Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 3 de julho de 2012

O cenário pronto

Terça, 3 de julho de 2012
Por Ivan de Carvalho
O cenário de candidaturas à prefeitura de Salvador e a posição de cada partido estavam ontem assentadas. Há três candidaturas principais, as de ACM Neto, da coligação liderada pelo Democratas, de Nelson Pelegrino, da coligação liderada pelo PT e de Mário Kertész, da coligação PMDB-PSC. A estas acrescentam-se as do deputado Márcio Marinho, do PRB e de Henrique Assis, da coligação PSOL-PSTU-PCB.

O PSC chegou a ser considerado integrante da coligação liderada pelo PT e de fato estava praticamente acertada sua participação, mas resolveu afastar-se na última hora e coligou-se com o PMDB, declarando que percebeu haver aí mais condições de influir com suas propostas e valores. O PSC tem imersão no segmento evangélico, assim como o PRB do bispo-deputado Márcio Marinho.

Em termos de partido, estava faltando uma definição, a do PDT. É que o partido decidira, em convenção, entrar na coligação que apoia o candidato petista Nelson Pelegrino, desde que pudesse indicar o candidato a vice-prefeito em sua chapa, ou então ter candidato próprio. Mas quando o PC do B recuou espetacularmente de uma campanha de meses a fio pela candidatura da deputada Alice Portugal, que o partido declarava irreversível, ficou acertado que os comunistas indicariam o nome para a vice de Pelegrino.

Aí o PDT saltou fora. Sem vice, não. E foi procurar em seus quadros um nome para candidato a prefeito. Não achou. O deputado Marcos Medrado, que se colocara durante meses como aspirante à prefeitura, como é de seu hábito fazer em toda eleição municipal, mais uma vez deu marcha-a-ré e disse que ele não. Não foram encontrados voluntários.

Então o PDT e o PMDB conversaram. Mas o PDT, que apoia e participa do governo Wagner, queria a vice na chapa da coligação que sustenta a candidatura do radialista e ex-prefeito Mário Kertész. Tinha uma alegação um tanto ingênua: indicar um nome para vice seria uma justificativa ante o governo Wagner para que a posição do partido de integrar uma coligação adversária fosse assimilada sem traumas – e sem retaliação política – pelo governo.

A condição não foi atendida. O PDT seria aceito numa coligação proporcional, se quisesse, mas indicar o vice, não, pois isto entraria em choque com duas coisas: o fato de a chapa já ter a vaga de vice preenchida pelo peemedebista Nestor Neto e o discurso que o candidato Mário Kertész vem fazendo sobre partilha e unidade de governo. Assim, a negociação não progrediu e o PDT, como naturalmente não irá para ACM Neto, vai apoiar Pelegrino em condições políticas bem desagradáveis, sem indicar vice depois de se haver afastado por isto. Fica uma dúvida: se o PDT anunciou, como registra o noticiário, que sua convenção decidiu delegar poderes à direção para indicar o vice de Pelegrino ou lançar candidato próprio a prefeito, como é que o partido não vai fazer uma coisa nem outra, mas uma terceira?

Dois de Julho – Uma festa para ACM Neto e Mário Kertész, um contratempo para Nelson Pelegrino. O contratempo era esperado. Havia a greve dos professores. O governo e o PT reagiram com o discurso sobre democracia e liberdade e os internos da Fundação Dr. Jesus com o barulho que fizeram para diminuir a zoeira dos protestos.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.