Quarta, 18 de agosto de 2010
Por Ivan de Carvalho
Muito se tem falado nas pesquisas que procuram medir as intenções de voto nos candidatos a presidente da República e a governador, o que é natural, mas isso deixa numa zona de sombra os resultados dessas pesquisas em relação às duas cadeiras de senador disputadas este ano em cada unidade da Federação.
Talvez a disputa que envolve a composição do Senado Federal deva ser olhada com mais atenção pelo eleitorado, pela mídia e, enfim, por toda a sociedade. Os mais de sete anos e meio do governo Lula deram ao país uma idéia da importância dessa composição, melhor dizendo, da importância que o Senado teve e poderá continuar tendo.
O que se viu nos anos recentes é que o governo Lula dominou – graças ao fato de ser o governo, graças ao Mensalão e graças à partilha, agora insistentemente chamada de “loteamento” político-partidário da administração federal direta e indireta – amplamente a Câmara dos Deputados.
Seu domínio desta Casa do Congresso Nacional foi incontrastável e se tornou absoluto no segundo mandato, quando também a banda oposicionista do PMDB, sob a liderança do presidente nacional do partido, Michel Temer, tornou-se governista e passou a participar do governo. O PMDB do Senado já o fazia desde o primeiro mandato.
No cenário descrito, o Poder Executivo poderia fazer praticamente tudo e a única barreira que encontraria, eventualmente, seria o Supremo Tribunal Federal, ainda que este esteja quase totalmente composto, hoje, por ministros escolhidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aprovados pelo Senado.
No entanto, graças ao Senado e sua composição durante o atual governo, o presidente da República, apesar de sua imensa popularidade, não ficou totalmente livre para impor sua vontade ao país e o STF não foi obrigado a funcionar sempre como único dique a eventuais intenções inadequadas ou nocivas do Poder Executivo. Antes do STF, o Senado Federal ofereceu a primeira e eficaz resistência.
Em alguns casos – talvez o mais notório haja sido o da tentativa de impor a continuidade da CPMF, já aí em forma permanente e não mais supostamente “provisória” – mesmo o STF não teria condições de fazer o que o Senado fez. A proposta não era inconstitucional. A corte suprema não teria como derrubá-la.
Bem, duas pesquisas eleitorais foram recentemente feitas na Bahia, incluindo amostragem para as eleições dos dois senadores. O Vox Populi pesquisou de 7 a 10 de agosto. O Datafolha, de 9 a 12. Em ambas, César Borges, do PR e integrante da coligação liderada pelo PMDB, aparece com grande vantagem. Tem 35 por cento das intenções de voto no Vox Populi e 36 por cento no Datafolha (três pontos a mais que na sondagem anterior deste instituto).
As coisas complicam, e complicam feio, é quanto a quem estaria disputando a segunda cadeira de senador. Para o Datafolha, é a socialista Lídice da Mata, da coligação liderada pelo PT, com 20 por cento das intenções de voto, dois pontos a menos que na sondagem anterior do mesmo instituto. Em terceiro, em seus calcanhares, Walter Pinheiro, com 17 por cento – um ponto a menos que no Datafolha precedente.
Bruxaria: o Vox Populi, sob encomenda da TV Bandeirantes, coloca Pinheiro, do PT, em segundo lugar, com 27 por cento (dez pontos a mais do que ele obteve no Vox Populi) e aponta Lídice com 17 pontos percentuais – exatamente o que Pinheiro tinha no Datafolha.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
Talvez a disputa que envolve a composição do Senado Federal deva ser olhada com mais atenção pelo eleitorado, pela mídia e, enfim, por toda a sociedade. Os mais de sete anos e meio do governo Lula deram ao país uma idéia da importância dessa composição, melhor dizendo, da importância que o Senado teve e poderá continuar tendo.
O que se viu nos anos recentes é que o governo Lula dominou – graças ao fato de ser o governo, graças ao Mensalão e graças à partilha, agora insistentemente chamada de “loteamento” político-partidário da administração federal direta e indireta – amplamente a Câmara dos Deputados.
Seu domínio desta Casa do Congresso Nacional foi incontrastável e se tornou absoluto no segundo mandato, quando também a banda oposicionista do PMDB, sob a liderança do presidente nacional do partido, Michel Temer, tornou-se governista e passou a participar do governo. O PMDB do Senado já o fazia desde o primeiro mandato.
No cenário descrito, o Poder Executivo poderia fazer praticamente tudo e a única barreira que encontraria, eventualmente, seria o Supremo Tribunal Federal, ainda que este esteja quase totalmente composto, hoje, por ministros escolhidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aprovados pelo Senado.
No entanto, graças ao Senado e sua composição durante o atual governo, o presidente da República, apesar de sua imensa popularidade, não ficou totalmente livre para impor sua vontade ao país e o STF não foi obrigado a funcionar sempre como único dique a eventuais intenções inadequadas ou nocivas do Poder Executivo. Antes do STF, o Senado Federal ofereceu a primeira e eficaz resistência.
Em alguns casos – talvez o mais notório haja sido o da tentativa de impor a continuidade da CPMF, já aí em forma permanente e não mais supostamente “provisória” – mesmo o STF não teria condições de fazer o que o Senado fez. A proposta não era inconstitucional. A corte suprema não teria como derrubá-la.
Bem, duas pesquisas eleitorais foram recentemente feitas na Bahia, incluindo amostragem para as eleições dos dois senadores. O Vox Populi pesquisou de 7 a 10 de agosto. O Datafolha, de 9 a 12. Em ambas, César Borges, do PR e integrante da coligação liderada pelo PMDB, aparece com grande vantagem. Tem 35 por cento das intenções de voto no Vox Populi e 36 por cento no Datafolha (três pontos a mais que na sondagem anterior deste instituto).
As coisas complicam, e complicam feio, é quanto a quem estaria disputando a segunda cadeira de senador. Para o Datafolha, é a socialista Lídice da Mata, da coligação liderada pelo PT, com 20 por cento das intenções de voto, dois pontos a menos que na sondagem anterior do mesmo instituto. Em terceiro, em seus calcanhares, Walter Pinheiro, com 17 por cento – um ponto a menos que no Datafolha precedente.
Bruxaria: o Vox Populi, sob encomenda da TV Bandeirantes, coloca Pinheiro, do PT, em segundo lugar, com 27 por cento (dez pontos a mais do que ele obteve no Vox Populi) e aponta Lídice com 17 pontos percentuais – exatamente o que Pinheiro tinha no Datafolha.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.