Quinta, 31 de julho de 2014
Thaís Coutinho
Contribuições para um balanço que nos ajude na
reconstrução da unidade da categoria.
Na última Assembleia unificada das Redes
Municipal e Estadual do Rio, foi suspensa a greve dos Educadores iniciada em 12
de maio deste ano. O encerramento da greve aconteceu devido a uma leitura
acertada da conjuntura atual e da correlação de forças, na tentativa de
preservar a categoria dos ataques dos governos.
Nossa greve, sem força e adesão da categoria e
sem apoio massivo da população, quadro contrário à greve de 2013, deixou de ser
uma tática eficaz para pressionar os governos. No ano passado, devido a nossa
política que priorizou a construção de uma greve de massas e conseguiu
mobilizar a categoria e população em defesa da Educação Pública, as ameaças
feitas pelo governo não foram concretizadas. Neste ano, ao contrário, o
resultado das táticas equivocadas possibilitou que as ameaças se
concretizassem. E hoje temos um difícil quadro que precisamos reverter: o risco
de demissão dos grevistas, corte de ponto, processos e perdas de lotação.
Esta é a prioridade do movimento agora.
Sabemos que não avançamos na nossa pauta. Mas defendemos que a nossa luta deve
centrar em garantir nosso direito de greve, isto é, nenhuma punição aos
grevistas!
Neste momento é importante fazermos um balanço
da greve, apontar algumas ideias, críticas e autocríticas para com isso
aprendermos e não cometermos os mesmos erros. Precisamos refletir sobre os
rumos do nosso movimento até aqui e pensar nos próximos passos. Neste sentido,
apresentar um balanço que não escamoteia nossas diferenças, mas localiza que o
inimigo é o governo e é contra este que temos que lutar, é fundamental para
pensarmos o melhor caminho a seguir na garantia que nenhum grevista seja punido
e ninguém fique par atrás!
I) O problema de se transformar uma vitória em
derrota
Avaliamos que para compreendermos o que
aconteceu na greve de 2014, é preciso relembrar uma das maiores greves da
Educação do Rio, a greve de 2013.
Ano passado nosso sindicato fez uma greve
histórica. Uma greve vitoriosa, mas que infelizmente não fizemos o balanço
correto daquele movimento e deixamos espalhar em todos nós um sentimento de
derrota que não condizia com as conquistas políticas e materiais que tivemos na
última greve. Vitórias políticas, pois enterramos o desgastado governo Cabral e
iniciamos o desgaste do governo Paes, contribuindo para um cenário favorável a
novas lutas na cidade, como de fato ocorreu com as greves dos garis e
rodoviários. Também tivemos vitórias materiais como a correção salarial dos
funcionários do município (que até então recebiam menos que um salário mínimo)
e reajuste para toda categoria, barramos a certificação na rede estadual (que
seria um passo importante do projeto meritocrático) e a climatização (ainda em
andamento) das unidades escolares municipais. Essas foram algumas das
conquistas que conseguimos em um momento onde a correlação de forças era
desfavorável, sobretudo no município, já que o governo Paes não apresentava
sinal de desgaste. Além disso, ao optar pela saída da greve, em assembleia, a
categoria garantiu o fim da greve sem punições aos grevistas, como as que
estamos sofrendo hoje (corte de ponto, processos e ameaças de demissão).
Ao não fazermos o balanço correto de 2013,
dificultamos a continuidade da luta, pois deixamos espalhar um sentimento que a
luta não valia apena. Pois, falamos para milhares de pessoas que fizeram uma
greve massiva, que tornou a Educação pauta nacional, furando a barreira da
grande mídia e colocou o governo contra a parede (obrigando o mesmo a negociar
conosco), que a maior experiência de suas vidas foi derrotada!
Mas como deixamos um sentimento de derrota se espalhar após a maior e vitoriosa greve da Rede Municipal?
Mas como deixamos um sentimento de derrota se espalhar após a maior e vitoriosa greve da Rede Municipal?
Em parte essa explicação se dá por termos
feito uma leitura parcial da realidade. É fato que a força da nossa categoria
em 2013 era enorme. Mas em qualquer análise devemos avaliar os dois lados. Por
isso, precisamos lembrar que lutamos contra setores poderosos da nossa
sociedade, representados pelo governo Paes/Cabral. E sempre soubemos que a luta
era dura e entre forças desiguais. O governo Paes/Cabral representa o interesse
da burguesia e a fortaleza do seu governo é essencial para o projeto de Brasil
que esta classe tem. O Rio, cidade dos megaeventos, é a vitrine do Brasil para
o mundo e por isso para eles é fundamental preservar o governo Paes. Este era o
cenário em que travamos nossa batalha: um espaço que precisava ser preservado
pela burguesia e um governo municipal até então intacto. Não dar o real peso
que a correlação de forças merecia, diminuiu a importância das nossas vitórias
e acabamos focando mais no que não conquistamos do que no que conseguimos
arrancar em um difícil cenário.
Outro fator importante a considerar é que
alguns setores optaram por propagandear esse balanço derrotista para fazer uma
disputa com a direção do sindicato. Incentivar o sentimento de derrota, para
poder criticar a direção constitui um grave erro, pois nossas disputas internas
não poderiam jamais nos levar a uma análise equivocada da realidade, que acabou
contribuindo para a desmobilização da categoria.
Por fim a direção deste sindicato tem uma
importante parcela de responsabilidade. Pois não conseguiu disputar o balanço
da greve. É importante que esta autocrítica seja feita para que possamos
avançar.
II) Não conseguimos preparar de forma
satisfatória a luta de 2014
Apesar de este ano ter ocorrido o XIV
congresso do SEPE, no final de março, reunindo mais de 1400 delegados, onde
fizemos debates importantes, este espaço foi insuficiente para nos prepararmos
para uma nova greve. Nos centramos em problemas internos do sindicato, que eram
sim de grande importância e conseguimos dar alguns passos para tornar o SEPE
mais democrático e evitar o risco da burocracia sindical. Conseguimos aprovar mudanças no estudo, defendidas quase de forme unanime, que incentivam a renovação do sindicato. Esses foram alguns avanços importantes do nosso congresso.
mais democrático e evitar o risco da burocracia sindical. Conseguimos aprovar mudanças no estudo, defendidas quase de forme unanime, que incentivam a renovação do sindicato. Esses foram alguns avanços importantes do nosso congresso.
Porém, alguns debates não foram feitos de
forma mais profunda, tal como o da concepção sindical, cuja inexistência de uma
mesa sobre o tema que garantisse um debate de qualidade prejudicou a nossa
armação política. Somado a isso, os rumos desproporcionais que alguns debates
existentes no congresso tiveram nas redes sociais ajudaram a despolitizar o
debate e difundir um clima de hostilidade e intimidação entre os militantes que
prejudicou os rumos do nosso movimento. O não combate desde o início a essa
prática equivocada fez com que se tornasse recorrente em nossos fóruns
(virtuais e reais) insinuações, falsas acusações e falsas polêmicas, que com o
tempo só se agravaram, chegando na atual crise interna do sindicato.
III) As táticas equivocadas adotadas durante a
greve não conseguiram trazer a categoria para a luta.
A nossa greve foi desencadeada no contexto de
um forte ascenso das lutas da classe trabalhadora e da massa popular que veio à
tona a partir de junho de 2013. Seguindo as gigantescas mobilizações populares
e democráticas, que chegaram aos milhões de pessoas ocupando as ruas do país
inteiro, o ano de 2014 chegou trazendo uma onda de greves combativas que, em
grande parte, enfrentaram não apenas a patronal e os governos como a própria
burocracia sindical incapaz de dialogar com os anseios dos trabalhadores. A
vitoriosa greve dos garis do Rio de Janeiro foi a senha para que as mais
diferentes categorias de trabalhadores assumissem a perspectiva da luta direta
e colocassem a classe dominante contra a parede.
Nesse contexto, em que, além do mais, a
aproximação da Copa do Mundo (e os investimentos econômicos e políticos a ela
associados) colocava os governos e a patronal em uma delicada e tensa situação,
a greve era uma aposta que precisava ser feita. E por isso, foi acertada a
deflagração da greve unificada da educação do Rio de Janeiro como forma de
trabalhar pela mobilização da categoria em favor do avanço da pauta de
reivindicações contra os governos peemedebistas fragilizados pela conjuntura.
Quando deflagramos a greve, sabíamos que
teríamos um desafio: o de fortalecer o movimento após a sua deflagração. Porém,
não conseguimos levar nossa greve para além dos setores da vanguarda da
categoria. E o mais grave, fomos perdendo adesão e força ao longo do processo.
