Segunda, 23 de agosto de 2010
Por Ivan de Carvalho
Com a dianteira assumida nas pesquisas eleitorais pela candidata do governo e da coligação liderada pelo PT a presidente da República, o PMDB, principal aliado, tanto da base do governo quanto do PT na coligação, apressa-se a marcar a fatia do bolo que imagina comer no futuro a aparentemente provável governo de Dilma Rousseff.
A coisa mais essencial de todas é que o PMDB espera continuar sendo o maior partido no Congresso Nacional. Está certo de que terá a maior bancada no Senado, como já ocorre atualmente, e quase certo de que conseguirá também contar, como já ocorre, com a maior bancada na Câmara dos Deputados. Neste último objetivo, há uma certa ameaça do PT, mas os peemedebistas confiam que, embora por uma diferença que poderá ser mínima, terão mesmo a maior bancada dentre todos os partidos.
Não é da lei – porque os presidentes do Senado e da Câmara são eleitos e qualquer senador ou deputado pode apresentar sua candidatura –, mas é da praxe, por todos admitida e reconhecida publicamente, que o partido que tenha a maior bancada numa Casa do Congresso indica o presidente dessa Casa.
Como o PMDB espera ter as maiores bancadas no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, espera “fazer” os presidentes das duas Casas que compõem o Legislativo federal. E faz saber – por enquanto, com porta-vozes no anonimato – que exercerá sua “prerrogativa” de indicar os presidentes das duas casas, estando fora de cogitação estabelecer, como ocorreu sob Lula, um rodízio com o PT na presidência da Câmara.
De agora em diante, rodízio no Congresso, se houver, só de pizza. O que, forçoso é admitir, parece bem provável, tendo em conta os precedentes. Além dos presidentes das duas Casas do Congresso, o PMDB conta ter, naturalmente que se Dilma Ducheff (esse lapso está me perseguindo, é Rousseff, gente) for eleita, o que nunca teve desde a primeira redemocratização, em 1945 – o vice-presidente da República, na pessoa de Michel Temer, presidente da Câmara e do próprio PMDB.
Outra coisa que o PMDB está avisando (o jornal O Estado de S. Paulo publicou matéria a respeito ontem) é que não aceitará mais ser “barriga de aluguel”. Explicando melhor: o presidente Lula quis nomear alguém indicado pelo governador fluminense Sérgio Cabral (do PMDB, por conveniência) para ministro da Saúde e então nomeou José Gomes Temporão, atribuindo o cargo à cota do PMDB, que como partido não foi ouvido nem cheirado a respeito, apenas “alugou a barriga” para Lula fazer o filho. Daí que o PMDB, ó...
Pois não aceitará mais isto. E avisa que o cenário, uma vez eleita Dilma, será radicalmente diferente do que havia no governo Lula. O PMDB não será um aliado “convidado” a participar do governo depois da eleição de Lula. Será também dono da casa, do governo que terá ajudado a eleger. E quer poder dividido “meio a meio”. Não sei como pode ser isso, se a Constituição só admite um presidente e só um (a) será eleito. Mas quer Henrique Meirelles na equipe econômica, ministérios com “porteira fechada” – antigamente, o nome era mais sutil, dizia-se “ministérios verticalizados” –, sua cota de cargos, inclusive de comando, nas estatais.
Aposto que o PT, se continuar na Presidência da República, vai fazer um esforço descomunal para que as coisas não aconteçam como quer o PMDB. Não é da natureza do PT conformar-se com o que o PMDB pretende.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.