Quinta, 9 de setembro de 2010
Por Ivan de Carvalho

Um dos fatores dessa fragilidade é que, durante o segundo mandato de Lula, o PT e alguns de seus aliados caminham para completar oito anos no poder. Desses oito anos, o PMDB, o grande corpo sem cabeça do quadro partidário brasileiro, participou por inteiro apenas do segundo mandato. No primeiro mandato de Lula, o “PMDB da Câmara” lhe fazia oposição e o “PMDB do Senado” o apoiava.
Essa mudança na posição do PMDB foi uma das razões de o segundo mandato de Lula estar sendo cumprido com muito mais facilidade e tranqüilidade do que o primeiro, pois em muito aumentou e foi consolidado o apoio partidário e parlamentar.
Outra vantagem do segundo mandato é que não aconteceu um escândalo do porte do Mensalão. Escândalos menos barulhentos houve, mas o presidente da República e seu governo já estavam então blindados por maioria esmagadora na Câmara dos Deputados, pelos “programas sociais” tipo Bolsa Família e a intensa propaganda a respeito deles, e por uma conjuntura econômica favorável, ao contrário da dureza que foi a maior parte do primeiro mandato.
Acrescente-se a isso o fato extraordinário de que o principal partido de oposição, o PSDB, resolveu não fazer oposição exatamente quando o governo, o presidente e seu partido, o PT, experimentaram, durante o escândalo do Mensalão, o seu pior momento. E nunca mais o PSDB encontrou o caminho de uma oposição efetiva. O então PFL (hoje, Democratas) até que tentou, mas sozinho não dava mesmo para atingir os objetivos. E Lula até conseguiu convencer o ex-vice-presidente de FHC, Marco Maciel, do então PFL, para amaciar o ataque de seu partido.
Ora, se das urnas de 3 de outubro saírem os números que neste momento as pesquisas estão sugerindo e no Senado – último bastião que, durante o segundo mandato, ainda resistia a certas iniciativas absurdas do governo – confirmarem-se as previsões de que PSDB e DEM terão as terceira e quarta bancadas (hoje têm a segunda e a terceira), com o PMDB e o PT com as duas maiores, terá caído esse elemento de resistência.
O que restaria?
Num primeiro tempo, o Supremo Tribunal Federal, quando fosse chamado a se pronunciar. Não se pode ignorar, no entanto, que Lula escolheu e nomeou oito dos onze integrantes do STF. E que não nomeou o novo para a vaga que está aberta porque ele preferia um nome e Dilma Rousseff, outro. Daí que deixou para Dilma escolher e nomear, caso ela realmente seja eleita presidente.
Num segundo tempo, a formação gradativa de uma oposição de verdade e não de fantasia como a atual e o cansaço da sociedade, que acaba gerando a rejeição e a mudança. Mas isso pode levar muito tempo para ganhar a força necessária à produção de uma alternância de poder.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.