Segunda, 8 de abril de 2013
Paula Laboissière e Thais Leitão*
Repórteres da Agência Brasil
Morreu hoje (8) aos 87 anos a ex-premiê britânica Margaret
Thatcher, conhecida como Dama de Ferro. Primeira mulher a ocupar o
cargo, ela teve um derrame no início da manhã
Margaret Thatcher nasceu em outubro de 1925, em Grantham, uma
pequena cidade comercial no Leste da Inglaterra. Ela ocupou o cargo de
primeira-ministra britânica por mais de 11 anos, entre 1979 e 1990.
Em dezembro do ano passado, Margaret Thatcher foi submetida a uma cirurgia para a retirada de um caroço na bexiga.
Thatcher foi uma das mais influentes figuras públicas do século 20. Seu
legado teve um efeito profundo nas políticas de seus sucessores, tanto
conservadores como trabalhistas. O estilo considerado radical e
agressivo definiu os seus 11 anos no comando da Grã-Bretanha.
Durante seu governo conservador, milhares de britânicos conseguiram
comprar casas populares e ações de empresas recém-privatizadas nas áreas
de energia e telecomunicação. Mas sua rejeição à chamada "política de
consenso" fez dela uma figura desagregadora, e a oposição ao seu governo
culminou com rebeliões nas ruas e dentro de seu próprio partido.
Margaret Thatcher estudou química em Oxford, com o auxílio de uma
bolsa de estudos, e se tornou a terceira mulher a presidir a Associação
Conservadora da universidade. Depois de se formar, trabalhou em uma
empresa de produtos plásticos e se envolveu em um grupo político
conservador, até que, a partir de 1949, começou a concorrer a cargos no
governo local em Kent. Mesmo sem vencer, ela atraiu atenção da imprensa
por ser a mais jovem candidata eleitoral conservadora da história.
Em 1951, ela se casou com o empresário divorciado Denis Thatcher,
com quem teve os gêmeos Mark e Carol, dois anos depois. Em 1959, obteve
um assento no Parlamento britânico. Foi nomeada logo em seguida
ministra-júnior e, após a derrota dos conservadores em 1964, entrou para
o gabinete de oposição que monitora o trabalho do governo. Ganhando
destaque no partido, Margaret Thatcher passou a fazer campanha vigorosa
contra impostos e a favor da construção de casas populares.
Quando o conservador Ted Heath foi eleito premiê, em 1970, ela foi
promovida a secretária da Educação e ordenada a reduzir os gastos da
pasta. Um dos cortes resultou no fim de uma campanha de leite gratuito
nas escolas, o que gerou fortes críticas dos trabalhistas e o apelido de
Margaret Thatcher, milk snatcher (algo como ladra de leite).
Ela própria havia se oposto ao corte dos subsídios para a compra do
leite. Depois do episódio, escreveu: “Aprendi uma lição valiosa. Incorri
no máximo de ódio político [em troca] do mínimo de benefício político”.
O governo Heath, afetado pela crise do petróleo de 1973, caiu no ano
seguinte. Crítica da condução da economia promovida pelo premiê,
Margaret Thatcher disputou com ele a liderança do partido em 1975 e,
para surpresa geral, venceu. Tornou-se a primeira mulher a liderar um
partido de grande porte na Grã-Bretanha. Logo começou a deixar sua marca
na política. Um discurso de 1976 contra as políticas repressoras
aplicadas na antiga União Soviética lhe rendeu o apelido de Dama de
Ferro – título que lhe agradava.
Quando o premiê trabalhista Jim Callaghan recebeu um voto de
desconfiança do Parlamento, o Partido Conservador venceu as eleições
gerais em 1979, e Margaret Thatcher foi alçada ao poder. Como
primeira-ministra, ela estava determinada a moralizar as finanças
públicas, e partiu para a redução do papel do Estado e o incentivo ao
livre mercado.
O controle da inflação era uma meta central do governo, que
introduziu um corte radical nos gastos e nos impostos. Privatizou
empresas estatais, fomentou a compra de casas populares e aprovou leis
para coibir a militância sindical. As novas políticas monetárias fizeram
do centro financeiro de Londres um dos mais vibrantes e bem-sucedidos
do mundo. Em busca de um país mais competitivo, antigas indústrias foram
desativadas. O desemprego cresceu.
