Domingo, 9 de março de 2014
O novo símbolo da capital: as novas notas de empenho somam R$ 123 milhões.
Foto de Tomas Faquini / Portal da Copa-ME.
Por Lilian Tahan, publicado originalmente no Blog Grande Ângular/Veja Brasília.
De milhão em milhão, o Estádio Nacional Mané Garrincha caminha para
apresentar à sociedade brasiliense uma fatura na casa dos 2 bilhões de
reais. Desde que a obra foi contratada, em 2010, o governo fez uma série
de reajustes no projeto-base que até agora somam 123 milhões de reais
ao custo final da empreitada. Esses valores não foram divulgados no
Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), mas estão registrados em
notas de empenho às quais VEJA BRASÍLIA teve acesso.
Os
acréscimos ligados a reajustamentos na obra começaram a ocorrer a
partir de 23 de setembro de 2011. Desde então, foram emitidos 47
aditivos em favor da Via Engenharia S.A. e da Andrade Gutierrez S.A.,
duas das empresas contratadas para erguer o palco esportivo. Juntas, as
empreiteiras formam o Consórcio Brasília 2014. Só em adendos, essas
construtoras receberam 118,6 milhões de reais. Os dois pagamentos mais
recentes foram liberados em 24 de fevereiro para a Andrade Gutierrez.
Além da quantia destinada ao complexo, outros 4,73 milhões de reais
foram pagos ao consórcio Entap-Protende-Birdair, responsável por fazer a
cobertura do Mané Garrincha.
O curioso é que as despesas extras continuam a ser feitas apesar de o
estádio ter sido entregue há quase dez meses, em 18 de maio de 2013.
Nesse período, a arena foi sede de shows e várias partidas de futebol,
inclusive da Copa das Confederações. Uma vaga justificativa para
investir em uma obra inaugurada, testada e retestada consta na descrição
de pagamentos das tais 47 notas oficiais de empenho: “referente à obra
de reforma e ampliação do estádio”.
Trata-se da empreitada pública mais cara de Brasília na última
década. Somente o contrato principal de construção e reforma custou ao
Tesouro local 1,17 bilhão de reais. Além desse valor, outros 424,5
milhões de reais foram pagos — ou estão em fase de contratação — para
bancar serviços complementares, como a colocação de assentos, a
instalação do gramado e a montagem da cobertura (veja os principais no
final da matéria). Há ainda mais 285 milhões de reais referentes a
intervenções de paisagismo e urbanização de locais adjacentes ao
estádio, chamados pelo Palácio do Buriti de “entornão” do Mané
Garrincha. A soma desses valores alcança a cifra de 1,879 bilhão de
reais.
O governo tenta diminuir o desgaste decorrente do alto custo
separando despesas feitas no contexto da Copa. A manobra é pouco
convincente. De acordo com a Coordenadoria de Comunicação para a Copa
(Comcopa), o estádio teve seu cronograma de obras antecipado em oito
meses, mas não estava pago em sua totalidade na inauguração da arena.
“Uma obra entregue não é necessariamente uma obra paga”, diz a
instituição governamental. Segundo a Comcopa, o custo do estádio fecha
em 1,4 bilhão de reais, pois o governo não considera os valores pagos,
por exemplo, em paisagismo e urbanização planejados em função da nova
arena. “São recursos para a cidade, para a área central, e não para o
estádio em si”, afirma a Comcopa. Quanto às 47 notas de empenho de
reajustamento, o governo afirma que se trata de “atualização monetária” e
que, por isso, não haveria a obrigatoriedade de publicação no Diário
Oficial. A Via e a Gutierrez foram procuradas, mas informaram que a
Comcopa centralizou as informações referentes a essas obras. Com a
brecha legal para a emissão desses aditivos, a definição da conta final
de nossa arena talvez tenha o céu de Brasília como limite.
Fonte: Brasília por Chico Sant'Anna