Sábado, 21 de julho de 2012
Por Ivan de Carvalho

Os sinais de enfraquecimento continuaram sendo os
mesmos que já existiam antes da desocupação – uma certa fadiga que tende a
ocorrer em toda greve muito prolongada e sem perspectiva de obter o resultado
desejado e divergências internas no movimento. Quando a assembléia geral de
ontem se preparava para votar a continuidade da greve, uma dirigente da APLB
propôs discutir e por em votação o fim do movimento. Tomou uma vaia e fechou o
bico. Mas deixou exposta uma divergência.
Os professores decidiram continuar a greve e, em
Salvador, fazer na segunda-feira uma assembléia no Colégio Central. Se a greve
persistir, eles terão que consolidar esse local ou arranjar algum outro para
fazer suas assembleias. Vale assinalar que o Colégio Central, ainda que se deva
levar em conta ser um estabelecimento de ensino, é uma propriedade do Estado,
controlada pelo Poder Executivo, que, se quiser, interdita o prédio (já que não
estão sendo realizadas atividades de ensino ali). Problema será interditá-lo se
os grevistas já estiveram dentro.
A desocupação do Saguão Nestor Duarte, contíguo
ao plenário e onde estavam circunscritos os grevistas, ocorreu da maneira ideal
para o presidente da Assembléia, Marcelo Nilo, posto em circunstâncias
políticas que o levaram a determinar à Procuradoria Jurídica da Casa o
ajuizamento de uma ação de reintegração de posse. Ele afirma que a idéia foi
dele mesmo, mas ninguém acredita, como já assinalado antes neste espaço, pois é
evidente que, do ponto de vista político, o grande interessado direto era o
Poder Executivo.
A desocupação, com apenas 03:30 horas de atraso
em relação ao prazo acordado judicialmente entre a Assembléia e a APLB e
determinado pelo juiz Ruy Eduardo Almeida Britto, da 6ª Vara da Fazenda
Pública, ocorreu sem presença de oficial de justiça e força policial. O comando
da greve e os grevistas simplesmente chegaram à conclusão de que deviam acatar a
decisão judicial. Os professores saíram cantando Coração de Estudante e
reafirmando a continuidade da greve. Muitas professoras chorando, a emoção à
flor da pele.
O único incidente ocorreu quando os grevistas
vaiaram intensamente uma equipe de reportagem (duas pessoas) de programas da TV
Record, levando-os a se retirarem. Não houve agressão física. Outros repórteres
que estiveram no local foram recebidos e puderam fazer normalmente seu
trabalho.
Talvez caiba registrar a aparição de um grupo de
cerca de 40 estudantes que foi à Assembléia pedir aos professores para
encerrarem a greve. Não consegui saber quem o levou.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.