Quinta, 26 de agosto de 2010
Por Ivan de Carvalho
Em debate, promovido pela Folha de S. Paulo e portal UOL, entre os candidatos a vice-presidente nas chapas de Dilma Rousseff, Marina Silva e José Serra, respectivamente o deputado peemedebista Michel Temer, o empresário Guilherme Leal e o deputado democrata Indio da Costa, este último fez uma provocação à candidata petista e governista.
Mas só por ter sido uma provocação não significa que não haja sido séria. Na verdade, foi séria e continua válida como elemento de avaliação de posições que a candidata petista não conseguiu ou não quis, até o momento, deixar claras para o eleitorado.
Ao referir-me à provocação de Indio da Costa, penso numa provocação bem específica: o deputado Indio da Costa disse que Dilma está fugindo tanto dos debates que deixou de comparecer a um deles, promovido pela TV católica, a Rede Vida, “para ir a um evento de rock”.
Claro que a candidata petista a presidente da República tem todo o direito a gostar de rock, como muita gente gosta, talvez até mesmo o candidato a vice Indio da Costa. Mas a questão não é esta e sim usar um evento de rock, coisa sem grande importância política na campanha (afinal, nenhum candidato a presidente manifestou-se nos recentemente completados 21 anos da morte do inesquecível roqueiro baiano Raul Seixas), como pretexto para não comparecer a um debate na rede de televisão da Igreja Católica.
Note-se – e isso foi destacado durante o debate dos candidatos a presidente na Rede Vida, tanto pela própria Marina Silva quanto por José Serra – que a ausência de Dilma, que, após certas hesitações, se declarou recentemente “cristã” e, numa espécie de segundo patamar, “católica”, foi tão mais estranha quanto esteve presente a evangélica Marina Silva.
Serra sempre teve uma ligação com a Igreja Católica, era de esperar que comparecesse. De Marina, formalmente podia-se duvidar, embora ela esteja pessoalmente bem mais afinada com as posições da Igreja Católica em alguns assuntos “quentes” do que pessoas que se afirmam católicas quando se deparam com uma eleição pela frente.
Mas essas coisas são da esfera da consciência e do livre arbítrio de cada um. O que se reclama é o direito dos eleitores conhecerem o que pensam os candidatos a respeito de certos assuntos de grande interesse público, alguns dos quais certamente poderiam ser postos com muita objetividade em um debate na rede de televisão da Igreja Católica. Isso interessaria aos eleitores católicos, com certeza, bem como a eleitores evangélicos, aos cristãos em geral, aos espíritas, a todos os espiritualistas e também aos ateus militantes ou aos simplesmente não-crentes.
Dentre todas as questões “quentes” que envolvem conceitos espirituais e que não podem deixar de ser de interesse objetivo dos eleitores que prezam esses conceitos, está a questão do aborto. O debate na Rede Vida seria o momento ideal para que o eleitorado conhecesse a posição de cada um dos três principais candidatos a presidente, já que questionamentos e esclarecimentos não foram feitos anteriormente, salvo no caso de Marina Silva. No mais, só há declarações genéricas, do tipo “sou a favor da vida” e “isso é assunto do Congresso, não tomarei a iniciativa”, como se presidente da República não influísse sobre o Congresso.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Mas só por ter sido uma provocação não significa que não haja sido séria. Na verdade, foi séria e continua válida como elemento de avaliação de posições que a candidata petista não conseguiu ou não quis, até o momento, deixar claras para o eleitorado.
Ao referir-me à provocação de Indio da Costa, penso numa provocação bem específica: o deputado Indio da Costa disse que Dilma está fugindo tanto dos debates que deixou de comparecer a um deles, promovido pela TV católica, a Rede Vida, “para ir a um evento de rock”.
Claro que a candidata petista a presidente da República tem todo o direito a gostar de rock, como muita gente gosta, talvez até mesmo o candidato a vice Indio da Costa. Mas a questão não é esta e sim usar um evento de rock, coisa sem grande importância política na campanha (afinal, nenhum candidato a presidente manifestou-se nos recentemente completados 21 anos da morte do inesquecível roqueiro baiano Raul Seixas), como pretexto para não comparecer a um debate na rede de televisão da Igreja Católica.
Note-se – e isso foi destacado durante o debate dos candidatos a presidente na Rede Vida, tanto pela própria Marina Silva quanto por José Serra – que a ausência de Dilma, que, após certas hesitações, se declarou recentemente “cristã” e, numa espécie de segundo patamar, “católica”, foi tão mais estranha quanto esteve presente a evangélica Marina Silva.
Serra sempre teve uma ligação com a Igreja Católica, era de esperar que comparecesse. De Marina, formalmente podia-se duvidar, embora ela esteja pessoalmente bem mais afinada com as posições da Igreja Católica em alguns assuntos “quentes” do que pessoas que se afirmam católicas quando se deparam com uma eleição pela frente.
Mas essas coisas são da esfera da consciência e do livre arbítrio de cada um. O que se reclama é o direito dos eleitores conhecerem o que pensam os candidatos a respeito de certos assuntos de grande interesse público, alguns dos quais certamente poderiam ser postos com muita objetividade em um debate na rede de televisão da Igreja Católica. Isso interessaria aos eleitores católicos, com certeza, bem como a eleitores evangélicos, aos cristãos em geral, aos espíritas, a todos os espiritualistas e também aos ateus militantes ou aos simplesmente não-crentes.
Dentre todas as questões “quentes” que envolvem conceitos espirituais e que não podem deixar de ser de interesse objetivo dos eleitores que prezam esses conceitos, está a questão do aborto. O debate na Rede Vida seria o momento ideal para que o eleitorado conhecesse a posição de cada um dos três principais candidatos a presidente, já que questionamentos e esclarecimentos não foram feitos anteriormente, salvo no caso de Marina Silva. No mais, só há declarações genéricas, do tipo “sou a favor da vida” e “isso é assunto do Congresso, não tomarei a iniciativa”, como se presidente da República não influísse sobre o Congresso.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.