Terça, 16 de abril de 2013
IVAN DE CARVALHO

De acordo
com o deputado estadual Carlos Geilson, do PTN, um partido na oposição, a
manifestação pretende fechar a BA-120, que atravessa a cidade, e a ferrovia que
liga Salvador a Juazeiro e que não tem relevância em relação ao transporte de
passageiros, mas é relevante no transporte de cargas.
O deputado disse que, pelas
informações que lhe chegaram, apenas as ambulâncias terão passagem liberada na
rodovia. Mas, caso se apresentem situações especiais, pode-se supor que será
liberada a passagem de outros veículos de função especial. Como, por exemplo,
carros de bombeiros se houver, por exemplo, algum incêndio a combater.
Dificilmente veículos policiais terão passagem fácil, salvo em missão relevante
que nenhuma relação tenha com o protesto e a mobilização correspondente.
Essa manifestação prevista para
hoje em Queimadas pode se tornar uma grande dor de cabeça para o governo
estadual e, raciocinando no limite, vir a incomodar até mesmo o governo
federal, que recentemente, pela palavra da própria presidente da República,
Dilma Rousseff, anunciou a aplicação de bilhões de reais em “medidas
emergenciais” para atenuar ou evitar que se agravem ainda mais os efeitos da
seca.
O problema é que a seca está aí,
presente, há tempo demais para que “medidas emergenciais” presumivelmente
amplas venham a ser anunciadas somente agora. Além disso, a prática tem
demonstrado que uma coisa são os anúncios e promessas do governo federal (atual
e uns três ou quatro anteriores) e o que é efetivamente realizado.
O partido Democratas, por exemplo,
talvez inspirado no Impostômetro da Associação Comercial do Estado de São
Paulo, que se tornou muito conhecido no país, adiantou ontem que está criando o
Promessômetro, instrumento de informação que rastreará as promessas feitas por
Dilma Rousseff, quando candidata ou já presidente, para cotejar com o que foi
realizado. Dilma Rousseff prometeu implantar 800 Centros de Artes e Esportes
Unificados. Mesmo, como salienta o DEM, integrando o PAC e com recursos
previstos de R$ 1,6 bilhão em dois anos, a presidente chegou aos seus dois anos
de mandato (a metade do tempo que tem) com apenas R$ 78 milhões aplicados, que
equivaleriam a 39 Centros, mas o site do Ministério da Cultura informa sobre a
conclusão de apenas três.
Assim, se as “medidas
emergenciais” contra os efeitos da seca tramitarem em ritmo similar nos descaminhos
da burocracia, da incompetência, da negligência, da inapetência, do descaso e
da distância que separa Brasília do Polígono das Secas, a situação só tende a
piorar. O período das chuvas no semiárido está chegando ao fim, as previsões
meteorológicas não são boas, muito pelo contrário, e o que pode vir por aí é
aquela chuvinha de inverno, que às vezes até molha o chão, mas não tem
influência relevante nos reservatórios.
A significância maior nessa
manifestação de protesto prevista para hoje em Queimadas é que, se realmente
for realizada e tiver efetividade, sirva de exemplo para outras comunidades em
situação semelhante (e, somente nas proximidades, na região do sisal, há
várias) fazerem a mesma coisa. A situação do governo é complicada: se dá
imediatamente uma resposta favorável e suficiente, estimula a repetição dos
protestos em outros lugares. Se não atende, fica numa situação difícil quanto à
sua imagem e pode fazer recrudescer o protesto na própria cidade de Queimadas.
O ideal, para o governo, seria, talvez, fazer promessas que adiem e finalmente,
cumpridas, evitem a manifestação de protesto. Mas, mesmo assim, corre o risco
de ter sua estratégia observada e vê-la tornar-se estimuladora de manifestações
semelhantes – e, convenhamos, justas.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.