Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Matam as mulheres no DF e o DESgoverno, cala.

Sexta, 6 de setembro de 2019
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Quem não sabe que o feminicídio é o assassinato de mulheres pela condição de ser do gênero feminino? O termo se refere a um crime de ódio, misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero relacionado a uma triste história de dominação da mulher pelo homem. Crime este, muitas vezes estipulado pela impunidade e indiferença da sociedade, do Estado e dos DESgovernos.
No Distrito Federal, dia após dia, matam mulheres em locais públicos e privados. Mesmo com avanços na nossa legislação, como a própria alteração do Código Penal Brasileiro com a lei nº 13.104/15, mais conhecida como Lei do Feminicídio, que incluiu como qualificador do crime de homicídio o feminicídio, ainda somos obrigadas a lidar com a culpabilização por parte das autoridades que deveriam nos proteger.
Fala sério, governador. Lembre-se que a impunidade é um dos efeitos mais graves das mortes das nossas mulheres. Lembre-se que quando o Estado e seus governantes não se responsabilizam, assumem um acordo silencioso de aceitação e cumplicidade com as violências doméstica e pública. Lembre-se, sobretudo, que cabe às instituições do Estado, sejam elas dos Poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário, proteger as mulheres e punir os agressores com respostas exemplares na ocorrência desses CRIMES BÁRBAROS.
Não podemos aceitar que os direitos das mulheres sejam arrancados com suas próprias vidas. Em pleno século XXI e na capital da República, não aceitaremos nenhum tipo de agressão, violência ou morte contra as mulheres, pois é inaceitável que continuemos a perdê-las para o descaso e a impunidade. Não é possível que a morte violenta das mulheres seja naturalizada. Precisamos tratar a violência e o feminicídio como barbárie, como situações incomuns, como expressões de práticas cruéis e, coibi-las com toda a força da lei.
Não podemos banalizar o que ocorre nas “praças públicas” do DF. Aqui, mulheres morrem barbaramente todos os dias. Na maioria dos casos, o episódio de violência fatal é precedido por violências anteriores que se perpetuaram até o assassinato e ninguém fez nada. Mais triste e agravante ainda, muitas dessas mortes poderiam ser evitadas se a violência contra nós não fosse banalizada e tolerada, principalmente pelo governo.
Lembre-se, a população elege seus governantes para elaborarem políticas públicas, ações estratégicas de inclusão e acolhimento em resposta às dores relacionadas aos processos de adoecimentos causados pela vida em sociedade e, inclusive, doenças causadas pela simples condição de ser mulher. Além de proteger e fazer cumprir a lei, um bom governo deve atuar com ações preventivas, voltadas à educação e à desconstrução da cultura de violência, principalmente quando inúmeras e vergonhosas vezes, esteja estampada em seu próprio discurso.
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Fátima Sousa
  • Paraibana, 57 anos de vida, 40 anos dedicados a saúde e a gestão pública
  • Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília
  • Enfermeira Sanitarista, Doutora em Ciências da Saúde, Mestre em Ciências Sociais
  • Doutora Honoris Causa
  • Implantou o ‘Saúde da Família’ no Brasil, depois do sucesso na Paraíba e em São Paulo capital
  • Implantou os Agentes Comunitários de Saúde
  • Dirigiu a Faculdade de Saúde da UnB: 5 cursos avaliados com nota máxima
  • Lutou pela criação do SUS na constituinte de 1988
  • Premiada pela Organização Panamericana de Saúde, pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde