Quarta, 9 de fevereiro de 2011
Por Ivan de Carvalho

Já abordei antes esse assunto, mas ontem foram acrescentados mais um ou dois elementos. E como uma gripe que não sei se, como as outras, veio das galinhas e outras aves da China, me pegou, estou querendo pegar leve no escrever para poupar energias. Assim, talvez elas – as energias, não as galinhas – possam ser melhor usadas no combate ao vírus.
Bem, voltando ao assunto, as pesquisas, durante o ano eleitoral de 2010, mostraram à saciedade que a resistência do eleitorado feminino à aspirante e depois candidata Dilma Rousseff era maior que a resistência do eleitorado masculino. Dizendo de outra forma, ela obtinha percentuais mais altos de intenções de votos entre os eleitores do que entre as eleitoras.
Isso prolongou-se até o final da campanha para o segundo turno e não tenho dúvidas de que o marketing político da presidente tem até aqui acesso a pesquisas que confirmam (possivelmente com variações de percentuais, é claro) a persistência do fenômeno.
Isso prolongou-se até o final da campanha para o segundo turno e não tenho dúvidas de que o marketing político da presidente tem até aqui acesso a pesquisas que confirmam (possivelmente com variações de percentuais, é claro) a persistência do fenômeno.
Foi aí que o comando do marketing e o então presidente Lula tiveram a idéia, supostamente vantajosa, de agredir os tímpanos de todo mundo para fazer a média de Dilma Rousseff com as mulheres. Não bastasse ser a primeira presidente do Brasil, tinha que ser a primeira presidenta e maldito burro será quem nestes tempos lembrar da princesa Isabel Cristina Leopoldina de Bragança, a famosa regente – ou deveria eu escrever regenta? – que assinou a Lei Áurea.
A lembrança é apropriada (para não deixar o país boquiaberto com essa maravilha de ser governado por uma pessoa do sexo feminino), mas incômoda, podendo, no entanto ser minimizada com o argumento de que a princesa não foi eleita, mas exercia o poder em nome de seu pai, o Imperador Pedro II, que também, obviamente, não fora eleito.
Dos que insistem em “presidenta Dilma”, muitos se alimentam no fato de que Machado de Assis, em certo trecho de seus escritos, pespegou um “presidente, presidenta...”, como quem quer afirmar a correção das duas formas. Aí o dicionário Caldas Aulete incorporou as duas alternativas oferecidos pelo papa do português brasileiro e o Houaiss e o Aurélio embarcaram na onda do escritor e do primeiro dicionário citados.
Etimologicamente, como já explicou a revista Veja, a palavra vem do latim praesidentis, particípio presente do verbo praesidere (que significa tomar assento à frente). Por este caminho, a palavra seria invariável desde a origem – o correto seria, pois, presidente. Se são, observa a revista, indiscutivelmente invariáveis termos como assistente e dependente, não ocorrendo a ninguém “dizer que tem uma assistenta ou uma dependenta”, para que serviria a palavra presidenta?
Para fazer política, conclui, por vias oblíquas, a revista, dizendo que a questão de estar certo ou errado às vezes é menos definida pela gramática que pela questão política. Ontem, no seu blog, citado no Blog do Noblat, o jornalista José Roberto de Toledo, de O Globo, chama Dilma de presidente e avisa que, para ele, presidenta “só se o governo flexionar também o gênero de gerentes e serventes”. A gerenta (está perto, já se usou o neologismo gerentona) e a serventa. Arg!
Foi hilário, ontem. O presidente do Senado, José Sarney, o Marimbondo de Fogo da Academia Brasileira de Letras, referiu-se por três vezes a Dilma Rousseff como “presidente”. Na terceira vez, a 1ª vice-presidente do Senado, Marta Suplicy, pegou o microfone do plenário e corrigiu: “Pela ordem, senhor presidente. Senhora presidenta da República”.
E Sarney? Ah, Sarney é de lascar: "Muito obrigado a Vossa Excelência, mas eu sempre estou usando a fórmula francesa: madame le président. Todas as duas são corretas, senadora, gramaticalmente".
Quem viu teve a impressão de que Marta Suplicy baixou a cabeça como uma avestruza.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
Quem viu teve a impressão de que Marta Suplicy baixou a cabeça como uma avestruza.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.