado, como diz um escritor do meu mundo, Eduardo Galeano, destruiu tudo.
 

E as guerras fizeram desaparecer a paz.
 

E alguns, com o pretexto de a procurar (à paz) continuam guerreando e chegou-se ao absurdo de premiar com o Nobel aquele que dirige a Guerra como se fosse emissário da Paz.
Enquanto isso:
Estão devastando as florestas.
Aumentam a fabricação de armas.
Países que não as fabricavam fazem-no agora.
Foram inventados os Paraísos Fiscais.
Foi criado o FMI, organização criminosa de colarinho branco ao serviço do Deus Artificial.
Foi criada a NATO e com o seu patrocínio se mata, rouba e destrói como Átila.
As regras da guerra nunca se cumprem.
Às sociedades anónimas permite-se transgredir.
As minas a céu aberto envenenam os rios.
Os agroquimicos contaminam as plantas e os seus frutos.
Os agroquímicos produzem malformações no feto humano.
Os agroquímicos causam o cancro e doenças em seres humanos.
Os agroquímicos causam doenças em animais.
Estão desaparecendo espécies animais.
Desaparecem espécies aquáticas.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Os mitos e as mentiras da direita no ataque ao "estado social"

Segunda, 8 de abril de 2013
Do "resister.info"

por Eugénio Rosa [*]

RESUMO DESTE ESTUDO

O Tribunal Constitucional declarou, como já tinha sucedido em 2012, inconstitucionais o confisco do subsidio de férias aos trabalhadores da Função Pública e aos pensionistas, e ainda mais duas outras normas da Lei do OE-2013 (o imposto sobre o subsidio de desemprego e de doença e os cortes nos contratos de docência e de investigação) o que, em termos ilíquidos corresponde a cerca de 1.600 milhões € (em valor liquido, e é este que tem efeitos no OE-2013 deverá representar um aumento na despesa – reposição dos subsídios de férias - e um corte na receita que, somados, deverão rondar os 1.200 milhões €).

Perante tal cenário que resulta deste governo pretender violar pela 2ª vez a Constituição da República é previsível que os ataques às funções sociais do Estado, por parte deste governo e dos seus defensores nos media se intensifiquem ainda mais. E a arma mais utilizada, para procurar manipular a opinião pública, será certamente a mentira. E as mais utilizadas para enganar a opinião pública, à semelhança do que tem acontecido nos últimos tempos, serão certamente as seguintes: (1) Sem o empréstimo da "troika" não haveria dinheiro para pagar salários e pensões; (2) A despesa do Estado em Portugal é muito superior à de outros países da UE; (3) As despesas do Estado em Portugal com a saúde, educação e a segurança social são insustentáveis. Por isso interessa já desmontar de uma forma clara e objetiva essas mentiras, e para isso utilizaremos os próprios dados oficiais.

Comecemos pela 1ª mentira da direita sobre o empréstimo da "troika" para pagar pensões e salários. Segundo o Ministério das Finanças, em 2011, as receitas dos impostos e contribuições foram superiores à soma das despesas com Pessoal das Administrações Públicas mais despesas com pensões e outras prestações (inclui saúde), em +4.229,6 milhões €; em 2012 esse excedente subiu para +4.454,1 milhões €. E não consideramos todas das Administrações Públicas. Ainda existem "Outras receitas" que, em 2012, foram mais 9.606,2 milhões €. Afirmar, como fazem muitos comentadores, que o Estado foi obrigado a pedir o empréstimo à "troika" porque não tinha dinheiro para pagar salários e pensões é ou ignorância ou a intenção de mentir descaradamente para enganar a opinião pública, pois os impostos e contribuições pagas todos os anos pelos portugueses são mais que suficientes para pagar aquelas despesas (Portugal paga uma taxa de juro média de 3,4%, quando custa aos credores uma taxa média de 1,4%, e à Alemanha apenas 0,5%; é a solidariedade!)

Outra mentira é que a despesa do Estado em Portugal é superior à de outros países, e por isso tem de ser significativamente reduzida. Segundo o Eurostat, em 2011, a despesa total das Administrações Públicas em Portugal representou 49,4% do PIB português, quando a média na UE situava-se entre os 49,1% e 49,5%, portanto um valor praticamente igual. E em 2012, segundo o Relatório do OE-2013 do Ministério das Finanças, a despesa de todas as Administrações Públicas (Central, Local e Regional) em Portugal reduziu-se para apenas 45,6%. E neste valor estão incluídos os juros da divida que atingiram 7.038,9 milhões € em 2012. Se o deduzirmos desce para apenas 41,4%. Afirmar ou insinuar, como muitos fazem, que a despesa pública em Portugal é excessiva é ou ignorância ou a intenção de enganar a opinião pública.

Em relação à afirmação de que as despesas do Estado com as funções sociais em Portugal são excessivas e insustentáveis e por isso é necessário reduzir a despesa significativamente, interessa dizer que, segundo o Eurostat, em 2011, a despesa pública com a saúde em Portugal correspondeu apenas 6,8% do PIB quando a média na União Europeia variava entre 7,3% e 7,4%. Em euros por habitante, em 2011, em Portugal o gasto público com a saúde foi apenas de 1.097€, quando a média nos países da UE variava entre 1.843€ (+68% do que em Portugal) e 2.094€ (+91). O mesmo se verifica em relação à proteção social, que inclui as pensões. Segundo o Eurostat, em 2011, a despesa pública com a proteção social em Portugal correspondia apenas a 18,1% do PIB quando a média na União Europeia variava entre 19,6% e 20,2% do PIB. Em euros por habitante, a diferença era ainda muito maior, Em Portugal o gasto público com a proteção social por habitante era apenas de 2.910€, quando a média nos países da União Europeia variava entre 4.932€ (+69% do que em Portugal) e 5.716€ (+96%). E nos países desenvolvidos a despesa por habitante era muito superior (Bélgica:+126%; Dinamarca:+274%; Alemanha:+114%). Mesmo se consideramos a totalidade da despesa com a saúde, educação e segurança social, em 2011 ela representava em Portugal 63,4% da despesa total do Estado quando a média na UE era de 65,7% Fazer cortes significativos na despesa com as funções sociais do Estado com a justificação de que essas despesas em Portugal são excessivas e superiores às dos outros países da UE é ou ignorância ou uma mentira para enganar a opinião pública.

O que é insustentável e inaceitável é uma politica recessiva aplicada em Portugal em plena recessão económica, que está a causar uma quebra acentuada nas receitas do Estado e nas contribuições da Segurança Social, o que põe em perigo não só a sustentabilidade das funções sociais do Estado mas a do próprio Estado. Mais cortes na despesa pública só agravam a situação. Como dizia Keynes, só os imbecis é que não entendem isso.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

O confisco de poupanças bancárias para "salvar os bancos" – A proposta de "salvamento" diabólica

Sexta, 5 de abril de 2013

por Michel Chossudovsk
Publicado em "resistir.info" 
  • O "Resgate Interno" do Banco de Chipre é um "ensaio geral" do que está para vir?
  • Estará a ser encarado um "golpe de resgate interno" na União Europeia e na América do Norte que poderá resultar numa verdadeira confiscação dos depósitos bancários?
  • Em Chipre, todo o sistema de pagamentos foi afectado levando à extinção da economia real.
  • Já não se pagam pensões e salários. O poder de compra desapareceu.
  • A população está empobrecida.
  • As pequenas e médias empresas são empurradas para a falência.
  • Chipre é um país com uma população de um milhão de habitantes.
  • O que aconteceria se semelhantes procedimentos de 'apertar o cinto' fossem aplicados nos EUA ou na União Europeia?
Salvamento. 


