Segunda, 1 de abril
de 2013
Por Ivan de Carvalho

Bandidos
são o assunto, mas, abrindo um parêntesis – deve ser longo – vamos dedicar umas
linhas às arenas. Arena, como se sabe, foi a sigla do partido governista no
bipartidarismo obrigatório criado no rastro do Ato Institucional nº 2 pelo
regime autoritário, sob o governo do marechal Castelo Branco, o que não chega a
ser uma boa recomendação na opinião geral e especialmente na opinião dos
companheiros.
Mas
não sejamos radicais, fundamentalistas, essas coisas de que os companheiros
andam acusando os evangélicos e outros cristãos, mesmo segmentos consideráveis
da Igreja Católica, mas sempre com o cuidado de livrar a cara dos muçulmanos,
todos eles tão barbudos como os companheiros e, como estes, caracterizados por
um estilo light, mesmo quando da
hierarquia teocrática dominante no Irã de Khamenei e Rafsanjani. Nem é preciso
demonstrar, dá para todo mundo notar.
Arena
não foi apenas a sigla do “partido da Revolução”. Tem sido ou continua sendo
várias outras coisas. Por exemplo, a arena nos teatros de arena. A arena nos
picadeiros de tantos circos onde os palhaços são o espetáculo, restando ainda
alguém entender se os palhaços são os que
se rebolam em piadas no picadeiro ou os que riem delas nas arquibancadas. Até
porque os do picadeiro ganham para fazer o que fazem e os das arquibancadas
pagam pelo que nem fazem – já que as piadas são tão conhecidas e repetidas que
a maioria delas já nem provoca risos. E as arenas das touradas, uma crueldade,
como as arenas dos rodeios realizados inclusive no Brasil, não raro com enorme
sofrimento para os animais.
Mas
houve arenas mais sérias. Bem como incomparavelmente mais tenebrosas que a
sigla do “partido da Revolução”. A arena no circo de Roma e de outros circos do
império, onde gladiadores eram obrigados a matar uns aos outros ou deixar-se
matar e onde os leões eram convidados a devorar cristãos, aquelas feras
ameaçadoras de antigamente, hoje atacadas na Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara dos Deputados.
Bem,
mas voltemos a Otávio Mangabeira e aos absurdos precedentes baianos, dos quais
a Arena ali da Fonte Nova não seria um. Voltemos a tratar da questão dos
bandidos.
Normalmente, os bandidos são desarmados
e detidos pela polícia e, após uma passagem por alguma delegacia para
cumprimento de certas formalidades legais, levados para um presídio. Às vezes,
a prisão é relaxada – diversos são os motivos –, às vezes não. Se não, aguardam
presos o desenvolvimento do inquérito e eventual denúncia do Ministério Público
seguida, se aceita, de processo e julgamento. Isto quando os presos não são
desviados, por força das espetaculares deficiências de nosso sistema prisional,
para a carceragem da referida delegacia, onde permanecem por tempo incerto e
não sabido, em condições ainda mais incertas e não sabidas, o que é também o
caso no restante no sistema prisional brasileiro.
Bem, mas na Bahia há o precedente
absurdo. Nem sempre são os bandidos desarmados pela polícia, detidos e levados
para a prisão. Há vezes, como ocorreu na madrugada de domingo na Unidade
Especial Disciplinar do Complexo Penitenciário, em Mata Escura, em que seis
bandidos armados desarmam três policiais, dão uma surra em um deles, e
aprestam-se a ingressar na prisão, chegando a usar explosivo para entrar em uma
das celas. Provavelmente não para lá permanecer (mas garantir, quem pode, se
não foram presos e interrogados?), mas, segundo teoriza a administração
prisional, para libertar colegas. Para suposto azar destes e dos invasores, um
terceiro PM percebeu a movimentação e conseguiu inviabilizar a suposta
tentativa de resgate de presos por supostos candidatos a presos... bem, deixa
prá lá.
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Este artigo foi
publicado originariamente pela Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é
jornalista baiano.