Quarta, 14 de novembro de 2012
Grampos revelam tratativas de empresários para prorrogar contratos de água e esgotos e obter auxílio do deputado José Guimarães
Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Relatório de Inteligência da Operação Águas
Claras cita o deputado José Guimarães (PT-CE), vice-líder do governo na
Câmara, na investigação sobre empresários acusados de corrupção e
fraudes em licitações de prestadoras de serviço a autarquias de água e
esgoto de municípios de quatro Estados, inclusive o Ceará.
A Águas Claras foi desencadeada segunda-feira, em Sorocaba (SP).
Força-tarefa integrada pela Polícia Civil e pelo Grupo de Repressão ao
Crime Organizado (Gaeco) da cidade, braço do Ministério Público de São
Paulo, prendeu 18 investigados e fez buscas em 25 endereços domiciliares
e comerciais. O alvo principal é a Allsan Engenharia e Administração e
seus sócios, os empresários Reynaldo Costa Filho e Moisés Ruberval
Ferraz Filho.
Guimarães é irmão de José Genoino, ex-presidente do PT, condenado
como mensaleiro a 6 anos e 11 meses de prisão. Em julho de 2005, quando
Guimarães exercia mandato de deputado estadual, um assessor dele na
Assembleia Legislativa do Ceará, José Adalberto Vieira da Silva, foi
preso pela Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com
R$ 200 mil em uma mala e US$ 100 mil escondidos na cueca. Genoino
renunciou ao cargo dois dias depois.
A operação não flagrou telefonemas de Guimarães, mas pegou citações
frequentes ao seu nome em diálogos grampeados dos empresários da Allsan
que chamam o deputado ora pelo nome, ora por "cueca", ora por "capitão
cueca". Cópia do relatório será enviado ao Ministério Público do Ceará.
O contato de Reynaldo e Moisés na Companhia de Água e Esgoto do Ceará
(Cagece) seria Antonio Alves Filho, o Cony, diretor comercial. A Cagece
mantém contrato de R$ 8,94 milhões com a Allsan.
O monitoramento, autorizado pela 3.ª Vara Criminal de Sorocaba,
revela intensas tratativas dos empresários para obter prorrogação
contratual. Como encontraram dificuldades na investida, aproximaram-se
de Cony que, segundo a operação, teria sido indicado por Guimarães para o
cargo na Cagece. O deputado nega categoricamente influências na empresa
de águas.
À página 57, o relatório diz: "José Nobre Guimarães é deputado
federal eleito pelo Partido dos Trabalhadores. O apelido ‘cueca’ está
ligado ao seu nome face às denúncias que o envolvem no escândalo do
flagrante da Polícia Federal conhecido por ‘dólares na cueca’ no ano de
2005".
"Por diversas vezes Reynaldo e Moisés citaram o pagamento de propinas
ao deputado, alegando que o mesmo ‘ajuda’ nas negociações junto à
Cagece, forçando a renovação do contrato", assinala o documento. Uma
citação fala em suposto repasse de R$ 100 mil ao irmão de Genoino. Leia íntegra