Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 14 de janeiro de 2017

A maldição haitiana

Janeiro
14

A maldição haitiana

O terremoto do Haiti havia sido o ponto culminante da longa tragédia de um país sem sombra e sem água, que havia sido arrasado pela voracidade colonial e pela guerra contra a escravidão.
Os amos destronados explicam isso de outa maneira: o vodu tinha e tem a culpa de todas as desgraças. O vodu não merece ser chamado de religião. Não é nada além de uma superstição da África, magia negra, coisa de negros, coisa do Diabo.
A Igreja católica, onde não faltam fiéis capazes de vender unhas de santos e plumas de arcanjo Gabriel, conseguiu que essa superstição fosse legalmente proibida no Haiti em 1845, 1860, 1896, 1915 e 1942.
Nos último tempos, o combate contra a superstição corre por conta das seitas evangélicas. As seitas vêm do país de Pat Robertson: um país que não tem 13º andar em seus edifícios nem fileira 13 em seus aviões, e onde são maioria os civilizados cristãos que acreditam que Deus fabricou o mundo em uma semana.

                 Do livro "Os filhos dos Dias", de Eduardo            Galeano, Editora L&PM, 2ª edição, página 28.