Sábado, 17 de janeiro de 2015
Tensão
entre polícia e manifestantes já era sentida desde o início, na avenida
Paulista, mas estourou na frente da Prefeitura; próximo ato será na
zona leste
Máscaras no rosto, olhares de poucos amigos e disposição para a briga. A
descrição, desta vez, não é de nenhum black bloc, mas da Polícia
Militar de São Paulo, que na manifestação da sexta-feira 16 decidiu se
antecipar ao confronto e descarregar sua artilharia em frente à sede da
prefeitura, no centro da cidade, antes do percurso planejado terminar.
...
A tensão entre a PM e os manifestantes já era sentida desde a Praça do
Ciclista, na Avenida Paulista, onde o ato começou, por volta das 17h.
Mascarados ou não, todos reprovavam os tiros de borracha disparados na
manifestação da semana passada. “A força da polícia é desproporcional”,
afirmou um black block a CartaCapital. “Agora o batalhão de choque vem
mascarado e sem identificação. Por que eles podem?”
Assembleia terminada e trajeto definido: todos desceriam a rua da
Consolação, passariam pela prefeitura, no viaduto do Chá, e seguiriam
para a Secretaria Municipal de Transportes, ali perto.
Os gritos pela desmilitarização da PM ganharam volume já no início da
marcha, quando um manifestante foi arrastado pelos soldados para fora do
cordão de isolamento por volta das 19h30. O protesto parou ali mesmo,
na Consolação, e só continuou depois de a PM permitir que um advogado
acompanhasse a detenção.
As palavras de ordem contra os policiais passaram a rivalizar com os
cantos para baixar a passagem, que desde o começo do ano custa três
reais e cinquenta centavos na capital paulista.
A passeata permaneceu pacífica até a primeira novidade preparada pelo
MPL: ao chegar à prefeitura, um carro de som exigiu respeito da polícia
antes que uma paródia de Beijinho no Ombro, de Valesca Popozuda,
insinuasse que protesto popular em São Paulo é tratado com “tiro,
porrada e bomba”. A letra, projetada nas paredes do prédio, foi cantada
pelos 20 mil manifestantes, pelas contas do MPL, – a PM fala em 3 mil.
Ao final da projeção, um porta-voz do movimento tomou o microfone para
reiniciar a caminhada: “Vamos terminar o protesto em frente à Secretaria
de Transportes!”
Não foi o que aconteceu. Antes que a multidão retomasse a caminhada, um
manifestante jogou uma garrafa de cerveja no escudo de um policial - o
suficiente para que uma chuva de tiros de borracha e bombas de efeito
moral caísse sobre as cabeças de quem protestava.
A reportagem se escondeu atrás do carro de som, enquanto os
manifestantes fugiam em direção ao Theatro Municipal. A PM perseguiu e
prendeu ao longo de todo o centro, atirou contra a imprensa, gerando
mais protestos que acabaram com lixos rasgados pela na Rua Coronel
Xavier de Toledo e a fachada de um banco estilhaçada.
Até o fechamento da reportagem, ao menos oito manifestantes haviam sido levados para o 78.º Departamento de Polícia.
O terceiro ato convocado pelo movimento está previsto para acontecer na
terça-feira 20, às 17h, na praça Silvio Romero, próximo ao Metrô
Tatuapé, na Zona Leste da Cidade.
Fonte: Blog do Sombra / CartaCapital, por Wanderley Preite Sobrinho - 17/01/2015