Segunda, 2 de março de 2015
Da Tribuna da Imprensa
Helio Fernandes
A operação Lava-jato provocou enorme satisfação na
comunidade do Brasil todo, normalmente chamada de opinião pública. Depois
de profundas investigações do Ministério Público e da Policia Federal do
Paraná, o juiz Sergio Moro determinou o que sempre havia sido impossível e até
impensável: a prisão de dezenas de executivos ladrões das mais importantes
empreiteiras do país. Roubaram BILHÕES da Petrobras, “nada acontecerá”,
imaginavam.
Corruptos e corruptores convencidos de que eram
mesmo poderosos, logo recorreram à Justiça. Assustados e desesperados com a
negativa do Supremo de examinar e conceder qualquer benefício, compreenderam
que agora tudo era para valer.
Passaram a percorrer outros caminhos, sempre
insistindo, “se as empreiteiras foram consideradas inidôneas, o Brasil vai
parar”. Conseguiram conquistar apoio em muitos setores, na advocacia Geral da
União, (AGU), Controladoria Geral da União (CGU), e até mesmo no Tribunal de
Contas da União (TCU).
Uma fortaleza expugnável e inatingida era o
Procurador Geral da Republica. Resistia a tudo, o mínimo que afirmava: “Como
vou DENUNCIAR indiciados que têm foro privilegiado, assim que o juiz Sergio
Moro liberar os acusados farei as denuncias ao Supremo”.
Isso valeu até certo momento, quando o Procurador se
envolveu com o Ministro da Justiça. Desde que registrei aqui o encontro e a
conversa dos dois, “com as mãos na boca” para evitar possível leitura labial,
(textual), tudo mudou, principalmente a partir de sexta-feira.
Ricardo Janot fez revelação estrondosa, lógico, com
enorme repercussão:”Minha casa foi invadida no inicio de janeiro? Não quis
contar nada, achei que podia prejudicar o andamento da ação Lava-jato e das
punições aos envolvidos”. Mas por que o procurador vinha a público no último
dia de fevereiro, se o assalto a sua casa, segundo ele mesmo, acontecera no
inicio de janeiro?
E por que a contradição e a distração do Ministro da
Justiça, que no meio de fevereiro, 40 dias antes da revelação do próprio Janot,
dizia em entrevista: “Estava conversando com o Procurador Geral para ALERTÁ-LO
de que pode sofrer ameaças em sua casa”.
Isso na sexta. No sábado, anteontem, numa radical
mudança de posição e de propósitos, Janot veio novamente a público, já com discurso
e objetivo completamente diferente.
Textual de Janot; “segunda (hoje) ou terça (amanhã)
entregarei a lista ao Supremo com PEDIDO DE INVESTIGAÇÕES”.
Desapareceu a palavra DENUNCIA, tão badalada e
satisfatória, surgiu esse PEDIDO de nova INVESTIGAÇÃO. Isso anula todo o
trabalho realizado no Paraná, coloca a próprio Supremo, (ainda com 10
ministros) em situação embaraçosa. O fim de semana foi de alivio no Paraná e em
Brasília, para políticos.
A mudança de rumo do Procurador Geral foi
CONSEQUÊNCIA, INCOERÊNCIA ou COINCIDÊNCIA? Todos irão saber à partir de hoje ou
amanhã. Se trocar mesmo a palavra chave contra a corrupção dos corruptores,
Janot não precisa esperar o fim do mandato. Basta renunciar, já não terá mesmo
mais nada a fazer como Procurador.
Levy-Dilma
A excelente foto de André Coelho, na Primeira do
“Globo” é altamente sugestiva, permitindo interpretações, ou como dizem os
meteorologistas, sujeito “a chuvas e trovoadas”. Ele aparentemente de dedo em
riste na direção dela, que de cara “amarrada” (nenhuma novidade) não olha para
lugar algum.
Pode ser o contrario, mas não parece nada amistosa,
embora as relações entre eles permitam todas as dúvidas e até certezas. Um
exemplo: 24 horas antes da foto, o Ministro da Fazenda falou sobre o que o
próprio governo chama de “desoneração”.
Textual, sem uma virgula a mais ou menos, como
gostava Graciliano Ramos; “Essa brincadeira de desoneração custa 25 BILHÕES por
ano". Acrescentou: “Foi uma grosseria”. A desoneração foi criada por Dona
Dilma no primeiro mandato. Agora no inicio do segundo, o novo e surpreendente
(pela escolha) Ministro da Fazenda identifica a medida como “brincadeira”.
24 horas depois da foto, o presidente da Fiesp, que
concentra os maiores empresários do país, fulminou: “O segundo governo da
presidente Dilma não é continuação do primeiro?”. Devia ser, só que ela não
respondeu. Mas no sábado, não resistiu: “a declaração do Ministro foi infeliz”.
Dona Dilma consagrou a foto, lembrou a análise
antiga: “uma foto vale mais do que mil palavras”. Durante quanto tempo Dilma e
Joaquim Levy ficarão separados por tanta proximidade? Ou próximos com tantas
divergências? E logo no setor econômico?
No sábado, Levy tentou uma reprimenda a si mesmo,
afirmando: “Fui coloquial demais”. Não melhorou nada do ponto de vista da
“grosseria e da brincadeira”. Mas deixou bem claro: está precisando com
urgência de um assessor que de forma coloquial, possa ajuda-lo com um ajuste
gramatical.
PS- Desde a reeleição, Dona Dilma e refugiou no
silêncio do pré-ostracismo ou do ostracismo da realidade. Antes do Datafolha
revelar que 77% dos entrevistados disseram "ela mentiu na campanha",
tentou falar.
PS2- Mas como ignora tudo de quase tudo, desandou a
falar em diálogo. Escrevi logo e vou insistir: "Diálogos só os de Platão,
a presidente não sabe quem é o filosofo, jamais ouviu o nome dele".
PS3- Dilma precisa abandonar a "idolatria"
por FHC. A todo momento se compara com o ex-presidente, ato e fato incoerente,
inconsequente, imprudente. Ele adora isso, sai do ostracismo, ganha
"holofotes", se diverte nas redes sociais.
PS4- Anteontem, numa inauguração pífia, Dilma
disparou: "No meu primeiro mandato, produzi mais energia do que FHC em
oito anos de governo". Começa que não é verdade. E o que aconteceu: FHC
apareceu nos mais diversos veículos de comunicação, real ou virtual.
PS5- Onde estava Dona Dilma, enquanto FHC fazia o
país retroceder 80 anos em 8? E depois, no poder, por que não mandou investigar
a Comissão de Desestatização (escândalo maior que o da Petrobras) "doa a
quem doer", ou sem deixar "pedra sobre pedra?".