Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A luta continua

Quarta, 8 de fevereiro de 2012
Por Ivan de Carvalho

É evidente que uma paralisação de grande parte da Polícia Militar da Bahia, especialmente na capital e em várias das maiores cidades do Estado, cria uma situação que exige solução rápida. Ainda mais por se tratar de um estado em que a insegurança pública já é muito grande em tempos “normais”, com todo o efetivo da Polícia Militar – além da Polícia Civil – trabalhando.
       A paralisação ganhou grande visibilidade a partir do fato de que a decisão que a deflagrou foi seguida da imediata invasão e ocupação do Palácio Deputado Luís Eduardo Magalhães, sede do Poder Legislativo da Bahia, situado no Centro Administrativo da Bahia. Isso atraiu os holofotes da mídia como dificilmente outra ocorrência o faria, fenômeno potencializado pelo sítio do Legislativo, estabelecido por tropas do Exército e da Força Nacional de Segurança Pública, o que, do ponto de vista de fotógrafos e cinegrafistas, deu enorme plasticidade à situação.

     O restante do destaque conquistado pelo movimento e as reações a ele foram providos por alguns outros fatos. Um deles, a autorização da Presidência da República para o suporte da Força Nacional de Segurança Pública e das Forças Armadas. Outra, a presença do ministro da Justiça em Salvador, a entrada de um grupo de elite da Polícia Federal para cumprir 12 mandados de prisão, a perspectiva de invasão militar da sede do Legislativo onde estão perto de 400 grevistas.

     E finalmente as desordens urbanas generalizadas, com paralisação do trânsito por bloqueio de vias públicas, arrastões, arrombamentos e saques a lojas, aumento de mais de cem por cento no número habitual de homicídios, multiplicação dos roubos de carros, fechamento do comércio.

     Depois de quase 24 horas de negociações na residência do cardeal dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, com participação do presidente da OAB da Bahia, Saul Quadros, representantes do governo e de associações de PMs, chegou-se a um consenso quanto às condições, digamos, políticas para o fim da greve, mas não houve acordo quanto às reivindicações sobre remuneração e a reunião foi encerrada. Quadros declarou que “as negociações fracassaram, o arcebispo ficou muito decepcionado”. Pouco depois disso, o governador reuniu-se com secretários para examinar a situação.

     Duas coisas. A primeira, verificada por pessoas que vão às ruas sentir o clima, incluindo jornalistas, é de que aos sentimentos da população, no início de inquietação e medo, embora ainda incorporando esses sentimentos, está se somando um sentimento de simpatia em relação à greve. Isso sempre pode ser negado, não há prova laboratorial nem estatística, a constatação é empírica. Mas não convém ao governo ignorar o fato. Como deve estar atento a um outro, o de que o carnaval está às portas. Pode-se imaginar com que ânimo a PM vai atuar no carnaval, se sair da greve “derrotada”.

     Para sorte do governo, a oposição, como não está unida, se mostra totalmente incapaz, neste ano eleitoral, de capitalizar o sentimento popular crescentemente desfavorável à condução do episódio pelo governo e simpático ao movimento dos policiais militares (ou parte deles). Isso não pode ser feito com piadinhas ou esbravejos isolados no Twitter. Assim, ninguém leva a sério.

     A segunda coisa é a notória pressa do governo federal de ver resolvida a situação da greve na Bahia. Isto porque há informações sobre iminentes paralisações nas PMs do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Não que esteja ocorrendo na Bahia um movimento nacionalmente articulado, mas como a insatisfação nas PMs parece generalizada, sinais de fumaça aqui, se não rapidamente eliminados, podem acender fogueiras em outras tribos.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.