Segundo o Institute of International Finance (IIF) com sede em Washington, que representa o consenso da instituição financeira global, "a abordagem de Chipre em atingir depositantes e credores quando os bancos falham, pode tornar-se um modelo para lidar com as falências em toda a Europa". ( Economic Times , 27/Março/2013).
Deve entender-se que, antes do massacre de Chipre, a confiscação de depósitos bancários já havia sido contemplada em vários países. Além disso, os poderosos actores financeiros que provocaram a crise bancária em Chipre, são também os arquitectos das medidas de austeridade socialmente devastadoras impostas na União Europeia e na América do Norte.

Chipre constitui um "modelo" ou um cenário?

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A tragédia da Grécia: Uma acusação à teoria econômica neoliberal, à elite política interna e ao duo UE/FMI

Quarta, 3 de abril de 2013 
por C. J. Polychroniou [*]

Não há nenhuma outra disciplina nas ciências sociais que repouse tão pesadamente sobre dados estatísticos e fórmulas matemáticas e ainda assim seja tão lamentavelmente incompetente em analisar e prever os acontecimentos e processos que estuda do que a própria "lúgubre ciência" ("dismal science"). A crise financeira global de 2007-08 é um grande exemplo. Virtualmente todos os economistas profissionais da corrente dominante foram apanhados com as calças arriadas quando o Lehman Brothers entrou em colapso, disparando uma crise financeira à escala mundial. A razão para isto é que a maior parte dos economistas convenceu-se, com base nos fantásticos modelos de engenharia financeira desenvolvidos nos últimos 20-30 anos, que o capitalismo havia evoluído para um sistema sócio-económico estável e livre de crises. Agora que o dinheiro podia ser criado a partir do ar (chamam a isto o "esquema dos derivativos"), grandes e poderosas instituições financeiras podiam acumular riqueza sem gerar nova riqueza e predadores financeiros podiam pilhá-la à vontade.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Banco Central Europeu: o enrascanço e a defesa secreta

Sexta, 29 de março de 2013
por Yéti
Todos para os abrigos! Reina o pânico no Banco Central Europeu dirigido por Mario Draghi, homem de confiança como todos sabem ou deveriam saber, do tristemente célebre Goldman Sachs. Assim, os sitiados levantam as barricadas para salvar seus cofres em perigo. Dois elementos novos acabam de confirmar esta impressão, um revelado pelo alemão Deutsche Wirtschaftsnachrichten e o outro pela Mediapart .

quinta-feira, 28 de março de 2013

Chipre sob a mira: A morte através do salvamento

Quinta, 28 de março de 2013

por Mike Whitney [*]

Supunha-se que fosse um salvamento (bailout). Acabou por ser uma sentença de morte. Dada a variegada e pouco interessante história dos burocratas de Bruxelas, será realmente surpreendente?

Sim, foi alcançado um acordo entre responsáveis do governo cipriota e a assim chamada troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) na 11ª hora de altercação – mas a que custo? Se os 10 mil milhões do salvamento eram destinados a manter Chipre na Eurozona, então a estratégia fracassou. Os controles de capitais que foram instalados para impedir uma corrida bancária efectivamente criam uma divisa de segundo nível, um euro sombra que será posto sob quarentena na ilha. Eis como o economista Frances Coppola resume isso no seu blog Coppola Comment:
"Uma vez impostos controles de capital plenos, um Euro em Chipre já não será o mesmo que um Euro em qualquer outro lugar na área Euro. Ele não pode deixar a ilha. O Euro Chipre será com efeito uma nova divisa interna. A imposição de controles de capital em Chipre é portanto o fim da divisa única na sua forma actual...
Sim, o Eurogrupo afirmará que é "business as usual" na área Euro. Draghi continuará a afirmar que o Euro é "irreversível". O Eurostat continuará a produzir estatísticas para o E17 e o E27 incluindo Chipre. Mas a realidade será que o Euro estará partido em dois. Haverá o Euro Chipre e o Euro "Continente" (se pudermos chamá-lo assim)" ("The Broken Euro", Coppola Comment)