Sexta, 13 de maio de 2016
Pecuaristas prejudicados
Fontes: Euler de França Belém - Jornal Opção /// Blog do Sombra
Ricardo Molina relata que o empresário, ex-sócio da JBS-Friboi,
assinala na gravação que o Friboi havia assinado um contrato de gaveta
com o BNDES. —Junior Friboi e os irmãos friboi-destak
O livro “O Brasil na Fita — De Collor a Dilma, do Caso Magri à Lava
Jato, O Que Vi e Ouvi em Mais de Vinte Anos” (Record, 403 páginas), de
Ricardo Molina, renomado perito da Unicamp, tem histórias sobre
políticos, empresários, policiais, jogador de futebol, cantores. Entre
os goianos são citados Iris Rezende, Ronaldo Caiado, Demóstenes Torres,
Júnior Friboi, Joesley Batista, Wesley Batista e Carlos Cachoeira (a
história de Waldomiro Diniz, o ex-primeiro amigo de José Dirceu).
Uma das histórias, intitulada “Farra do boi”, versa sobre os negócios
da família Batista — Júnior Friboi, Joesley Batista e Wesley Batista. Os
três eram sócios na JBS-Friboi. Agora, só os dois últimos estão no
comando da empresa. Ricardo Molina relata que, em 2005, examinou três
fitas que mencionavam negócios dos donos do Friboi. Os denunciantes eram
os proprietários do frigorífico Araputanga. “A falcatrua envolvia o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o
frigorífico Friboi. Na época, Ronaldo Caiado (DEM-GO) presidia a
Comissão de Agricultura na Câmara dos Deputados e estava interessado em
propor a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para
apurar irregularidades que envolviam o presidente do Friboi, José
Batista Júnior [Júnior Friboi], acusado de organizar um cartel no
mercado da carne no Brasil”.
Ricardo Molina conta que “Júnior foi flagrado por uma gravação na qual
dizia que o Friboi e outros três frigoríficos combinavam o preço pago
pelo boi”. Na gravação, o empresário Júnior Friboi dizia: “Nós, o
Bertin, o Independência… Os três põe [sic] o preço do boi em tudo quanto
é Estado. Mato Grosso nós peita… Nós sozinho regulou [sic] o preço.
Estamos fazendo o preço do Mato Grosso, e os outro acompanha [sic]”.
“Analisei as fitas e constatei que eram autênticas, sem indícios de
montagem”, afirma Ricardo Molina. As fitas foram repassadas ao
procurador da República Mário Lúcio Avelar, então em Cuiabá. A gravação
era, registra o perito, “parte da estratégia de defesa de Jorge Almiro
Bihl, proprietário do frigorífico Araputanga. Ele arrendou seu
frigorífico para o Friboi, que descumpriu o acordo de assumir o
pagamento de passivos. O negócio era de 1999 e o descumprimento levou a
família Bihl a uma disputa judicial contra a direção do Friboi, por
estar sofrendo pressão dos credores”.
As fitas continham informações extras a respeito das negociações do
Friboi com o BNDES e “supostas irregularidades na Sudam”. “Na gravação”,
sublinha Ricardo Molina, “Joesley Batista, irmão de João Batista Júnior
[o perito erra o prenome: não é João, e sim José], dizia que a empresa
teria um ‘contrato de gaveta’ no BNDES”.
A UDR já pedira ao Ministério Público para investigar “um empréstimo de
80 milhões de dólares do BNDES ao Friboi, para a compra de um
frigorífico argentino. Além disso, embora o BNDES negasse o contrato de
gaveta, reconhecia ter cometido erros na operação. Levantou-se uma
suspeita de favorecimento no BNDES, que concentrava 560 milhões de reais
em empréstimos ao Friboi. A formação de cartel e o tal contrato
heterodoxo com o BNDES ficavam evidentes nas conversas gravadas”, anota
Ricardo Molina.
Wesley Mendonça Batista, sócio de Joesley e então sócio de Júnior
Friboi, atacou: a fita teria sido montada. O perito Ricardo Molina
contrapõe: “Isso não fazia sentido, pois as gravações eram de áudio e
vídeo. A única montagem possível seria uma dublagem, algo inviável em
uma gravação de longa duração”.
Ricardo Molina sublinha que “o setor se queixava da política de preços
dos frigoríficos e a confissão de cartel explicava a situação do
mercado, muitíssimo desfavorável aos pecuaristas. O fato é que, depois
do empurrãozinho do BNDES, o grupo JBS, hoje presidido por Joesley, se
tornou um gigante no mercado brasileiro, ampliando sua área de atuação”.
(Na foto: Joesley Batista, Júnior Friboi e Wesley Batista: irmãos que comandaram o JBS-Friboi. O segundo saiu do negócio)
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Leia também: JBS, uma das 'empresas campeãs', é obrigada pela Justiça a cumprir legislação trabalhista
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