Apesar de pressão popular, Margaret Thatcher não cedia. Em uma
conferência partidária de 1980, ela declarou: “Aos que esperam por uma
guinada, só tenho uma coisa a dizer: deem a guinada se quiserem. Essa
dama não volta atrás”. No fim de 1981, sua taxa de aprovação havia caído
para 25%, nível mais baixo registrado por qualquer premiê até então. No
ano seguinte, a economia iniciou sua recuperação e, com isso, cresceu a
popularidade de Margaret Thatcher.
A aprovação deu um salto maior em abril, com sua guerra contra a
Argentina pelas Ilhas Malvinas, vencida em 14 de junho. A vitória
bélica, somada a desarranjos no Partido Trabalhista, resultaram em nova
vitória conservadora nas eleições de 1983. Nessa época, ela enfrentou
desafios na Irlanda do Norte, como greves de fome de membros do IRA
(Exército Republicano Irlandês), e manteve uma abordagem linha-dura
perante o grupo.
Em outubro de 1984, o IRA detonou uma bomba em uma conferência do
Partido Conservador em Brighton, deixando quatro mortos e dezenas de
feridos. Em resposta, Margaret Thatcher declarou: “Esse ataque falhou.
Todas as tentativas de destruir a democracia com terrorismo falharão”.
Sua política externa era focada em reconstruir laços externos da
Grã-Bretanha. Teve como parceiro o então presidente americano Ronald
Reagan, com quem compartilhava opiniões semelhantes sobre a economia, e
manteve uma aliança improvável com Mikhail Gorbachev, presidente
soviético reformista.
Ante a desestruturação do Partido Trabalhista, a premiê foi, de
forma inédita, eleita para um terceiro mandato em 1987. Uma de suas
primeiras ações foi impor uma taxação sobre serviços públicos, que
despertou uma forte onda de protestos violentos no país e a insatisfação
dentro do próprio Partido Conservador. Mas o que acabou levando à sua
queda foi a questão da unidade do Continente Europeu.
Após um debatido simpósio sobre o euro ocorrido em Roma, Mikhail
Gorbachev Thatcher rechaçou a possibilidade de aumento de poder da
comunidade europeia. Após a saída de importantes membros de seu gabinete
e sob pressão do partido, a premiê disse se sentir traída e anunciou
sua renúncia em novembro de 1990.
Após deixar o poder, ela recebeu o título de baronesa, escreveu dois
livros de memórias e se manteve ativa na política, fazendo campanha
contra o Tratado de Maastrich (que pavimentou terreno para a adoção do
euro) e contra a política sérvia de limpeza étnica na Bósnia.
Foi forçada a reduzir sua atuação pública em 2001, quando sua saúde
começou a se deteriorar. Após sofrer uma série de pequenos derrames,
seus médicos advertiram sobre aparições públicas, nas quais ela se
revelava cada vez mais fragilizada. Além disso, Margaret Thatcher sofria
de problemas mentais, que afetavam sua memória de curto prazo. Em 2003,
seu marido Denis morreu aos 88 anos de idade.
Para seus críticos, ela foi uma política que colocou o livre mercado
acima de tudo. Foi acusada por muitos de deixar que parte da população
pagasse o preço por iniciativas que aumentavam o desemprego e geravam
distúrbios sociais. Para seus simpatizantes, a ex-premiê reduziu o
tamanho de um Estado inflado e a influência dos sindicatos, além de
restaurar a força britânica no mundo.
Sua filosofia pode ser ilustrada por uma entrevista que deu em 1987.
“Acho que passamos por um momento em que muitas crianças e pessoas
foram levadas a crer que ‘se tenho um problema, cabe ao governo lidar
com ele’. ‘Sou sem-teto, o governo tem de me dar uma casa. Eles [as
pessoas] jogam seus problemas sobre a sociedade, e quem é a sociedade?
Isso não existe! É nosso dever cuidar de nós mesmos e então ajudar a
cuidar de nossos vizinhos. A vida é um negócio recíproco, e as pessoas
mantêm em mente os direitos, [mas] sem as obrigações.”
*Com informações da BBB Brasil e da Fundação Margaret Thatcher // Edição: Juliana Andrade
Matéria ampliada às 10h35 com informações da BBC Brasil