Quinta, 21 de julho de 2011
Da Radioagência NP
Segundo a Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe (Cepal) somos 594 milhões de latinoamericanos. Em
nosso fértil território vivem 183 milhões de pobres e 74 milhões de
indigentes.
Na divisão por idade somos compostos por uma maioria jovem: 27,3%
(até 14 anos); 33,6% (15 a 34 anos), 19% (35 a 49), 11,8% (50 a 64
anos), e 8,3% com 65 anos para cima.
Temos uma população economicamente ativa (PEA) de quase 277 milhões, dos quais 164 milhões são homens e 113 são mulheres.
Nos últimos anos, aumentou no continente o emprego formal (51%),
frente à queda no índice de desemprego (em 2000 era de 10,4%, em 2010
caiu para 7,6%).
Com uma população urbana de 79,3%, uma taxa de analfabetismo de 8,3%
na população acima de 15 anos, e uma taxa de fecundidade de 2,3 filhos
por casa ao longo dos anos 2000, a América Latina, vai traçando hoje o
que será a ordem do dia da produção de vida de amanhã.
1- Questão social e educação
Na questão social da educação, dois dados merecem atenção.
1) os 20% mais ricos se apropriam 19,3 vezes a mais da riqueza e da renda no continente, em comparação aos 20% mais pobres.
2) dos jovens entre 25 a 29 anos, apenas 8,3% concluíram o terceiro
grau. Na comparação entre jovens ricos e pobres, apenas um jovem pobre
consegue concluir o 3º grau, em comparação a 27 jovens de melhor poder
aquisitivo que terminam.
A situação das jovens mulheres latinoamericanas de 15 a 29 anos, é
ainda mais complexa. Enquanto 80% das jovens com maior renda participam
do mercado de trabalho formal no continente, menos de 50% das jovens
pobres conseguem estabelecer vínculos formais.
O gasto público com educação é de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) e
o total de estudantes públicos na região é de 91 milhões no ensino
fundamental e médio, em contraposição a 19 milhões em escolas
particulares.
2. O que os dados não mostram
Os resultados do período neoliberal são catastróficos. A aparente
melhoria de vida encobre a essência do endividamento e da nova forma do
capital apostar nos seus ganhos sem fronteiras, utilizando para isto as
políticas públicas para revigorar seus ganhos.
A corrida do grande capital tem gerado uma forma de fazer política
cujo conteúdo histórico segue o mesmo: a apropriação privada da riqueza e
da renda advinda da exploração do trabalho em solo latinoamericano.
Por um lado, os trabalhadores são induzidos a uma nova lógica de
consumo e, para produzirem sua sobrevivência com base numa gama de
necessidades técnico-científicas oriundas da produção dos países
centrais, entram no caminho sem volta do endividamento pessoal.
Por outro lado, o capital industrial dá passo atrás e retoma a
histórica participação latina de produtora de bens primários para
abastecer os países centrais.
Os latinoamericanos transformam-se assim, desde a infância, em
consumidores dos atuais bens vendidos como de primeira necessidade –
celulares, computadores, vários mps, entre outros -. Para isto, precisam
ser primeiro consumidores de crédito para depois adquirir tais bens.
O endividamento familiar torna-se peça chave da inclusão nessa
sociedade na qual os latinos trabalham, mas que não os permite consumir o
básico necessário com o salário que ganham.
A educação precária torna-se regra da operação do capital no
continente, tanto no que tange à remuneração e contratação dos
professores, quanto ao conteúdo das disciplinas formais lecionadas.
A educação formal para o consumo e não necessariamente o trabalho
formal, empobrece a compreensão de totalidade da jovem futura classe
trabalhadora e reforça o palco fértil para a consolidação da alienação
como requisito básico de venda de bens importantes mas não
necessariamente vitais.
Nessa linha, o desenvolvimento como sinônimo de consumo, modernidade e
tecnologia ganha mais força do que nunca e entra na mentalidade da
classe que vive do trabalho como algo natural em vez de construído
historicamente.
O cenário latinoamericano necessita de políticas públicas de Estado
que promovam mudanças substantivas no que diz respeito à tomada do poder
e da orientação sobre a prioridade do pacto social no continente, com
primazia para a centralidade do trabalho e da educação.
Além disto, requer que a política de integração crie condições para
que a prioridade dos sujeitos coloque limites à soberania dos mercados
liderados pelo capital (inter)nacional. A integração dos povos necessita
modificar o histórico caminho no continente em que desenvolvimento e
dependência aparecem como constitutivos do sentido do trabalho alienado.
Necessitamos com urgência de uma política de Estado de transição que
coloque na trilha as modificações estruturais que reorientem o sentido
do trabalho, da socialização da produção, da riqueza e da renda no
território. Caso contrário¸ a melhoria dos dados permanecerá como
sinônimo de uma conta maior a ser paga pelo trabalho.
Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da Consulta Popular/ ES.
21/07/11