Este quadro de desmobilização está relacionado tanto a fatores externos como
internos ao movimento grevista.
A articulação nacional das forças política do
regime burguês e seu Poder Judiciário lançaram uma ofensiva voltada à
criminalização das greves e mobilizações populares que teve no esmagamento
repressivo da greve dos metroviários de São Paulo, com a demissão de mais de 40
trabalhadores, um marco decisivo que promoveu uma oscilação desfavorável na
correlação de forças da luta de classes a nível nacional. A derrota imposta à
greve dos metroviários de SP, em função do protagonismo que chegou a
desempenhar na luta de classes, a nível nacional, criou as condições
necessárias ao desencadeamento de uma poderosa escalada repressiva nacional
contra o conjunto das greves em curso.
No âmbito do movimento grevista unificado da
educação do estado e do município do Rio de Janeiro, a baixa adesão da
categoria se aprofundou com a estratégia de desgaste e com a criminalização
imposta pelos governos do PMDB.
Em relação aos fatores internos ao movimento
que contribuíram para a o enfraquecimento da greve, é preciso refletir que a
direção do SEPE, como um todo, e cada setor com a responsabilidade do seu peso
político, não disputou desde o início os espaços e rumos da greve. Portanto, ao
falhar em sua responsabilidade de direção, abriu espaço para o avanço de
políticas ultra-esquerdistas.
As opções políticas defendidas pelos setores
ultra-esquerdistas, que não priorizavam o diálogo com a própria categoria e sim
uma greve de ações midiáticas, levaram a derrota do movimento, com corte de
ponto e possibilidades de demissões. Algumas táticas realizadas durante a
greve, expressa, na escolha de algumas palavras de ordem, mostravam uma
política equivocada que na essência confundiu o movimento e consequentemente
afastou parte da categoria, até mesmo parcelas de educadores que iniciaram
conosco a greve. Um bom exemplo disso é a palavra de ordem “Não vai ter Copa!”.
Pode parecer coisa menor e sem importância, mas uma palavra de ordem expressa
uma linha política. E esta, particularmente, expressava uma linha política
equivocada, que não deixava claro o motivo real de nossa mobilização para a
base da categoria e para a população de modo geral. É fato que optamos por
aproveitar o cenário da Copa para mostrar as contradições de nosso país, que
não prioriza a Educação. Mas não podemos escolher palavras de ordem e táticas
que somente atendem os anseios de pequenos grupos da vanguarda. O uso dessa
palavra de ordem como carro chefe mostrou-se um equivoco.
Tais setores incapazes de conduzir a greve com
uma orientação e uma perspectiva propriamente política, atenta à estratégia e à
correlação de forças, agarraram-se a um vanguardismo despolitizado que quis ver
e fazer ver, numa greve que se esvaziava, e a revelia do estado de ânimo real
da categoria, a possibilidade de dobrar dois governos intransigentes,
repressores e amparados pelo Judiciário. Na disputa interna, todos aqueles que defendiam
uma perspectiva distinta, capaz de defender um recuo organizado diante da
situação adversa, eram moralmente desqualificados.
Acreditar que intervenções públicas
espetaculares, ao estilo “Green Peace”, promovidas por pequenos grupos, são
capazes de substituir a presença e ação massiva da categoria dos profissionais
da educação na luta por suas reivindicações, foi, é e continuará sendo um
grande equívoco. Existem várias táticas na luta dos trabalhadores, mas a greve,
por sua natureza, pressupõe a adesão de um setor quantitativamente
significativo da categoria. Greve sem a categoria não é propriamente greve.
Seguindo a orientação desse campo político o
setor mobilizado da categoria, cada vez menos numeroso, marchou rumo a uma
séria derrota política e à degola, com centenas de profissionais sob inquérito
e ameaça real de demissão. É preciso defender esses companheiros assim como é
preciso ter em mente que essa é uma luta prolongada, se faz de marchas e
contra-marchas, há momento de avançar e, como agora, de recompor as forças.
Voltar às bases e rearticular o movimento real, não tentar substituí-lo pela
visibilidade midiática.
É preciso avançar com novas táticas pra
garantir que nenhum grevista seja punido!
