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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Maduro radicaliza


Quarta, 17 de abril de 2013
Por Ivan de Carvalho
         Henrique Capriles, principal líder da oposição na Venezuela e candidato a presidente da República derrotado em eleição extremamente controversa pelo presidente chavista Nicolas Maduro por uma diferença de 235 mil votos, muito menos do que o governo esperava, cancelou a manifestação que havia convocado para hoje em Caracas para exigir a recontagem geral de votos.

Capriles diz que tem o registro de mais de 3 mil “incidentes eleitorais” e um balanço de sua campanha afirma que muitos milhares de votos a seu favor não teriam sido computados. O CNE – Conselho Nacional Eleitoral, composto sob a influência avassaladora do ex-presidente Hugo Chávez, recentemente morto – proclamara eleito Nicolas Maduro, desatendendo às reclamações da oposição por uma recontagem.

A conjuntura de forças existente – indo do total controle chavista do Parlamento e da cúpula do Judiciário até o apoio do Exército e da Guarda Nacional ao governo de Maduro assegura a manutenção da proclamada eleição de Maduro e sua permanência no poder, que já assumira com base numa decisão do Tribunal Constitucional totalmente divergente da Constituição elaborada sob o governo de Hugo Chávez.

Claro que há muito de inconformidade, suspeitas e até certezas quanto à lisura dos processos de votação e de contagem dos votos no impulso de protestar e exigir uma recontagem que já se revelara inviável antes a truculência do governo de Maduro ante as primeiras manifestações de protesto, que as forças de segurança reprimiram, com o resultado macabro de sete mortes e 61 pessoas feridas.

A questão é que as eleições puseram a nu um declínio rápido do chavismo (na sua última e recente reeleição, Hugo Chávez já tivera menos vantagem sobre a oposição que em qualquer de suas eleições anteriores). Imaginou-se muito que a comoção gerada pela agonia, morte e funeral teatrais do fundador da imaginosa “revolução bolivariana” impulsionaria Maduro a uma vitória eleitoral acachapante e o governo até vésperas do pleito esteve convencido disso mesmo, ao tempo que a mídia internacional e a mídia venezuelana (esta, muito majoritariamente, governista por convicção, corrupção e pressão) passou esta convicção de ampla vitória ao público.

Este, no entanto, não se deixou influenciar muito, a julgar pelo resultado – mesmo o oficial – da eleição. Foi, para o governo, um anticlímax, uma demonstração de que a Venezuela, políticamente, está dividida, rachada ao meio. A manifestação convocada para hoje pela oposição e cancelada ontem pelo próprio Henrique Capriles não podia ter somente o objetivo de obter uma “auditoria”, isto é, a recontagem dos votos, dada à notória inviabilidade política dessa proclamada exigência.

Buscava-se marcar como duvidosa, suspeita ou fraudulenta a eleição de Maduro, como uma forma de iniciar de dar partida de uma maneira forte à gestão que, justamente ou não, conquistou no pleito e vai exercer durante o mandato de seis anos – salvo acidentes de percurso.

O cancelamento determinado por Capriles, em termos extremamente enérgicos (o leitor pode consultar o noticiário a respeito), visou a evitar mais mortes, pessoas feridas e prisões. Ele disse que o governo quer exatamente isto, mortes, feridos, presos. Evidente que Capriles, como, aliás, chegou a advertir seus partidários, constatando a reação desproporcional do governo aos protestos anteriores, percebeu que ao chavismo agora capenga de Maduro interessa o conflito violento (o governo proibiu a manifestação de hoje) para mostrar força bruta (já que a eleitoral foi menor do que esperava e está sob suspeita) e ter um pretexto para acusar a oposição, como já começara a fazer após os tumultos provocados pelas próprias forças de segurança, de querer dar um “golpe”. Já chama os oposicionistas de “fascistas”.

Maduro enfrenta uma conjuntura de inflação alta, desabastecimento, estagnação econômica e total dependência dos preços do petróleo exportado. Usa discurso e medidas populistas – a exemplo da venda interna de gasolina a preços simbólicos – para agradar a uma parte da população.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ian de Carvalho é jornalista baiano.