Quinta, 26 de agosto de 2010
Por Ivan de Carvalho
No momento em que escrevia estas linhas, o presidente Lula e a candidata a presidente da República, Dilma Rousseff, preparavam-se para o comício da Praça Castro Alves, o que poderia ser o fato político mais importante no Brasil, ontem.
É que este é o primeiro comício da candidata junto com o presidente na Bahia, uma das principais unidades da Federação e também confirma, de maneira presencial, a posição de Lula de pedir votos para a reeleição do governador Jaques Wagner e para a eleição dos dois candidatos a senador da coligação liderada pelo PT, o petista Walter Pinheiro e a socialista Lídice da Mata.
Este seria um caminho natural se houvesse na Bahia uma coligação liderada pelo PMDB, principal aliado do PT no atual governo e na atual campanha eleitoral, que tem como candidato a governador o ex-ministro de Lula, Geddel Vieira Lima.
Havia duas presunções a respeito: 1) Dilma Rousseff teria dois palanques na Bahia e aos dois compareceria (ou comparecerá). Isto, aliás, não era apenas uma presunção, mas coisa certificada por declarações e atitudes dos principais envolvidos no assunto; 2) O presidente Lula manteria uma posição de neutralidade e possivelmente até nem participaria de comícios na Bahia. Caso viesse a participar, iria aos palanques de Wagner e de Geddel e pediria votos para Dilma, evitando, em nome da aliança tanto local quanto principalmente nacional com o PMDB, declarar preferência ou pedir votos para Wagner ou Geddel. Ou, em caso de necessidade, pediria para os dois – dizendo que apóia os dois – e deixando clara a exclusão de todos os demais candidatos, especialmente o que representa a coligação estadual liderada pelo Democratas. Também não pediria votos para senador, tendo em vista que só existem duas cadeiras em disputa e há três candidatos aliados dele – o senador César Borges, do PR, o petista Walter Pinheiro e a socialista Lídice da Mata. Ou então diria aos eleitores que, por ele, Lula, podem votar nos três, que a Bahia e o país estariam bem servidos.
Mas tudo isso foi quebrado com a vinda de Lula para, confirmando o que já gravou para a propaganda eleitoral gratuita, pedir votos para Wagner, Pinheiro e Lídice. Resta apenas a expectativa da presença de Dilma também no palanque do PMDB, mas sem Lula, pois como este já manifestou sua posição, não faria sentido sua presença no palanque da coligação liderada pelo PMDB.
Mas o fato político baiano foi posto em plano secundário ante o recrudescimento e ganho de densidade do escândalo da quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao principal candidato da oposição, José Serra. Verificou-se que, além de Eduardo Jorge, mais quatro pessoas ligadas ao candidato do PSDB a presidente tiveram seus sigilos fiscais acessados indevidamente. No caso de Eduardo Jorge, os dados resultantes da violação foram parar nas mãos de petistas e o candidato Serra está cobrando da candidata do PT, Dilma Rousseff, “uma explicação” ao país. A oposição está cobrando à Procuradoria Geral da República e até ao Supremo Tribunal Federal uma apuração e punição dos responsáveis pela violação, que afronta a Constituição. A OAB se pronunciou ontem no mesmo sentido. Dilma prometeu processos judiciais contra os que a acusam ou à sua campanha de responsabilidade no caso.
E foi assim que o comício da Bahia passou para o segundo plano.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.