Quarta, 8 de fevereiro de 2012
Exército e governo federal não gostaram da postura, que, para governador baiano, enfraqueceu negociações
Tânia Monteiro, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O general Marco Edson Gonçalves Dias, da 6ª
região militar, foi afastado das funções que exercia de comando das
operações em Salvador, onde os policiais militares estão em greve desde a
ultima terça-feira. Nesta quarta-feira mesmo, o comandante da Força,
general Enzo Martins Peri, determinou ao comandante militar do Nordeste,
general Odilson Sampaio Benzi, que seguisse para a capital baiana e
assumisse o comando da tropa local.
A postura do general G. Dias, que foi chefe da segurança do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desagradou não só o Exército,
como o Palácio do Planalto. A presidente Dilma Rousseff durante o dia
não escondeu a sua "indignação" com o episódio. Chegou a comentar que
considerou "inaceitável" a postura do general G. Dias de "apagar
velinhas", mesmo sendo seu aniversário, passando a ideia de que estava
confraternizando com os manifestantes.
"Isto é inadmissível", desabafou, acrescentando que "não esperava
isso dele. Dilma relatou ainda que o governador Jacques Wagner,
telefonou para ela, na noite de terça-feira, se queixando do
comportamento do general e ressaltando que este fato "atrapalhava as
negociações" com os grevistas.
Em conversas com o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo,
o governador baiano, de quem G. Dias é amigo, reconheceu que o general
"extrapolou" e enfraqueceu as negociações, que acabaram se arrastando
por mais tempo, quando se esperava que elas fossem concluídas, no máximo
até hoje.
No Exército, o gesto de G. Dias de dizer que ele estava na
manifestação presente "sem colete a prova de balas", na avaliação de
militares, causou um tremendo mal estar porque ele parecia mais aliado
dos grevistas, considerados fora da lei pelos oficiais das Forças
Armadas, do que da população que precisa de proteção.
Militares comentaram ainda que o general enfraqueceu a capacidade de
negociação do governo porque deixou claro para os líderes do movimento
que não ia haver confronto com eles.
"A postura dele foi fora do contexto e sem consultar ninguém", disse
um dos oficiais consultados pelo Estado, "Ele apareceu defendendo o
grupo que esta transgredindo a lei e sendo combatido. Com isso, passou
uma mensagem negativa, equivocada e foi péssimo para a Força", comentou
outro militar.
Esta postura, na avaliação de militares, atrapalha até mesmo futuras
operações de garantia da lei e da ordem, conhecida pela sigla GLO, dando
demonstração de que o Exército não vai invadir uma assembleia tomada
por PMs grevistas, enfraquecendo o poder de dissuasão da força.
Diante do ocorrido, o comandante do Exército, general Enzo, que está
como ministro Interino da Defesa, telefonou para o general Benzi,
superior hierárquico de G. Dias, e comandante do Nordeste, e determinou
que seguisse para Salvador, para comandar a operação.
O general G. Dias, na mesma terça-feira, reconheceu que ultrapassara
os limites e telefonou para o governador Jacques Wagner para se
desculpar.