Sábado, 14 de julho de 2012
Por
Ivan de Carvalho

Foi o que fez o líder do
Psol, Chico Alencar. O jornal O Globo,
na sua coluna Panorama Político, publicou a nota seguinte: “Soldados do quartel
do 1º Batalhão da Polícia do Exército, onde funcionava o DOI-Codi na ditadura
militar, corriam ontem pela manhã na Rua Barão de Mesquita, no Rio, cantando:
‘Bate, espanca, quebra os ossos. Bate até morrer’. O instrutor então
perguntava: ‘E a Cabeça?’ Os soldados respondiam: ‘Arranca a cabeça e joga no
mar’. No final o instrutor perguntava: ‘E quem faz isso?’ E os soldados
respondiam: ‘É o Esquadrão Caveira!”.
O deputado Alencar
justificou seu requerimento alegando que o “canto” é uma “clara indução à
violência e ofensa aos princípios universais dos direitos humanos. Diante dos
abomináveis cantos de guerra e tortura que os soldados da Polícia do Exército
no RJ são estimulados a gritar”, o líder do Psol e a Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados, por seu presidente, deputado Domingos Dutra,
tomaram algumas providências:
1) Oficiar ao ministro da Defesa para que
determine o imediato fim destes brados em toda e qualquer unidade das Forças
Armadas; 2) Requerer informações sobre a ciência que o Ministério tem do fato,
quais são as autoridades diretamente responsáveis pelo treinamento, se isso é
usual nas práticas militares e desde quando; 3) emitir nota de repúdio de
membros da Comissão de Direitos Humanos; “encaminhar denúncia, como resquício
da ditadura e da tortura, à Comissão Nacional da Verdade”; apresentar proposta
de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos para debater “Educação
Militar e Direitos Humanos”.
Bem, das providências enumeradas, a única
discutível, talvez mesmo sem sentido, é a de “encaminhar denúncia, como
resquício da ditadura e da tortura, à Comissão Nacional da Verdade”. Afinal, o
que é que a Comissão Nacional da Verdade vai fazer com isso? O caso não se
enquadra nas finalidades legais dela, finalidades estas que já estão envolvidas
em polêmica mesmo sem a ajuda de tal e tão estranho “canto”.
Quanto às demais providências, são todas
perfeitamente adequadas. E o tema precisa ser abordado em profundidade, como
precisa ser mensurada a extensão, no meio militar, da “pedagogia” de ensino que
explodiu nesse “canto” celerado nas ruas do Rio.
Claro que aos soldados seus comandantes precisam
incutir, além dos princípios básicos de hierarquia e disciplina, sem os quais
as forças armadas não seriam operacionais e não cumpririam suas finalidades, uma
cultura de bravura e de ânimo combativo, mas não – até porque não haveria
qualquer finalidade legítima ou aceitável nisso – ideias de crueldade, de
bater, espancar, quebrar os ossos, bater até matar e, para completar, arrancar
a cabeça e jogar no mar.
Não se formam soldados assim. Formam-se monstros.
E não é isto o que a sociedade brasileira quer que seus soldados sejam.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista é baiano.