Segunda, 6 de setembro de2010
Por Ivan de Carvalho
Várias frases estão sendo usadas por várias pessoas, adversárias da candidata do PT a presidente da República ou simplesmente observadoras da conjuntura política, na tentativa de caracterizar a extrema escassez de informação pública a respeito de Dilma Rousseff.
Essa escassez está sendo cuidadosamente cultivada pelo governo, pelo PT e pela campanha da candidata. Isso é extremamente grave, pois se trata da candidata amplamente favorita. Daí as constatações que a caracterizam como “uma caixa preta” ou “um envelope fechado”. Sem nenhuma alusão ao caso da Operação Caixa de Pandora, que virou de pernas para o ar a política no Distrito Federal, Dilma Rousseff poderia ser classificada por alguém mais desconfiado como “uma Caixa de Pandora”.
Tal classificação seria certamente uma precipitação e poderia ser ou não uma injustiça, pois essa caixa da mitologia grega continha todos os males. Mas é exatamente para ver o conteúdo daquela que pelo presidente Lula e por uma grande coligação partidária liderada pelo PT foi apresentada à nação brasileira como candidata a presidente da República que se quer abrir a “caixa preta” ou o “envelope fechado”.
Mais exatamente para que o eleitorado decida conscientemente, como deve ocorrer numa democracia, e não com uma venda nos olhos, se deve ou não votar nela.
Bem, se a candidata e sua campanha, assim como sua coligação e seu padrinho político, escondem o que realmente significa a candidata e se esmeram em exibir apenas perfumarias, em falar abobrinhas, justo é que outros busquem, dentro da lei, descobrir o que esteja oculto.
Seja um mestrado e um doutorado que não existiam, salvo na Plataforma Lates do CNPq, seja acompanhando com atenção seu estado de saúde (a saúde das pessoas é coisa só delas, de seus médicos, de suas famílias e de Deus, mas a saúde de quem pode chegar a presidente da República é assunto de interesse nacional), seja buscando revelar o que está em um processo trancado no cofre da presidência do Superior Tribunal Militar. O processo tem a ver com a atividade clandestina de Dilma Rousseff durante o regime militar.
Na edição anterior deste jornal, mencionei de passagem o esforço do jornal Folha de S. Paulo para ter acesso a esse processo. O acesso pedido pelo caminho administrativo normal foi negado. Mistério. Afinal, trata-se de um processo antigo, já encerrado, o que exclui a hipótese, já de si mesmo absurda, de estar “correndo em segredo de justiça”.
Não deveria haver segredo, mas há. E isso torna mais importante e urgente o acesso ao processo e a divulgação do que nele exista, a tempo de que possa seu conteúdo ser examinado pelo eleitorado, exaustivamente, se houver para isto justificativa, em tempo hábil para que seja levado em conta na decisão de cada eleitor.
Como não obteve o acesso normalmente, o jornal paulista entrou com um mandado de segurança que o plenário do STM deverá julgar. Mas deve fazê-lo imediatamente: falta menos de um mês para a eleição.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
Essa escassez está sendo cuidadosamente cultivada pelo governo, pelo PT e pela campanha da candidata. Isso é extremamente grave, pois se trata da candidata amplamente favorita. Daí as constatações que a caracterizam como “uma caixa preta” ou “um envelope fechado”. Sem nenhuma alusão ao caso da Operação Caixa de Pandora, que virou de pernas para o ar a política no Distrito Federal, Dilma Rousseff poderia ser classificada por alguém mais desconfiado como “uma Caixa de Pandora”.
Tal classificação seria certamente uma precipitação e poderia ser ou não uma injustiça, pois essa caixa da mitologia grega continha todos os males. Mas é exatamente para ver o conteúdo daquela que pelo presidente Lula e por uma grande coligação partidária liderada pelo PT foi apresentada à nação brasileira como candidata a presidente da República que se quer abrir a “caixa preta” ou o “envelope fechado”.
Mais exatamente para que o eleitorado decida conscientemente, como deve ocorrer numa democracia, e não com uma venda nos olhos, se deve ou não votar nela.
Bem, se a candidata e sua campanha, assim como sua coligação e seu padrinho político, escondem o que realmente significa a candidata e se esmeram em exibir apenas perfumarias, em falar abobrinhas, justo é que outros busquem, dentro da lei, descobrir o que esteja oculto.
Seja um mestrado e um doutorado que não existiam, salvo na Plataforma Lates do CNPq, seja acompanhando com atenção seu estado de saúde (a saúde das pessoas é coisa só delas, de seus médicos, de suas famílias e de Deus, mas a saúde de quem pode chegar a presidente da República é assunto de interesse nacional), seja buscando revelar o que está em um processo trancado no cofre da presidência do Superior Tribunal Militar. O processo tem a ver com a atividade clandestina de Dilma Rousseff durante o regime militar.
Na edição anterior deste jornal, mencionei de passagem o esforço do jornal Folha de S. Paulo para ter acesso a esse processo. O acesso pedido pelo caminho administrativo normal foi negado. Mistério. Afinal, trata-se de um processo antigo, já encerrado, o que exclui a hipótese, já de si mesmo absurda, de estar “correndo em segredo de justiça”.
Não deveria haver segredo, mas há. E isso torna mais importante e urgente o acesso ao processo e a divulgação do que nele exista, a tempo de que possa seu conteúdo ser examinado pelo eleitorado, exaustivamente, se houver para isto justificativa, em tempo hábil para que seja levado em conta na decisão de cada eleitor.
Como não obteve o acesso normalmente, o jornal paulista entrou com um mandado de segurança que o plenário do STM deverá julgar. Mas deve fazê-lo imediatamente: falta menos de um mês para a eleição.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.