Sábado, 9 de outubro de 2010
Por Ivan de Carvalho

Além das pessoas de maior destaque que seria lógico estarem lá, compareceu o prefeito de Salvador, João Henrique, que é do PMDB e estivera pouco antes em uma reunião semelhante promovida pela direção estadual do PMDB. O prefeito, que foi reeleito apesar de um inesperado enfrentamento com uma candidatura petista e em grande parte graças ao apoio que recebeu do PMDB e do então ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, hoje tem apenas relações “formais” com o ex-candidato a governador, segundo já esclareceu o próprio Geddel. Mas não pode sair do PMDB agora, por causa da fidelidade partidária, que lhe custaria o mandato.
A movimentação do que se poderia chamar de primeiro efetivo dia da campanha do primeiro turno na Bahia – coincidindo com o início da propaganda eleitoral gratuita na televisão e no rádio – envolveu mais dois eventos importantes. Um deles, a visita do candidato da oposição, José Serra, a Vitória da Conquista, importante município baiano no qual derrotou a petista Dilma Rousseff no primeiro turno.
Ali, esteve acompanhado das principais lideranças do Democratas e do PSDB da Bahia, bem como recebeu apoio da direção local do PMDB, ainda inconformada com a atitude da candidata Dilma Rousseff de romper o acordo dos dois palanques na Bahia e estimulada por uma disputa tradicional com o PT local.
Mas o terceiro evento de ontem no estado foi justamente a reconciliação (sem beijos e abraços, nem tapas, mas admitindo um ou outro beliscão) do PMDB e do PR, em nível estadual, com a candidatura de Dilma. Não que tenha havido rompimento para efeito do primeiro turno, mas porque a irritação e a mágoa são profundas.
Mas o apoio do PMDB e do PR na campanha de Dilma no segundo turno (quando Dilma excluiu o candidato a governador Geddel e o senador candidato à reeleição César Borges, declarando apoio exclusivo a Jaques Wagner, ela ainda estava convicta de que teria vitória ampla no primeiro turno e não precisava dos votos do PMDB e do PR baianos) era inevitável.
O PMDB e o PR estão coligados nacionalmente ao PT, dando sustentação à candidatura de Dilma Rousseff. Ademais, o presidente do PMDB, Michel Temer, é o companheiro de chapa de Dilma. Isto eliminava qualquer alternativa para o PMDB baiano. Quanto ao PR, a direção nacional do partido é governista e apóia Dilma. Não aceitaria a rebelião da seção baiana. Então, depois de conversas de Geddel com Temer e César Borges com o ex-ministro Alfredo Nascimento, o evento de ontem em Salvador reafirmou o apoio dos dois à candidatura Dilma.
Geddel explicitou que o apoio do PMDB da Bahia “é independente do apoio do PT baiano” à candidata. O governador declarou que não vê problema em Geddel subir no palanque que o PT montar para Dilma. Mas, pelo que Geddel deixou implícito, isto não deve acontecer. E se Dilma julgar necessário subir em um palanque com Geddel na Bahia, será um palanque montado pelo PMDB. Foi, pelo menos, isto que eu entendi.
E, necessário ou não, acredito que ela não vai querer. O apoio do PMDB da Bahia à candidata petista é, digamos, apenas ético, sem nenhum entusiasmo. O PMDB da Bahia vai votar em Dilma “com o coração sangrando”, como disse ontem um prefeito, no evento.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista político baiano.