Quinta, 7 de julho de 2011
Por Ivan de Carvalho

São escândalos demais, uns
enganchados nos outros como caranguejos numa corda. Escândalos são quase
invariavelmente difíceis de, primeiro, entender, depois, explicar. É que, como
os crustáceos citados, eles são cheios de pernas e bocas e quando são
enganchados uns nos outros pelo escasso intervalo que não chega a separá-los
quanto à permanência em exposição e debate, acabam compondo um impressionante
labirinto.
Além disso, como ocorre com
os crustáceos mencionados, a imprensa, pela quase simultaneidade de surgimento
e pela permanência de uns enquanto novos surgem, fica obrigada a misturá-los na
mesma lata, ou, explicando melhor, nas mesmas edições de jornais, telejornais,
noticiários de rádio, sites e blogs da Internet. E, como se sabe, caranguejos
numa lata fazem um barulho ensurdecedor, que acaba prejudicando a separação,
para melhor compreensão, do barulho feito por cada um desses crustáceos tão bem
adaptados à lama pelo processo evolutivo.
Mas, por isso mesmo,
deixemos por hoje deste espaço excluídos os escândalos de grande monta mais
recentes – o que levou à exoneração do ex-ministro-chefe da Casa Civil, Antonio
Palocci e o que a este sucedeu, representado pela espectral ressurreição dos
Aloprados, operada por um “companheiro” que atende por Expedito, Aloprados
agora já sob suposta liderança do ex-candidato a governador paulista e agora
ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.
E vamos deixar de lado até
mesmo o escândalo mais recente, o das irregularidades financeiras na área do
Ministério dos Transportes, que ontem derrubou do cargo o ministro Alfredo
Nascimento, senador e que, demitido, está voltando ao Senado e à presidência do
nacional do PR.
Vamos só ver como está
(estava até as 20 horas de ontem) a questão da substituição do ministro. Mas
não sem antes assinalar que o ex-presidente Lula deve estar (é só uma impressão
minha) um pouco aborrecido com a má sorte de João Pedro, seu amigo de lazer e
“pinga” (a propósito, Lula, da mesma forma que Barack Obama, deixou de fumar.
Agora é torcer para que nenhum dos dois tenha alguma recaída).
Na Bahia está se falando
que o ex-senador e ex-governador César Borges, presidente estadual do PR –
partido que deverá continuar com o controle do Ministério dos Transportes – é
um nome com boas chances de ser escolhido ministro. Chances provavelmente
existem, mas há obstáculos.
Existem na fila outros
nomes e estes constituem um dos obstáculos. Um dos nomes é o do
secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, posto
neste cargo por indicação de Lula, nascido na Bahia, técnico de carreira, que o
noticiário diz contar com a confiança da presidente Dilma Rousseff. Os que, no
governo, acreditam nessa alternativa imaginam que as bancadas do PT na Câmara e
Senado acabariam se conformando. Outro nome é o do ex-governador do Mato Grosso
e maior plantador de soja do mundo, Blairo Maggi, amigo de Lula e de Dilma,
para cuja campanha eleitoral contribuiu generosamente.
Na bancada do PR no Congresso um dos nomes mais
bem aceitos, segundo o jornalista Cláudio Humberto, é o do senador Clésio
Andrade, de Minas Gerais e presidente da Confederação Nacional dos Transportes.
Outros dois são o de César Borges e o do ex-líder do PR na Câmara, Luciano
Castro, segundo a revista Época.
A conjuntura política baiana pode provocar alguma
resistência (do PT) à escolha de César Borges. O PR, que preside na Bahia, é
oposição ao governo Jaques Wagner.
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.