Com a deflagração acertada da suspensão da
greve, precisamos seguir na luta em defesa dos trabalhadores da Educação
perseguidos pelos governos. Lembrando que a greve é apenas uma das formas
possíveis de lutar. E no momento atual, onde a correlação de força não é
favorável e tínhamos baixa adesão da categoria, esta tática deixou de ser
eficaz (já que não conseguiu mais garantir o diálogo) e tornou-se um equívoco,
pois acabou expondo os grevistas.
Precisamos adotar novas maneiras de lutar, que
reorganizem a nossa categoria e consiga reverter as punições aos grevistas, garantindo
nosso direito de greve.
Antes de mais nada, é preciso focar que nossas
diferenças não nos tornam inimigos. O inimigo é o governo e contra este devemos
centrar nossos esforços. Precisamos acabar com as falsas polarizações que surgiram
em nossas assembleias e respeitar os que pensam de forma diferente. A
democracia interna é algo que não podemos abrir mão. E não podemos permitir que
a hostilidade e intimidação contra os que defendem posições diferentes continue.
Tais ataques representam um risco ao próprio
sindicato. O SEPE é um dos mais combativos sindicatos do Brasil, e por isso
constitui-se um importante instrumento de luta da nossa classe. Não é a toa que
o governo não mede esforços para tentar destruir nosso sindicato. Precisamos
preservar o nosso sindicato não só dos ataques dos governos, mas também dos
métodos equivocados que vem sendo disseminados por setores da vanguarda, que
põe em risco esse importante instrumento dos trabalhadores.
Também precisamos garantir a liberdade de
organização para a nossa classe. É legitimo e necessário que os trabalhadores
se organizem em correntes, agrupamentos e partidos políticos. Após duros anos
de ditadura militar, com muita luta, conseguimos garantir direito à organização
da nossa classe. E agora, não podemos dar coro ao discurso indivudualista e/ou
extreito que todos os partidos políticos representam o mesmo projeto. Sabemos
que a burguesia tem seus partidos e organizações para atacar os trabalhadores e
é legitimo que nos organizemos pra defender nossos direitos. No entanto, é
preciso deixar claro que somos contra qualquer forma de aparelhamento de
sindicatos por quaisquer organizações partidárias ou não.
Agora, é preciso nos reconstruirmos para
garantir nosso direito a greve sem punição! Precisamos de uma grande Campanha
em defesa dos perseguidos!
Para isso, precisamos nos propor a fazer algo
que não conseguimos fazer durante a greve: dialogar com a base da categoria,
que está nas escolas. Precisamos conquistar o apoio dos companheiros que fizeram
a greve de 2013, mas não fizeram a greve de 2014. Retornar as escolas e reabrir
o diálogo com nossos colegas de trabalho, assim como as assembleias regionais
são etapas fundamentais para reorganização da luta. Precisamos reconstruir a
unidade da categoria e fortalecer nosso sindicato pela base. Precisamos
dialogar com os pais dos alunos e toda a comunidade escolar, trazendo toda a
escola na defesa dos grevistas. A campanha em defesa dos perseguidos deve
começar no chão das escolas.
O apoio de todos os lutadores é fundamental
para que essa campanha avance. Durante a greve realizamos diversas Plenárias
das categorias em luta, que construíram atos unificados de diversos setores da
nossa classe. Agora, precisamos convocar esses companheiros a se somarem a
campanha em defesa dos trabalhadores da educação perseguidos. É fundamental
construirmos uma grande Plenária, com os demais setores da nossa classe,
figuras públicas, movimentos sociais e todas as organizações que defendem que
lutar não é crime. Necessitamos mobilizar a sociedade em defesa dos grevistas
da educação.
É preciso massificar e nacionalizar a campanha
financeira e política contra as punições aos trabalhadores da Educação do Rio
de Janeiro. Os ataques que aqui sofremos são parte de uma política nacional da
classe dominante, tal como aconteceu com os metroviários em São Paulo. Por
isso, a resposta à perseguição que sofremos não cabe apenas aos educadores do
Rio, mas toda a nossa classe. Esse é o nosso desafio: fortalecer a construção
de uma grande campanha nacional em defesa dos educadores perseguidos e contra
punição dos grevistas! Greve é direito! Lutar não é crime!
Educadores do MES -Movimento Esquerda
Socialista/RJ (Tendência interna do PSOL)
Sombra