Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 2 de abril de 2013

Ministro baiano!

Terça, 2 de abril de 2013
Por Ivan de Carvalho
         1. Afinal, com a decisão da presidente Dilma Rousseff de nomear o ex-senador César Borges para ministro dos Transportes, representando o PR, a Bahia volta a ter alguém no ministério de Dilma. O que estava acontecendo, em termos da política que é feita no Brasil, era um total absurdo: o quarto colégio eleitoral do país, onde o governador é do partido no governo, o PT e onde Lula e Dilma obtiveram votações extremamente expressivas nas eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010, não dispunha de um ministro sequer, desde que foram demitidos os que havia.

         Agora, esta situação absurda deverá ser corrigida, com a nomeação do ex-governador e atual ex-presidente estadual do PR, mesmo não sendo ele o preferido do seu partido para o cargo. A direção e a bancada do PR tinham outras preferências, enquanto rejeitavam o atual ministro Sérgio Passos, que, apesar de filiado, não era considerado representante do partido e sim da “cota pessoal” da presidente Dilma.

         César Borges entra como um híbrido. Não é um tecnocrata como Paulo Sérgio Passos e não é exclusivamente um político, pois, apesar de sua vasta carreira política, (deputado estadual, vice-governador, governador, senador e novamente candidato a senador – nesta última vez, sem êxito, em consequência de circunstâncias políticas gerais extremamente desfavoráveis) é engenheiro civil e foi secretário estadual de Saneamento, além de diretor do BB. Pode, nos Transportes, com a sua formação de engenheiro civil, ser considerado um político e técnico simultaneamente.

         Também pode ser considerado um híbrido porque não era o nome preferencial do PR, mas é aceitável ao seu partido e foi o nome que a presidente Dilma Rousseff preferiu para atender ao PR, que se considerava totalmente desatendido pela insistência dela em manter sua teimosa preferência por Paulo Sérgio Passos, que assumiu o cargo desde que ela demitiu – forçada por um dos vários escândalos produzidos em seu governo por gênese própria ou herança genética – Alfredo Nascimento, atual presidente do PR e, ao lado de Valdemar Costa Neto, um dos dois controladores do partido. Aliás, com a nomeação de César Borges, o PR quase certamente passa a ter três controladores, sendo benéfico o acréscimo.

         Finalmente, pode-se dizer que César Borges é um híbrido no sentido de que, atendendo ao PR, que preside na Bahia, sua nomeação reforça a coalizão governista liderada em nosso Estado pelo governador Jaques Wagner, além de incluir de vez o PR entre os integrantes da aliança que sustenta o governo e a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição. Pode ter deixado o PT baiano de olho comprido, mas para o governador Wagner certamente foi bom e se não fosse dificilmente teria acontecido.

         2. A coluna de Cláudio Humberto, edição de ontem, dá conta de que o tucano José Serra já está engajado a tal ponto no projeto de ingressar no PPS (que se fundiria com um micro-partido para abrir uma janela pela qual possam penetrar parlamentares do PSDB e outras legendas)       que já faz convites em nome do PPS a políticos para ingressarem na nova legenda, mesmo estando ele ainda sem despir publicamente a plumagem de tucano.

         A informação do colunista prossegue dando conta de que Serra admite deixar o PSDB, mas, digamos nós, serrando-lhe um bom pedaço, uma tora de pelo menos 15 deputados federais.

         A questão é importante. Recentemente, o então prefeito de São Paulo, Kassab, formou um partido com integrantes recrutados em diversas legendas, mas sobretudo no segundo mais importante partido da oposição no país. E aliou-se ao governo federal do PT. Agora, Serra quer esvaziar o principal partido da oposição, o PSDB, supostamente (somente supostamente, porque certeza ninguém pode ter, até pelo histórico ideológico dele) para fazer um partidinho próprio de oposição. Cujos membros, não podendo adotar a denominação de tucanos, escolheriam, talvez, pela possível função que teriam na política brasileira, o cognome de caga-sebos.

         “Os caga-sebos decidiram, em convenção nacional, lançar candidatura própria a presidente da República”, anunciou o partido em nota oficial. Seria impactante, convirá qualquer marqueteiro, mas conviria também que os eleitores saíssem de baixo exatamente para evitar impactos indesejáveis.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.