Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Udenismo fora de tempo — A política não coetânea

Segunda, 23 de julho de 2018
Por
Pedro Augusto Pinho

Os antecedentes da campanha eleitoral, sob a ditadura do poder judiciário, representando interesses estrangeiros no Brasil, não prenunciam o debate sobre o que seria a mais relevante questão de nosso momento histórico: a refundação do Estado Nacional, dotando-lhe de soberania e justiça social.

A questão moral, confirmando a permanência pré-renascentista de nossa pedagogia colonizadora, se sobressai sobre a importância da questão nacional, oculta neste véu do desmanche nacional que é a Operação Lava Jato.

Ingmar Bergman, o estupendo cineasta sueco, coloca num personagem de seu filme a frase que nunca me saiu da memória: o mundo está perdido e eu cuido do meu jardim.
Nada evidencia melhor a alienação do nosso tempo, da nossa miséria, da inadequação aos verdadeiros problemas nacionais do que esta única, nem mesmo relevante questão, a da moralidade pessoal.

O “candidato honesto” chega a ser uma piada de péssimo gosto quando se refere aos vendilhões da Pátria, aos que estão fatiando a Petrobrás, uma conquista de capacitação científica e tecnológica, operacional e gerencial, que seria, não fôssemos uma colônia ideológica, motivo de orgulho nacional, exemplo da capacidade do brasileiro. E ela hoje se reparte em controles estadunidenses, noruegueses, chineses, de quem venha com mínima gorjeta, desde que não seja brasileiro. É este o candidato honesto?

Criminaliza-se um partido, na verdade todos os partidos políticos que, timidamente, insinuam defender alguma reminiscência do Estado Nacional.

O que é a Operação (nome perfeitamente adequado, como Operação Tempestade no Deserto, para destruir o Iraque, Operação Ajax, para destituir Mossadegh, no Irã, Operação Condor, para assassinar lideranças nacionalistas sulamericanas, etc, etc, etc) Lava Jato?

Urdida pelos interesses do sistema financeiro internacional, da banca como o denomino abreviadamente, nos subterrâneos de órgãos da estrutura dos Estados Unidos da América (EUA), a Lava Jato objetiva regredir um século de desenvolvimento econômico e social brasileiro em 100 meses.

Não saberia, ainda, dizer quando começou sua gestação. Mas a descoberta do pré-sal disponibilizou dinheiro e capacidades para estruturá-la, arrebanhar recursos financeiros, humanos, materiais, institucionais para que fosse poderosa, tivesse êxito.
O que é o pré-sal? É o resultado de um programa que a Petrobrás adotou, diferente das petroleiras internacionais, especialmente as angloamericanas.

O esgotamento das reservas de petróleo é uma realidade. Denomina-se reserva a quantidade de petróleo existente em subsuperfície. Trata-se de bem finito que não se repõe. Produzido, não mais existe. E, adicionalmente, a cada descoberta, menos petróleo poderá ser encontrado.

Existem técnicas de extração para obter maior quantidade de petróleo dos reservatórios, mas elas também tem limites. Se o caro leitor se interessar, observe as reservas da Arábia Saudita, ao longo do tempo. Esta prolífica área, direta ou indiretamente, sempre esteve sob controle dos Estados Unidos da América (EUA).

De início as descobertas faziam aumentar as reservas, as descobertas foram ficando mais raras. A produção ia reduzindo as reservas. Investe-se em técnicas que permitem aumentar o petróleo que pode ser produzido, chama-se método  de recuperação. Há um equilíbrio entre os custos desta recuperações e os volumes e preços do óleo que será adicionalmente produzido. Os relatórios de reservas da Arábia Saudita vão demonstrando isso. Chega, enfim, a um patamar que não se agrega mais petróleo às reservas.

Por outro lado existem as fronteiras exploratórias. As possibilidades técnicas de se aumentar o conhecimento da geologia e os custos para descobrir um petróleo que estará em locais/condições de produção cada vez mais difíceis e onerosas.

As petroleiras estrangeiras deixaram de investir nesta busca. Imaginaram se apropriar do petróleo das estatais, hoje majoritárias detentoras de reservas.

A Petrobrás não deixou de investir em conhecimento científico, tecnológico, capacitação operacional. O resultado veio a ser o pré-sal, uma província petrolífera com volumes que podem transformá-la numa Arábia Saudita.

Foi contra este petróleo que se organizou a Operação Lava Jato.

Mas toda mídia apadrinhou-a como a luta eficaz contra a corrupção. Meu Deus! Os brasileiros são tão pobres de espírito? Tão crédulos que acreditam no boi voador?

Sim. A corrupção não foi maior nem menor da que ocorre na Noruega, nos EUA, na França, que ocorreu durante os governos militares, talvez um pouco menor apenas da que aconteceu no governo Menem, na Argentina, e FHC, no Brasil.

O Estado não foi mais nem menos aparelhado do que, em qualquer época de nossa história, pelas forças ocupantes do poder.

A Lava Jato é uma farsa. O triplex do Guarujá um apartamento classe média onde o rico e soberbo FHC jamais moraria. E nunca foi do Lula nem sofreu “obra suntuosa”.

E perdemos o petróleo descoberto pelos investimentos e pela competência dos brasileiros. Mas este será um tema no debate eleitoral?

Outra questão é a espionagem dos organismos estatais estadunidenses no Governo Brasileiro.

Escrevi, em 23/10/2015, o artigo que intitulei “Uma Fábula”. Nele, pela impossibilidade de revelar dados concretos, que implicariam um amigo, natural e residente nos EUA, tratava como fábula a chantagem que era feita com empresários e executivos da Petrobrás, para incriminar o Partido dos Trabalhadores (PT) e criar no povo a ideia de uma Petrobrás conduzida por corruptos, associando assim a empresa aos poucos maus empregados e diretores nomeados. Um passo para retirada do pré-sal do controle brasileiro.

Hoje já não é segredo a ação da National Security Agency (NSA) e da Central Intelligence Agency (CIA) espionando a Petrobrás, gravando conversas de seus executivos, diretores, funcionários, e da própria presidência da República.

Fica, então, uma questão que estes “bons cidadãos” não colocam: seriam estes órgãos estadunidenses tão incompetentes que não descobririam onde Lula guarda “sua fortuna”? Pois cheques, malas de dinheiros, sacos e mais sacos de notas em apartamento, contas bancárias aparecem incriminando tucanos e golpistas de várias plumagens. Mas do Lula, nada.

Mas qual surpresa, heróis da dignidade, se neste exato momento, os dignos magistrados, aqueles que mantém Lula preso, por folha suplementar, estão recebendo R$ 437.773,00, cada, por, pasmem, “auxílio moradia atrasado”.

O excelente analista econômico e articulista J. Carlos de Assis vem postulando que os parlamentares, que estão se despedindo do mandato, deem uma contribuição à Nação: aprovem um governo provisório de transição para que tenhamos eleições limpas e que retratem, sem a doutrinação excludente e antinacional da campanha do sistema Globo (metonímia que uso para as redes de televisão e rádio comerciais, privadas, oligopolistas), o desejo do povo brasileiro.

Se mantivermos esta justiça, este sistema de comunicação de massa e o dirigente político, favorito nas pesquisas eleitorais, preso, apenas estaremos prosseguindo na farsa Lava Jato, na ditadura do capital financeiro internacional (a banca) no Brasil.

Pátria Livre, Brasil Soberano e Cidadão.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado