Terça, 18 de 2012
Do TJDF
Delator do Mensalão do DEM faz revelações inéditas sobre apoio do PMDB ao Governo Arruda
Aconteceu nesta terça-feira, 18/9, audiência de Instrução
e Julgamento em mais um processo que apura participação de deputado
distrital no esquema conhecido como “Mensalão do DEM”, exposto pela
operação Caixa de Pandora da Polícia Federal. O juiz da 2ª Vara da
Fazenda Pública do DF inquiriu o réu Roney Tanios Nemer e ouviu novas
revelações de Durval Barbosa, delator do esquema corrupto.
Depoimento Roney Nemer:
Roney Nemer foi o primeiro a depor. Negou qualquer participação no
“mensalão” ou em qualquer esquema de recebimento de recursos ilícitos.
“Hoje é o meu grande momento: o momento que tenho para me defender. É
muito cruel você ser acusado de uma coisa da qual não participou. Eu e
minha família ficamos muito abalados,”afirmou.
O deputado relatou que foi eleito pela primeira vez em 2002 pelo
antigo PSD. Deixou o partido após ele se fundir ao PDT. Filiou-se então
ao PMDB. Foi reeleito em 2006 e 2010. Não apoiou o candidato José
Roberto Arruda ao pleito majoritário de 2006, pois apoiava a candidata
Maria de Lourdes Abadia.
No segundo semestre do governo, foi convidado pelo próprio Arruda a
compor a diretoria da Agência de Fiscalização – Agefis. Aceitou o
convite por ser fiscal de carreira e para atender antigas reivindicações
dos auditores fiscais de atividades urbanas do DF, que queriam mais
autonomia para coibir as invasões de áreas públicas. Passou a fazer
parte da base do governo depois que Tadeu Filippelli, líder do grupo do
PMDB ao qual pertencia, decidiu apoiar Arruda.
Afirmou conhecer José Geraldo Maciel, Durval Barbosa e Fábio Simão,
no entanto, as relações entre eles eram apenas protocolares. Sobre as
iniciais RNeH e RN, encontradas na lista do documento apreendido na casa
de Domingos Lamoglia e as quais Durval declarou se referirem a Roney
Nemer, o réu disse não reconhecer que elas se refiram a ele já que
podiam significar várias coisas. “Se contabilizaram dinheiro com o meu
nome foi sem minha autorização, pois nunca recebi qualquer quantia.”
Depoimento Durval Barbosa:
O depoimento de Durval Barbosa trouxe novas revelações em relação ao
apoio do PMDB ao governo Arruda. Quanto a Roney Nemer, Durval afirmou
ter ficado surpreso quando o nome do deputado foi citado por Geraldo
Maciel durante o diálogo gravado com autorização da Justiça. “Sempre
tive o Roney como um político sério, leal e muito religioso. Fiquei
surpreso com a participação dele.” Apesar dessa afirmativa, ratificou
que o Roney da gravação era o deputado distrital, que as iniciais do
documento apreendido na casa do Lamoglia se referiam a ele, e que os
valores mencionados na gravação (R$30 mil e R$11,5 mil) correspondiam à
mesada.
Segundo Durval, Roney Nemer passou a apoiar o governo de Arruda após
Fábio Simão cooptar Filippelli, a mando de Arruda, já que os dois não se
falavam. Quando Filippelli trouxe seu bloco para a base aliada, Arruda
passou a se vangloriar “aos quatro ventos”. Em reunião com a cúpula do
governo, com cerca de 100 participantes, afirmou que o apoio lhe custara
R$ 1 milhão de reais ao mês, mas que se Filippelli tivesse pedido o
dobro pagaria. Ainda segundo Durval, Arruda lhe confidenciara que o
dinheiro era distribuído por Filippelli e dividido com outros quatro
líderes do PMDB: "Michel Temer, Aluísio Alves e um tal “Cunha”, que não
recordo o prenome. Havia um quinto participante, mas já morreu”, falou
Durval.
Em relação às acusações do MPDFT ao distrital, Durval disse
desconhecer de quem Roney recebia a mesada (“podia ser de qualquer um
dos captadores já citados por mim”, afirmou). Também não soube informar o
período correspondente à mesada.
Ao finalizar a audiência, o juiz concedeu prazo de 15 dias ao MP a pedido do promotor. Retornando os autos, as partes deverão fazer as alegações finais.