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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Greve, condução e efeitos

Sexta, 3 de fevereiro de 2012
Por Ivan de Carvalho

Dois fatos parece haverem impulsionado ontem o movimento grevista que atinge a Polícia Militar, embora hajam sido produzidos com o propósito contrário.

O primeiro deles foi a orientação do governador Jaques Wagner – que estava no exterior acompanhando a presidente Dilma Rousseff em sua visita ao Haiti – de que nenhuma autoridade do Executivo recebesse, antes dela chegar de volta à Bahia (o que ocorreu ontem) a liderança da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares do Estado (Aspra), que vem promovendo a greve. A PM tem três outras associações representativas, uma de oficiais, outra de sargentos e subtenentes e outra de soldados e cabos.

Ora, no fim da tarde de terça-feira o movimento grevista foi deflagrado, mobilizando uns 400 a, no máximo, 500 policiais militares, embora a Aspra tenha dois mil filiados que aprovaram a greve em ampla assembléia geral. Durante toda a quarta-feira o movimento grevista ficou emperrado e meio desarvorado.

O líder da Aspra, Marcos Prisco, expulso da PM em 2002 por sua participação na greve de 2001, ficou a procurar o que se poderia chamar de uma “saída honrosa” para encerra a greve de fato ontem mesmo e, provavelmente, formalizar isto hoje em uma assembléia geral. Prisco precisava sair com certo garbo, pois é candidato a vereador pelo PTC. A “saída honrosa” seria uma reunião com uma autoridade estadual de alto nível, que poderia ser tanto o governador em exercício quanto o secretário de segurança. Não conseguiu, havia aquela orientação de Wagner em contrário.

Análise de dois integrantes de alta patente do meio policial militar sugere que o governo “perdeu o time” – expressão usada por um deles – e isto permitiu a ampliação do movimento grevista e o empurrou a uma ação mais radical, verificada ontem, tanto em Salvador quanto em Feira de Santana, forçando o governo a pedir a intervenção da Força Nacional de Segurança Pública com 650 PMs, dos quais 150 devem ter chegado ontem à noite a Salvador e mais 500 chegariam nas 48 horas seguintes, segundo anúncio oficial.

O outro fato foi a liminar dada ontem pelo juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública, considerando ilegal a greve (e é mesmo), determinando o retorno imediato ao trabalho e multa de 80 mil reais por dia contra a Astra, se desobedecida a ordem. A dureza da decisão foi correta, mas desmoralizaria o comando grevista. Então este foi em frente.

    O governo perdeu também a batalha da comunicação. Certamente com a intenção de passar a impressão de tranquilidade à população e evitar a percepção de insegurança e desordem, o comandante da PM deu entrevistas em que sugeria que a população se comportasse normalmente, indo aonde sempre vai, fazendo o que sempre faz, no trabalho e no lazer, até porque a festa de Yemanjá estava aí mesmo. Assim na capital como em Feira de Santana, menos a festa de Yemanjá, que lá não tem.

    Quando a população foi apanhada em shoppings centers que se fechavam temendo arrastões (que ocorreram), em avenidas importantes em que as lojas eram fechadas e as pistas interditadas por ônibus imobilizados, sem transporte coletivo, sendo obrigada a andar quilômetros, por exemplo, pelas margens da Avenida Paralela, quando parentes que estavam em casa ligavam, assustados, para familiares que haviam saído, então o governo perdeu a batalha da comunicação.

    E, queira ou não – aí descendo aos detalhes importantes – o conjunto dos fatos em Salvador em nada ajuda, muito pelo contrário, o candidato do PT a prefeito, deputado Nelson Pelegrino. E, em Feira de Santana, representa um grande impulso à já reconhecidamente forte candidatura de José Ronaldo, candidato do Democratas a prefeito.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.