Quinta, 23 de fevereiro de 2012
Por Ivan de Carvalho

Desde os primeiros dias do ano, com insistentes
ensaios até mesmo no último trimestre de 2011, fala-se (muito) e trabalha-se
(pouco) na escolha de um candidato de união das oposições baianas à prefeitura
de Salvador. Cenário completado com discussões e lançamentos de
pré-candidaturas no âmbito da base política do governo estadual.
Claro, ainda que um pouco estranho, que aqui se
está falando de governismo e oposição na área estadual, quando o alvo
fundamental é a prefeitura de Salvador, hoje ocupada pelo renascido prefeito
João Henrique, em fase de paixão pública e notória, mesmo, como diria Vinícius
de Moraes, que não seja eterna, posto que é chama, mas que parece infinita
enquanto dura.
No lado governista do campo, o PT, partido líder
do governismo, anunciou alto e bom som, à moda de galo senhor do galinheiro,
que o seu candidato – chovam muxoxos, canivetes, pragas ou ironias de senador
com liderança – é o deputado Nelson Pelegrino, que se apresta mais uma vez a
tentar escalar as escadarias de poucos degraus do Palácio Thomé de Souza.
Mas mal ouvido esse PT, aparece no PSB um
deputado, capitão PM Tadeu Fernandes, quase herói (o quase vai aí apenas para
diminuir a intensidade das contestações) do ensaio de enfrentamento entre as
tropas federais e um grupo numeroso de policiais militares armados em greve, em
frente à Assembléia Legislativa. E desde bem antes desse episódio declarava-se
o deputado aspirante inarredável à candidatura a prefeito pelo PSB.
Mas tudo bem, não é ele, mas a senadora e
presidente estadual Lídice da Mata que tem o controle do partido e não mostra
disposição de permitir a candidatura do deputado Tadeu. Revelava tendência para
apoiar o candidato do governador Wagner e repelia, até nos bastidores de seu
partido, a ideia de ser, ela mesma, candidata. Até a véspera do carnaval. Mas,
no encerramento deste, subiu no trio elétrico. Admitiu ao site Política Livre:
“Sou senadora pela Bahia. Meu nome só aparecerá se for do interesse do PSB
nacionalmente e regionalmente. Eu não posso dizer que não.” Comentou ainda que
as pesquisas podem influenciar sua decisão.
Dito assim, desconfio que já começaram a
influenciar. Seja lá qual for o dado-chave.
E tem mais dois no lado do governo. A deputada
federal Alice Portugal, do PC do B, cuja candidatura, além de ser para valer,
conforme assegura o partido, nenhum prejuízo pode causar à candidata, que tem
somente a ganhar. O PT se mata e “mata” o companheiro Joseph Bandeira para
conseguir que os petistas de Juazeiro apoiem a reeleição do prefeito comunista
de lá, para facilitar aqui o apoio do PC do B ao petista Pelegrino, mas o PC do
B jura sobre a tumba de Karl Marx que Alice veio para ficar e fará maravilhas.
A oposição está um furdunço. O PSOL lançará seus
dois nomes mais conhecidos – Hilton Coelho e Marcos Mendes – para vereador e um
tal Hamilton para prefeito. O Democratas, que tem em ACM Neto sua principal
liderança, bem à frente de qualquer outro político nas pesquisas eleitorais
reservadas, quer lançá-lo para prefeito novamente (concorreu em 2008). Ele
lidera as pesquisas e tem aliados no PSDB, mas a legenda não retirou a
candidatura do deputado, ex-governador e ex-prefeito Antonio Imbassahy.
Existem ainda a candidatura a ser lançada (tudo
indica) do deputado e chefe da Casa Civil do prefeito João Henrique, João Leão,
a prefeito, pelo PP. E falta uma posição do PMDB. O partido não parece andar
para uma coalizão com o DEM e o PSDB, como a princípio se acreditava. Pode
apoiar Alice Portugal (o PC do B de Alice é, como o PMDB, da base do governo
Dilma Rousseff). O principal líder do PMDB, Geddel Vieira Lima, admitiu também “examinar
a hipótese” de ser candidato a prefeito. E explicou que isto é bem diferente de
dizer que será. E o PR trocou o auto-candidato deputado Maurício Trindade por seu
presidente estadual, ex-governador e ex-senador César Borges.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.