Sexta, 16 de dezembro de 2016
Da Tribuna da Imprensa Sindical
JOSÉ CARLOS DE ASSIS
Como a natureza profunda de nossa crise é econômica, conhecer o básico de economia é fundamental para enfrentá-la. Entretanto, a maioria de deputados e senadores nada sabe de economia. E também nada sabe de economia a maior parte de seus assessores. Foi por absoluta ignorância em economia que muitos senadores votaram a favor da PEC-55, a PEC da Morte. Eles foram no canto de sereia de um corrupto de carteirinha, como Henrique Meirelles, no embalo de suas afirmativas de que o Brasil está quebrado e o setor público, inchado, tem que ser reduzido ao Estado mínimo.
É verdade que também Meirelles nada entende de economia. Ele entende de agiotagem e manipulação financeira. Para isso não é preciso saber economia da mesma forma que não é preciso ser arquiteto para assaltar um banco. Contudo, como não podemos ter um Congresso só de economistas, ou de médicos, ou de engenheiros, o jogo político de alianças em torno de interesses, alguns legítimos, é que acaba conduzindo todo mundo. Com base nesse jogo se organiza a situação e a oposição, e aqueles que não são especialistas nas áreas em discussão votam segundo seu líder, não com base em conhecimentos.
O problema do governo Temer é que as lideranças no Senado e na Câmara foram entregues a bandidos. Romero Jucá, o líder no Senado, vendeu medidas provisórias. Isso significa corrupção no nível da lei geral, algo abominável numa democracia. Foi seguindo a orientação de líderes desse tipo que muitos senadores votaram a favor da PEC-55. Renan Calheiros, o presidente do Senado e do Congresso, o parlamentar que define a agenda da casa, responde a 13 processos por suspeita de corrupção, alguns na Lava Jato. Na Câmara, o presidente Rodrigo Maia é outro implicado nas denúncias.
Portanto, se tivermos que limpar a cúpula política da República, a primeira providência é que esses suspeitos – sim, porque não foram condenados ainda – sejam afastados e submetidos a processos exemplares, porém seguindo o curso correto do devido processo legal e da presunção da inocência. Nesse caso, eles ajudariam muito se renunciassem logo a seus cargos, e eventualmente a seus mandatos, como é o caso também do Temer. Dessa forma, se ao final se verificar sua culpa, preservariam ao menos um pouco de sua dignidade. E possibilitariam a busca imediata de uma solução política para a crise, que conduza a uma solução também da crise econômica e social.
Em qualquer caso, porém, é essencial que o povo na rua mostre sua força regeneradora. Nenhum dos poderes, já que todos se derreteram na corrupção, tem condições morais de conduzir um processo de regeneração sem uma limpeza interna. É em razão disso que devemos buscar justiça política a partir da mobilização de massa, que se espera acontecer em larga escala neste fim de semana sob convocação, entre outras entidades, do Movimento Brasil Agora.